19 de dezembro de 2024, o dia em que a freguesia de Pedreiras se tornou centenária

3 Janeiro 2025

Luís Vieira Cruz

A freguesia de Pedreiras atingiu no passado dia 19 de dezembro a importante marca de 100 anos de vida, tendo festejado esta data com uma série de iniciativas que reuniram nos mesmos espaços fregueses, poder local, movimento associativo, tecido empresarial e representantes de diversas entidades públicas ou privadas.

Acredita-se que as Pedreiras que hoje conhecemos tenham tido os seus primeiros “inquilinos” por volta do século XII, então com a chegada de pequenos grupos de pessoas que ali identificaram um extenso leque de oportunidades para se poderem dedicar à extração e transformação de matérias-primas como a pedra e o barro, ou ainda à exploração dos terrenos férteis que continuam a favorecer a prática da agricultura.

Esta terra de gentes trabalhadoras e orgulhosamente obstinadas conquistou após muita insistência o estatuto de freguesia em 19 de dezembro de 1924, então com a promulgação e publicação da lei 1702 por parte do Presidente da República Manuel Teixeira Gomes, que no seu Artigo 1.º estabelecia esta localidade como sede de freguesia, agregando-lhe os lugares de Casais das Simoas, Outeiros, Outeiro de S. Sebastião e Vales, Azóio, Barreira das Pedreiras, Cabeço, Cabeço do Roxo, Cardeira das Pedreiras, Carvalhal do Pé da Serra, Casal, Casal da Antónia, Casal de El-Rei, Casal da Fonte, Casal da Luísa, Casal da Nogueira, Cavadas, Cavadinha, Covão das Pedreiras, Dinez, Eiras das Pedreiras, Fragulhão, Marco Grande, Martinos, Moitalina, Oiteiro de Pedreiras, Olivais do Vale Travelho, Pé da Serra, Pedreiras, S. Sebastião das Pedreiras, Tremoceira, Vale Divinos, Vale Travelho, Vinhas Velhas, Casal Boieiro, Carvalhos, Catraia das Pedreiras, Feteira, Largo de S. Sebastião e Cruz da Légua.

100 anos mais tarde, viria a caber ao executivo liderado pelo presidente de Junta, Pedro Miguel Pragosa, a honrosa responsabilidade de organizar as comemorações desta efeméride. O plano era, e é, ambicioso: comemorar o centenário ao longo de um ano completo, entre os dias 19 de janeiro de 2024 e de 2025. Para tal, autarca e respetivo executivo nomearam uma comissão organizadora composta por nove elementos. Dela fazem parte os pedreirenses Ana Cordeiro, Armindo Vieira, Joaquim Cordeiro Santos, José Santo, Paulo Cordeiro, Paulo Gomes, Regina Vitório, Rogério Vieira e Teresa Vieira.

A primeira iniciativa pública desta equipa de trabalho foi a apresentação e entrega do selo comemorativo do centenário às forças vivas da freguesia e às que com ela colaboram presentemente. Estávamos em 19 de janeiro de 2024, em pleno Salão Paroquial, por ocasião das Festas em Honra de S. Sebastião. 

Desde esse dia, já foram promovidas ou integradas no programa oficial de comemoração do centenário mais de duas dezenas de iniciativas, espalhadas um pouco por toda a freguesia. Entre elas, a que maior destaque teve foi, sem dúvida, a efetiva celebração do dia de aniversário, no passado dia 19 de dezembro. 

Novo monumento carrega 100 anos de história

A agenda para o grande dia de centenário era, também ela, ousada, tendo tido iniciativas  direcionadas a toda a comunidade. Logo após uma protocolar receção às entidades convidadas na sede da Junta de Freguesia, Pedro Pragosa fez-se acompanhar do vice-presidente da Câmara Municipal de Porto de Mós, Eduardo Amaral, para, juntos, inaugurarem um monumento em pedra que carrega um século de história. Oferecido e trabalhado pela empresa local LSI Stone, trata-se de uma fiel reprodução de grande escala do selo do centenário. Nele é possível observar cinco elementos distintos: a bilha, a telha, a oliveira, as velas do moinho e a letra “P”. A bilha e a telha representam, por si só, a tradição do barro, da olaria e da cerâmica na freguesia; a oliveira, as gentes que se dedicaram (e as que ainda se dedicam) à agricultura; as velas do moinho, outra base de sustento da população ao longo dos anos; e, por fim, a letra “P”, inicial de “Pedreiras”, de “pedra”, de “passagem” (alusão à Estalagem da Malaposta e a quem cruza o IC2 e a EN8) e de “pessoas” (em referência aos seus habitantes). Refira-se ainda que esta é uma obra de arte mas também um memorial, constando no seu verso a gravação dos nomes dos 14 presidentes que ao longo desta faixa temporal serviram a Junta de Freguesia.

Centenas de peças, milhares de memórias. Tudo numa só exposição 

Seguiu-se a abertura oficial do espaço onde foi instalada a Exposição do Centenário, uma mostra que concentra artefactos reunidos na sequência de um apelo da própria Junta dirigido à população local. São centenas as peças expostas, desde fotografias, ferramentas agrícolas, instrumentos musicais, peças de vestuário, porcelanas, obras de arte ou até maquinaria antiga. A sua monta pecuniária será elevada, mas ainda mais é o valor patrimonial que as mesmas aportam, pelo que o espaço poderá ser visitado – sem qualquer custo associado – mas na companhia de um funcionário da Junta, até ao dia 19 deste mês de janeiro.

A componente religiosa também não poderia ficar de fora deste dia de aniversário. Foi então celebrada pelo Padre Rui Ruivo uma Missa Solene evocativa do centenário na Igreja Matriz das Pedreiras.

Um século em livro

Outro dos pontos altos da noite – e também aquele que mais aplausos recebeu por parte da plateia, que crescia a olhos vistos à medida que o programa ia avançando – foi o lançamento da obra Pedreiras, Um Século da História, da autoria do jornalista, historiador pedreirense e colaborador d’O Portomosense Armindo Vieira. A apresentação teve lugar no Salão Paroquial (assim como a restante cerimónia) e ficou a cargo de Adélio Amaro, diretor do jornal Gazeta Lusófona, dirigente do Centro do Património da Estremadura, presidente da associação cultural BiblioRuralis e amigo de longa data do autor. 

Este é um livro que, nas palavras de Armindo Vieira, «tem a particularidade de ser uma das [suas] contribuições para o centenário da Paróquia e da Freguesia» e que «é a continuidade dos outros [livros da sua autoria já lançados]», tendo o mesmo resultado de «muitas pesquisas em jornais antigos encontrados em formato digital, tanto no Arquivo Distrital de Leiria quanto no Arquivo Municipal de Porto de Mós, e ainda de algumas informações recolhidas através de amigos». «Estou em crer que haveria muitas mais coisas que não constam deste livro, umas por desconhecimento da sua existência, outras porque me chegaram já depois do livro estar entregue para acabamento. Sei também que esta pequena obra não estará ao agrado de todos, no entanto fiz o esforço para que agradasse», notou.

Esta obra financiada pela Câmara Municipal de Porto de Mós congrega ao longo das suas mais de 160 páginas temáticas relacionadas com o património, a paróquia, as associações, as personalidades e a freguesia das Pedreiras, assim como algumas curiosidades ou atividades que à mesma dizem diretamente respeito.

Noite marcada por chuva de homenagens

Apresentada a obra e terminada a sessão de autógrafos e distribuição gratuita de algumas centenas de exemplares, a plateia foi convidada a baixar ao restaurante do Salão para desfrutar de um lanche em comunidade oferecido pela Junta de Freguesia. Foi precisamente após esta pausa que começou o momento mais aguardado: o início da Gala de Homenagem a personalidades e entidades que deixaram a sua marca na história da freguesia.

Chamado a palco pela professora e apresentadora Paula Cordeiro, Pedro Pragosa conduziu o momento de consagração dos anteriores presidentes de Junta que serviram as Pedreiras, de seu nome Joaquim Pereira, José Pereira, Joaquim Augusto C. da Silva Marques, Alexandre do Nascimento, José Carreira Fino, Júlio Domingos Vieira, António Beato Júnior, Luís Santos Domingos, José Monteiro, Joaquim Luís Vieira Júnior, José Monteiro, José Silva Santo e António Rogério Oliveira Vieira. Pedro Miguel Muliano Pragosa, por ainda se encontrar em funções, foi agraciado com uma lembrança.

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Nesta senda de homenagens, foram distinguidas as empresas LSI Stone, Hi-Stone, CS Coelho da Silva e Vasicol; as olarias de José Alves dos Santos, Marco e Cláudio Santos (que dão continuidade ao legado do pai, Joaquim Santos) e João Fernando Coelho Santos; a Paróquia das Pedreiras e Armindo Vieira. Em jeito de agradecimento, foram também convidados a subir a palco os representantes dos Bombeiros de Porto de Mós, do posto territorial da GNR em Porto de Mós, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, do Centro Escolar, do Agrupamento de Escolas de Porto de Mós, da USF Novos Horizontes e do Instituto Educativo do Juncal.

Tomou em seguida da palavra Eduardo Amaral, que aproveitou a oportunidade para enaltecer os esforços conjuntos do executivo e da Comissão Organizadora em torno do programa do centenário e para considerar «esta data única como uma homenagem coletiva a empresários, dirigentes associativos e todos os que ajudam a construir a comunidade e que dão a cara e o corpo pela freguesia». O vice-presidente admitiu ainda olhar para as Pedreiras como «um dos grandes pontos de desenvolvimento e o motor do desenvolvimento do concelho, não só a nível industrial, mas também a nível de contribuição da sua própria comunidade», que amplamente elogiou.

Pedro Pragosa deixou palavras de gratidão aos seus antecessores

O último discurso estava guardado para Pedro Pragosa, que o alicerçou sobre duas palavras: reconhecimento e agradecimento: «Reconhecimento porque reconhecemos o que todos fizeram, tudo foi importante, e agradecimento por tudo aquilo que os ex-presidentes de Junta e ex-executivos fizeram». «Quis o destino que fosse eu o presidente no ano do centenário. Podia ter sido outro qualquer, porque certamente todos os presidentes de Junta que passaram fizeram o melhor que conseguiram, e hoje sou eu que cá estou a fazer o melhor possível, tal como estes 13 bravos presidentes fizeram», continuou. 

Por fim, justificou o critério com que foram selecionados os homenageados desta gala: «Que fique muito claro, hoje homenageamos todos os oleiros que deram nome nacional e internacional à nossa freguesia. Na impossibilidade de os termos cá a todos, que todos eles se sintam homenageados na pessoa destes três oleiros resilientes. Temos também na área da Pedra muitas empresas. Chamámos duas delas, as que se destacaram connosco na melhoria dos nossos serviços à comunidade, com ofertas, disponibilidade, com algumas soluções, conselhos, e isso ajuda a fazer a vida da nossa freguesia. Também neste setor peço compreensão, que possam perceber que seria difícil homenagear todas as empresas do setor, porque iria faltar-nos sempre alguém. Hoje foram estas, que nos ajudaram. Certamente amanhã outros nos poderão ajudar, porque as oportunidades e necessidades da Junta de Freguesia são muitas», realçou.

Nesta sua intervenção, Pedro Pragosa destacou ainda a importância do movimento associativo, fazendo questão de nomear as 19 coletividades atualmente ativas.

Também a presidente da Assembleia Municipal, Clarisse Louro, o vice-presidente da Câmara, Eduardo Amaral, e a vereadora Telma Cruz receberam em nome das entidades que representam um reconhecimento por parte da freguesia centenária. 

Os últimos agradecimentos foram dirigidos ao Rancho Folclórico das Pedreiras, ao Grupo de Cantares e ao músico Joel Madeira (que animaram o serão), aos funcionários e colaboradores da Junta, a Paula Cordeiro, aos elementos da Unidade Local de Proteção Civil e à comunidade em geral.

O programa deste dia deu-se por terminado após a exibição de um filme promocional às Pedreiras (oferta do Município) e ao tradicional corte do bolo. Contudo, as iniciativas promovidas pela Junta só terminam a 19 de janeiro, dia em que se dá por encerrada a Exposição do Centenário e em que terá lugar uma palestra dedicada aos setores da Pedra e do Barro, proferida pelo historiador e arquivista Kevin Carreira Soares.

Fotos | Luís Vieira Cruz

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