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Santiago de Compostela: A bicicleta, o caminho e mais o quê?

9 Agosto 2019
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

9 Ago, 2019

A imagem que em «garoto» se foi construído na memória de Luís Rodrigues nas viagens com os pais até à praia, quando avistava os «turistas estrangeiros em bicicletas», perpetuou-se com o passar dos anos. Este «fascínio» que ainda hoje é uma «marca» na vida de Luís, residente no concelho de Porto de Mós, foi o impulso para que, anos mais tarde, quando voltou a andar de bicicleta, quisesse aventurar-se numa «viagem grande como os turistas» que relembrava frequentemente.

A escolha foi Santiago de Compostela, uma opção que está amplamente relacionada com «a fé e com a via espiritual», que em todos os momentos do caminho sentiu, desde a primeira viagem, em 2014. A mulher, Ana Moreira, foi a companheira da primeira peregrinação, embora se tenha juntado ao marido apenas em Valença do Minho, optando por fazer o caminho a pé. A companheira, «uma pessoa muito especial e proativa» aos olhos do marido, foi importante também na fase de preparação desta primeira grande aventura. Quando Luís mostrou vontade de pedalar até terras espanholas, Ana prontificou-se a comprar um livro que contava a experiência de duas pessoas através do chamado Caminho Central que parte de Lisboa. Este foi, por isso, o caminho escolhido para o “ano zero” de Luís Rodrigues no mundo da peregrinação.

Ano sim, ano sim

A partir daqui, Luís Rodrigues repetiu a experiência a cada ano, considerando-se «um viciado do Caminho». Há «qualquer coisa» que o «chama» a repetir a experiência, sem conseguir explicar «exatamente a razão» transcendente mas garante que quando regressa vem «de alma lavada». «Sete dias é o justo para poder aproveitar o Caminho», salienta. Este ano, no mês de junho, a viagem foi também feita em sete dias, mas de uma forma diferente: em grupo.

Depois de se apaixonar por esta experiência, Luís sentiu que tinha que o «proporcionar a outras pessoas». Começou por convidar amigos, mas nunca sentiu grande recetividade. Quem dizia ter vontade de fazer o Caminho «acabava por adiar por razões de ordem pessoal», explica. Foi aqui que o peregrino decidiu expandir este convite, numa página de internet, onde partilhava as memórias que ia construindo. Este ano, conseguiu finalmente juntar um grupo de quatro pessoas para partirem com ele nesta aventura. Na opinião do mentor desta viagem, este foi um «grupo fantástico» e duvida que alguma vez consiga outro «tão bom, coeso e calmo».

Antes de partirem, os “ciclistas” foram alvo de um «teste». Luís Rodrigues juntou o grupo, «que não se conhecia entre si», para perceber como «pedalavam juntos». Foram feitos vários treinos, sendo que o primeiro de todos correspondeu «a parte da primeira etapa», entre Alcaria e Ansião. Foi também aqui que Luís partilhou um pouco da sua experiência, explicando várias «circunstâncias do Caminho», dando conselhos e estabelecendo regras, para que depois fosse mais fácil um entrosamento, que se veio a revelar «positivo».

Motivações individuais

Adolfo Montez, Pedro Carreira, Nádia Silva e Jair Barreto, são estes os nomes de quem este ano, se deixou levar pelo repto lançado por Luís Rodrigues e partiu em descoberta do Caminho de Santiago.

Residente na Marinha da Mendiga, Adolfo Montez é repetente nestas andanças, uma vez que já tinha feito o Caminho com colegas. No ano passado, mostrou interesse em fazê-lo com Luís Rodrigues, mas acabou por não conseguir ir. Ficou a promessa de que, se este ano Luís organizasse esta experiência, a integraria. Para Adolfo Montez, «a principal motivação» foi «a procura de novos desafios de forma a fugir à rotina do dia-a-dia», aliando isso ao gosto «pelas bicicletas e pelo BTT». A componente religiosa não foi um estimulo no caso de Adolfo, que reconhece, no entanto, que «uma viagem destas ajuda sempre à reflexão interior».

Pedro Carreira, natural de Porto de Mós mas que reside em Lisboa, é o elemento mais velho do grupo, que apesar «de já estar em idade de reforma é um jovem», salienta Luís Rodrigues. São os dois «companheiros de bicicleta» há vários anos e Luís sempre incentivou Pedro a ir com ele nesta viagem. Este foi o ano. Pedro Carreira partiu de Viana de Castelo, fazendo apenas três dias de viagem, num desafio feito sobretudo pela parte «desportiva, de aventura e camaradagem», explica o próprio. Foi também «um teste e auto-avaliação» à sua condição física. Durante o caminho, apesar de não ser esse o seu foco, não ficou indiferente «à religiosidade de tanta gente».

Nádia Silva «foi o elemento feminino» da equipa, que Luís Rodrigues considera que «devia existir em qualquer uma», por acreditar que «muda a dinâmica do grupo e faz falta». Nádia vive em Santarém e teve conhecimento que Luís estava a organizar o evento através do Facebook. Também ela fez o Caminho pelo «interesse desportivo», até porque habitualmente já participa «em provas», conta. A “peregrina” achou «espetacular», tanto o caminho como o grupo «fantástico» com quem partilhou a experiência.

A completar o grupo está Jair Barreto, com origens no Brasil mas que há vários anos reside em Leiria e tem já nacionalidade portuguesa. A motivação para o Caminho começou há três anos, quando a mulher «teve um problema sério de saúde» e por ser um homem de «muita fé» prometeu fazer o Caminho. Jair só este ano conseguiu cumprir a promessa e, felizmente, já com o problema de saúde da mulher «ultrapassado». Considerou a experiência «uma maravilha», sobretudo «pelo grupo».

Neste grupo, à exceção de Luís Rodrigues e Jair Barreto, a parte espiritual não foi o incentivo, embora se tenha revelado, para todos, em pequenos aspetos da viagem. O grupo esteve “24 sobre 24 horas junto”, nos albergues onde pernoitava, nas refeições que partilhava e na estrada. Todos consideraram «o grupo ideal» para esta experiência que querem repetir. O “mentor” do grupo, Luís Rodrigues salienta mesmo: «Cada vez tenho mais vontade de fazer o Caminho e menos pressa de chegar».

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