Início » 22.º Encontro Nacional de Tocadores de Concertinas da Barrenta voltou a atrair multidão

22.º Encontro Nacional de Tocadores de Concertinas da Barrenta voltou a atrair multidão

19 Outubro 2023
Isidro Bento

Texto

Partilhar

Isidro Bento

19 Out, 2023

Mais um ano, mais um mar de gente, mais um sucesso. Assim foi a 22.ª edição do Encontro Nacional de Tocadores de Concertina realizado na Barrenta, União de Freguesias de Alvados e Alcaria.

O texto jornalístico quer-se sóbrio e rigoroso, mas factos são factos, não há volta a dar. Quem passou pela Barrenta, decerto viu, como o jornalista, uma pequena aldeia inundada de forasteiros, milhares de pessoas concentradas em dois ou três espaços, mas também espraiadas pelos terrenos agrícolas nas imediações, transformados, alguns, em parques de estacionamento, outros, em porto de abrigo para quem pretendia fugir de um sol impiedoso com temperaturas superiores a 35º graus centígrados (à sombra, claro…).

Viu também o mar de gente, assim como os quase 40 vendedores ambulantes que no terreiro e nas ruas adjacentes montaram as suas bancas para vender desde artesanato a enchidos, passando pelas incontornáveis concertinas, doçaria, mel, e uma série de outros produtos que “casam” bem com aquele tipo de iniciativa. E se há pessoas que se deslocam de Torres Vedras, da Praia de Mira ou de Pombal para vir vender artesanato e chouriço, é porque o Encontro também a esse nível há muito galgou as fronteiras concelhias e os vendedores sabem que aqui encontram interessados.

O sucesso de um evento não se mede só pelo número de pessoas que atrai e pelos negócios que se vão fazendo à sua volta, falta falar do principal que, neste caso, volta a atingir dimensões impressionantes em termos de números. São mais de 500 os tocadores de concertina que nesse dia, em grupo ou a título individual, sobem a um dos dois palcos instalados no terreiro e animam a vasta plateia com a sua arte e a sua boa disposição. Nessa altura, a festa faz-se dentro e fora do palco. Uns tocam, alguns dançam, muitos, em pé ou sentados, assistem à performance dos outros dois. Metros atrás, o vasto espaço de esplanada encontra-se, invariavelmente, cheio. A oferta em termos de petiscos, salgados e doces, é grande e variada e convenhamos que assistir a um espetáculo que dura toda a tarde é sempre mais agradável se o pudermos fazer à sombra e, de preferência, com algo para “trincar” e uma bebida fresca na mão. Ali perto, junto à sede da entidade organizadora, o ambiente é também de alegria, boa disposição e muita música. Grupos que passaram pelo palco ou estão a aguardar a sua vez vão tocando, algumas vezes acompanhados por cantares ao desafio, e num instante, à sua volta, se forma um novo mar de gente e assim, com todos estes ingredientes, se faz e voltou a fazer este ano uma festa única, cuja “mística” só se consegue perceber bem quando motivados, por exemplo, por aquilo que lemos nos jornais e vemos nos programas televisivos, decidimos nós próprios ir até ao terreno tomar esse banho de multidão e deixar-nos envolver por tudo o que está à nossa volta.

Presidente do Centro Cultural da Barrenta afirma: “As altas temperaturas foram o grande desafio”

À conversa com o nosso jornal, Ricardo Pereira, o presidente do Centro Cultural da Barrenta, a entidade organizadora do Encontro Nacional de Tocadores de Concertina, faz um balanço de «grande êxito» desta 22.ª edição, apreciação que segundo ele assenta «nos comentários ouvidos no local a tocadores e público em geral e lidos em publicações na internet», bem como na sua própria perceção de tudo aquilo que foi acontecendo ao longo do dia. Embora reconheça que não há organizações perfeitas, o jovem mostra-se convicto que a vasta equipa, composta por cerca de 120 pessoas, cumpriu com êxito a missão que abraçou de forma voluntária e com o único propósito de que o evento corresse o melhor possível e todos saíssem satisfeitos.

O grande inimigo da edição deste ano foi o calor. As altas temperaturas não são propriamente uma novidade neste evento mas, este ano, fizeram “mossa”, reconhece o responsável. Houve várias pessoas assistidas no local pela equipa dos Bombeiros de Mira de Aire e à frente do palco a multidão habitual resumiu-se a algumas dezenas de pessoas (mesmo assim um número significativo face ao calor que se fazia sentir) porque as outras procuraram refúgio em todas as sombras existentes nas imediações e de onde pudessem assistir às atuações. Manter frescos alimentos e bebidas foi o grande desafio da organização, mas porque nem tudo é mau, a boa notícia do excesso de calor é que, «nunca como antes, os vários bares instalados pelo recinto faturaram tanto».

Ricardo Pereira realça também outro fator que, no seu entender, é bastante positivo: «Este ano tivemos quatro ou cinco grupos novos e voltámos a ter, por exemplo, um autocarro vindo de Monchique, Algarve. Parecem-nos dois sinais de que o Encontro continua a atrair pessoas que nunca cá tinham estado e grupos e público fiel, que, ano após ano, vêm de muito longe».

Além dos voluntários anónimos, o dirigente associativo realça e mostra-se grato pela colaboração ativa no evento das várias entidades públicas, autarquias e associações, que contribuem para que milhares de pessoas se sintam bem e em segurança e prometam voltar ano após ano.

Olhando para o evento, os meios humanos e materiais disponíveis e o “histórico”, Ricardo Pereira acredita que não há muito por onde “inventar”. Aliás, no seu entender, mais vale cumprir-se a regra futebolística de que “em equipa que ganha, não se mexe”. Neste caso, não se trata da equipa, mas do evento em si e, «se fora um ou outro pormenor que pode ser sempre melhorado, as coisas têm corrido bem, então, será melhor mesmo não pensar em mudanças de fundo», defende.

Dotar o espaço com mais sanitários e com melhores condições «é uma ambição e uma necessidade», reconhece, mas isso implica toda uma infraestrutura que ainda não existe e, por isso, a organização vai tentando fazer o melhor com aquilo que tem, afirma. Este ano, por exemplo, «o espaço dedicado a esplanada sofreu um aumento nos conjuntos de mesas, de 20 para 40, e a um reforço da equipa de limpeza».

Em discurso direto…

“Estamos a vender bolos de ferradura, bolos de batata doce com e sem frutos (nozes e passas). Estamos a vender bem, as pessoas já nos conhecem, já cá vimos há uns cinco anos. Este ano estávamos a pensar que não corresse tão bem como no ano passado porque parecia haver menos gente mas acabou por correr muito bem.
Só fazemos o Encontro de Concertinas, a Procissão dos Caracóis, no Reguengo Fetal e depois fazemos uma última em Vermoil, Pombal, no último fim de semana de outubro, a festa da Castanha”.

Inês Marques – Alqueidão da Serra

“Sou de Bragança e faço parte do grupo Amigos da Portela, de Santa Iria da Azóia, Sacavém. Todos os anos vimos cá. Isto é inesquecível, é um dia bem passado e toda a gente gosta, eu adoro. Somos muito bem recebidos e é também que nos traz cá. É o gosto pela música e pela diversão mas também pela maneira como somos recebidos.
Eu acho que está uma organização cada vez melhor. A nível de tempo está tudo muito bem controlado, não há abusos da parte de alguns grupos como havia e estou a gostar, cada vez está melhor”.

Henrique Silva – Santa Iria da Azóia

“Sou natural de Lisboa mas adoro o Minho porque acho que o folclore minhoto é fantástico e então entrei para o Grupo Folclórico Danças e Cantares Verde Minho, onde fui muito bem recebida. O grupo existe há 23 anos e está sediado em Loures mas representa o Alto Minho.
Já cá estive, pelo menos, mais duas vezes. Adoramos, adoramos, vimos muito felizes, é muito bom. Somos muito bem recebidos, não podia ser melhor”.

Zulmira Sequeira – Loures

“Faço parte do grupo de concertinas “Somos do Norte”. Já vimos à Barrenta há uns 13 ou 14 anos. Gostamos muito, somos amigos dos amigos das Concertinas da Barrenta e do Ricardo [Pereira]. Vimos cá todos os anos. Fazemos sempre o nosso petisco, almoçamos aí com eles. O nosso petisco é feito com coisas tradicionais daqui, compramos o queijo, compramos o chouriço, compramos o pão, compramos tudo aqui para ajudar e depois juntamos os elementos do grupo e comemos. Este ano só viemos 15, no ano passado foram 22.
Este encontro é espetacular, é dos melhores. As pessoas são espetaculares, tratam-nos muito bem e está tudo muito bem organizado. Parabéns ao Ricardo e a todos os amigos da Barrenta.
Este ano está muito calor mas nós trouxemos tudo para fazer a festa aqui à sombra e ficarmos aqui até ao fim”.

João da Mota – Vila Pouca de Aguiar

Tenho sete anos, na escola ando no segundo ano. Já toco concertina há um ano e também canto “Ó Linda”.

Tomás – Vila Pouca de Aguiar

Fotos| Isidro Bento

Assinaturas

Torne-se assinante do jornal da sua terra por apenas: Portugal 19€, Europa 34€, Resto do Mundo 39€

Primeira Página

Publicidade

Este espaço pode ser seu.
Publicidade 300px*600px
Half-Page

Em Destaque