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1000… aos olhos de quem “comandou” e “comanda” o jornal

16 Julho 2023
Jéssica Moás de Sá

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Jéssica Moás de Sá

16 Jul, 2023

Não foi “num piscar de olhos”, nem sem “dar conta”, que se chegou ao número mil. Foi depois de muitas horas, muitas frases começadas e recomeçadas, depois de “discussões” sobre os melhores ângulos para abordar determinados assuntos. Foi depois de muitas fotografias tiradas, ao longo de muitos anos e de muito trabalho. Não se chega à edição mil sem ter trilhado muito caminho e, acima de tudo, sem as pessoas. É sobre a visão de duas que fizeram e fazem parte d’O Portomosense que este texto é, mas poderiam ser outras, muitas outras, todas quantas fizeram parte destas mil edições.

A primeira mulher diretora

Catarina Correia Martins – é este o nome da primeira diretora mulher d’O Portomosense – que «se não for por mais nada, ficará na história [do jornal] por isto mesmo». «Numa altura em que dizemos que “as mulheres são iguais aos homens e não queremos distinções”, confesso que me deixa feliz, até porque todos gostamos de sentir que deixámos a nossa marca», frisou a antiga diretora que ocupou o cargo entre janeiro de 2022 e maio de 2023. Ainda assim, ressalva, nunca sentiu que a escolha da administração tivesse o intuito de preencher “quotas” ou marcar posição na luta pela igualdade, mas foi sim uma questão de meritocracia. «Ser mulher não teve peso nenhum na decisão e acho que para a equipa não teve qualquer influência», acredita.

E no mundo exterior, o jornalismo é (ainda) um mundo avesso ao feminino? «Comigo nunca senti qualquer tipo de preconceito, mas lembro-me de uma situação em específico em que uma funcionária foi para a rua entrevistar e ouviu alguns comentários brejeiros, que até poderiam ter sido feitos a um homem, mas talvez num tom de companheirismo e não de provocação», salienta. «Por mero acaso, também nunca fiz trabalhos sobre temas onde os homens ainda dominam, como futebol ou mecânica, por isso posso ter escapado a esses comentários, porque sei que esse preconceito existe, mas também acho que não é norma», diz.

Apesar de ter “abraçado como casa” Porto de Mós, a sua casa de verdade estava a mais de 100 quilómetros, mais precisamente em Cioga do Monte (concelho de Coimbra) de onde é natural e foi até para voltar às suas origens que deixou de fazer parte do projeto O Portomosense. No entanto, enquanto por cá esteve deixou-se enamorar «pela serra» que, considera, «linda, linda», assim como pelas suas gentes. «Porto de Mós é muito bonito e um sítio onde é agradável estar, não é uma cidade, onde há muita confusão, mas também não é um meio demasiado pequeno onde não se consegue orientar a vida». Ser diretora de um jornal que não é da sua terra teve aspetos bons e maus. Se por um lado teve de «palmilhar muito» para a conhecer – atreve-se hoje a dizer que conhece «melhor Porto de Mós do que Coimbra» – por outro também escapou, acredita, «a confrontos a toda a hora sobre o que saiu no jornal». «As pessoas não me conhecendo, não sabendo que sou filha de “beltrano ou sicrano”, não tendo outro contacto comigo, não tinham à vontade para me dizer alguma coisa», considera. Assim, porém, também podiam não lhe chegar «histórias interessantes» e a sua «rede de contactos» era menor.

Catarina Correia Martins soube bem da “missão” que tinha em mãos e da importância que têm «os jornais locais» e por isso, também, da importância de chegar à edição mil. «Os jornais locais/regionais têm que se agarrar àquilo que têm que os distingue dos demais que é a informação de proximidade. Há coisas que O Portomosense publica que mais nenhum órgão de comunicação social publica», referiu. Aquando do início da comemoração dos 40 anos do jornal, Catarina Correia Martins dirigia o jornal e foi sob o mote 40 anos a escrever a história de Porto de Mós que se comemourou, algo que reitera: «Acredito mesmo nisto, acredito que o jornal ajuda a escrever a história de Porto de Mós, tal como os outros ajudam a escrever a história das outras terras, essa é a principal função dos jornais locais, noticiar o que nenhum outro noticia». «Depois de estar aí [no jornal] percebi o quão espetacular é trabalhar num projeto mais pequeno, na medida em que se sabe exatamente para quem estamos a falar», concluiu.

Contar a história da própria terra

Se Catarina Correia Martins tem morada a mais de 100 quilómetros, Luís Vieira Cruz é portomosense “de gema”. Não precisou de “abraçar” Porto de Mós como sua casa (é natural do Juncal), mas “abraçou” O Portomosense desde maio deste ano, momento em que se tornou diretor deste quinzenário. Se a oportunidade de ser diretor, de um jornal que «desde muito novo» se lembra de folhear é, por si só, entusiasmante, estar presente na edição 1000 traz um simbolismo maior. «Chegar às 1000 edições é sempre um marco muito especial para qualquer jornal e sinto que todos aqueles que fizeram e fazem parte desta estrutura podem estar orgulhosos. São já quatro décadas a escrever sobre Porto de Mós, quatro décadas a levar informação a todos os cantos do concelho de forma ininterrupta e acredito que a milésima edição pode considerar-se um prémio merecido pela qualidade de jornalismo que fazemos», refere.

Se em pequeno estava do “lado de lá”, receber o convite para estar “por cá” foi também encarado com espírito de missão de «dar voz às gentes» do concelho. E se, por um lado, isso é um «orgulho especial», por outro, leva a que esteja em constante escrutínio. «Não posso deixar de salientar que um dos aspetos mais desafiantes é o facto de escrever sobre e para os nossos “vizinhos”», admite, lembrando que conhece muitas das pessoas sobre as quais o jornal escreve. Ainda assim, salienta: «Acredito que as últimas edições têm revelado aquilo que esta equipa – tão profissional, tão jovem e com tanta margem de progressão – valoriza. O nosso papel é informar com rigor. E quando é hora de informar, não olhamos a “quem”».

O atual diretor sublinha também que num mundo do jornalismo «muitas vezes» ingrato, só «projetos sólidos e muito bem orientados» conseguem atingir a marca das mil edições. «Jornais diários (que são cada vez menos) e semanais têm sempre mais probabilidades de atingir a edição 1000, mas meios quinzenais, como é o nosso caso, têm que ter uma base extremamente solidificada para lá chegarem. Foram precisos 40 anos», frisa.

Por acreditar que é um projeto que tem tido “ao volante” bons condutores, diz ter herdado «um projeto sólido e com uma história» que quer «preservar» e por isso as mudanças não se esperam de fundo. «Os nossos leitores podem esperar sim algumas mudanças a nível da digitalização d’O Portomosense e o aumento da nossa presença nas redes sociais. Este é o caminho mais viável para o jornalismo atualmente, mas nunca descuraremos a versão em papel», garante. É também «objetivo a promoção de uma (ainda) maior relação de proximidade com os leitores»: «Queremos dar a conhecer as suas histórias de vida, saber aquilo que os inquieta, aquilo que os leva às bancas para comprar o jornal… Enfim. Queremos que O Portomosense dê voz aos portomosenses».

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