Jéssica Moás de Sá

O Ciclo da Vida

5 Ago 2019

Há poucos dias estreou, a nível mundial, o remake do filme O Rei Leão, que a muitos marcou por retratar, não só a triste morte de Mufasa, uma das personagens principais, mas também o “ciclo da vida”. A menção a este filme pode até parecer estranha, mas um olhar crítico pode permitir encontrar simetrias, não só com temas abordados nesta edição mas também com as rotinas de todos nós.
No filme, muitos são os detalhes que mostram a forma como a natureza se regenera, por si mesma ou por influência dos seres vivos que nela habitam. Os animais nascem, crescem, reproduzem-se e morrem. O ciclo é sempre igual e repetido. Ver O Rei Leão traz-nos a clara sensação de que mais não somos do que apenas uma peça pequena de um grande puzzle, e que mesmo que as peças possam ser substituidas, a imagem final será a mesma.
Nesta edição d’O Portomosense damos destaque a dois projetos, um com crianças e outro com jovens, o Brincar na Rua e o Move. O primeiro tem como objetivo trazer de volta as crianças à rua, não apenas para brincarem, mas também para se deixarem inspirar pelo ar puro que lhes tem sido roubado pelas tecnologias, promovendo também a sociabilização com os colegas. O segundo, um projeto de cariz internacional com parceria de uma associação com trabalho feito no concelho, a Vertigem, que incita os jovens ao voluntariado, tanto a nível ambiental como no apoio à comunidade, através de ações múltiplas. Há valores e convenções que se pretendem ver recuperados com estas duas iniciativas, valores e convenções essas que comummente se dizem extintas nas gerações atuais.
É aqui que entra o “ciclo da vida”. O ciclo em que de geração para geração, de pais para filhos, de avós (que nesta edição também estão em destaque devido à efeméride do Dia Mundial dos Avós) para netos, se continua a disseminar a mesma mensagem: “na minha geração não era assim”, sugerindo sempre que antigamente tudo era melhor. Será mesmo verdade que hoje as crianças não gostam de brincar na rua ou não lhes está a ser dado o gatilho para que lhes seja despertado esse gosto? Será que os jovens são hoje mais egocêntricos, centrados nas suas metas, ou por outro lado, estão atentos às necessidades e sensibilidades dos que os rodeiam? A Greta Thunberg, jovem sueca que tanto tem defendido as causas ambientais, é uma exceção ou representa uma preocupação transversal a toda a sua geração? Realmente antes “é que era bom” ou é a idade que nos traz uma visão priveligiada que a vida nos vai ensinando? Provavelmente as respostas a estas perguntas não são consensuais. Há uma construção simbólica de que, de geração para geração, haverá sempre algo a apontar aos mais novos e que se perpetuará no futuro.
Ainda que estas questões possam surgir, estes projetos são de todo importantes na construção do amanhã, porque criam pessoas relacionadas com a terra e com a comunidade. E se estas crianças e jovens representarem apenas uma parte reduzida, saberemos que pelo menos esta parte vai crescer alicerçada em boas práticas que irão ser transmitidas aos seus filhos e netos, no “ciclo da vida”.