Por acidente de percurso cabe-me, hoje, a mim preencher este espaço de opinião e, confesso, era algo que dispensava neste momento (enorme) que o país atravessa, ou seja, às portas de umas eleições autárquicas.
Quem me conhece sabe que não é do meu feitio nem da minha prática, escrever editoriais “fofinhos” ou onde partilhe reflexões mais ou menos profundas, mais ou menos bem escritas, sobre a minha vida pessoal, como vejo de vez em quando por aí. Sinceramente, não ponho em causa que a qualidade de escrita seja bastante melhor que a minha, já quanto ao interesse ou pertinência do conteúdo de tais escritos, volta e meia fico com sérias dúvidas.
O problema de dar mais importância ao conteúdo que à forma e de achar que há coisas que merecem ser ditas mesmo que, previsivelmente, venham a “trazer problemas” ou, pelo menos, a ser alvo de ferozes críticas, é esse mesmo. Seria muito mais fácil, cómodo e seguro optar pelas coisas “fofinhas” e onde pudesse dar largas a uma exemplar qualidade de escrita (que nunca me assistiu) mas para quê desperdiçar tempo e espaço quando se tem a hipótese de chamar a atenção para determinados problemas ou, pelo menos, desafiar os leitores e, eventualmente decisores políticos e autarcas, a refletir sobre determinadas situações e/ou temáticas?
Bem, depois deste longo intróito, a primeira reflexão que me apraz fazer nem chega a ser uma reflexão mas a constatação de um facto. Confesso que ainda não tive oportunidade de analisar, com tempo, as várias equipas autárquicas que as diversas forças partidárias e grupos de cidadãos vão apresentar a votos lá para meados de outubro, mas mesmo assim, acho que há já alguns pormenores que saltam à vista de qualquer um independentemente da sua preferência política ou “autárquica”.
Para uns, Porto de Mós já está no mapa, para outros já está, sim senhor, mas nem sempre pelas melhores razões, e para outros ainda, está, mas ainda não em áreas em que é fulcral estar. Mapas à parte, a verdade é que ninguém negará que o concelho não é uma ilha isolada ou um território cercado de altos muros ou intransponíveis serras, pelo que estando no mundo e no país sofre, naturalmente, as influências de um e de outro e comunga, como é óbvio, de algumas das suas realidades. Ora, olhando, para as listas e os nomes que irão concorrer aos diversos órgãos autárquicos constatamos que, infelizmente, a par de muita coisa boa (a maioria dela, sem dúvida…) encontramos também os pecados e pecadilhos que conhecemos bem da política nacional. São disso exemplo, algumas surpreendentes transferências do “mercado” político/autárquico, candidatos que, aparentemente, por orgulho ferido aparecem no seio de equipas onde nunca ninguém os imaginaria, pessoas que passaram anos em diferendo com as entidades que agora querem liderar, candidaturas que ninguém imaginava a nível local por nunca terem acontecido ou, sequer, sido sonhadas.
Enfim, temos de tudo um pouco. Repito, a larga maioria das candidaturas e dos candidatos obedecem ao padrão “habitual” e as excepções são isso mesmo, mas não deixam de nos mostrar que quando está em causa a conquista do poder, seja por mera ambição pessoal, seja com o desejo sincero de servir a comunidade ou outro motivo qualquer mais ou menos inconfessado, Porto de Mós está, definitivamente, no mapa ou, pelo menos, não podemos dizer que vivemos numa realidade à parte. O mundo é o que é, o ser humano igualmente, e é público e notório que o poder, de facto, tem essa capacidade de atração enorme. Todos se queixam de quão duro é, por vezes, ser autarca, “lidar com o povo”, mas a realidade é que são poucos os que tendo experimentado uma vez decidem não tentar repetir a dose uma e outra vez.
A reflexão já vai longa mas não resisto a partilhar outra constatação. Tendo em conta as tomadas de posição pública de alguns candidatos confirma-se também o cenário habitual: na ânsia ou na necessidade de dizer “presente”, há quem pareça, para já, não ter percebido qual é, afinal, a função do órgão autárquico a que se candidata. Será que o vai perceber até 12 de outubro e corrigir o discurso?…


