A dançar aprende-se sobre a inclusão

3 Janeiro 2025

O Portomosense

Dançando Crio um Mundo: Foi este o mote escolhido pela companhia de dança Dançando com a Diferença para dar corpo à iniciativa que vai trazer a Porto de Mós bailarinos com deficiência, com o intuito de mostrar que a dança e a arte podem e devem ser para todos. Esta é uma iniciativa trazida ao concelho pela coordenadora do Plano Intermunicipal das Artes, Dina Soares, que reconhece que Porto de Mós «encaixa-se perfeitamente» nesta ação. «Eu senti que o plano cultural do concelho tem muito a ver com esta iniciativa e tem muita preocupação com a inclusão», explica-nos a coordenadora, que faz de elo de ligação entre a Dançando com a Diferença e o Agrupamento de Escolas de Porto de Mós (AEPMOS). 

Incluir através da dança 

A companhia surgiu em 2001, na ilha da Madeira, através da visão de Henrique Amoedo, que reparou que no território insular «existia um trabalho muito específico», diferente daquele praticado em Portugal continental, mas «muito bem feito». «Os alunos não estavam integrados na escola, estavam integrados em instituições especificas para a área da deficiência, e era um trabalho muito sério de organização e atendimento dessas pessoas», conta a’O Portomosense. O diretor artístico, que está há 25 anos na direção desta companhia, tinha apenas a ideia de levar a dança inclusiva às instituições, «em grupos fechados» sem «relação com as pessoas sem deficiência», ao longo de um ano, mas a ideia acabou por evoluir. O projeto-piloto acabou por formar mais responsáveis nesta área e hoje é uma associação sem fins lucrativos que trabalha diariamente com 300 pessoas por todo o país e conta com cerca de 20 funcionários. «A ponta do iceberg – que eu costumo dizer que a associação é um iceberg –  é a companhia de dança, a nossa companhia profissional. Mas depois tem todo esse trabalho com as escolas, esse trabalho mais no âmbito educativo, que não aparece tanto», acrescenta Henrique Amoedo. A Dançando com a Diferença, que para além de ser uma companhia de dança profissional que já passou pelos palcos de vários países da Europa como França, Alemanha, Bélgica, e até mesmo fora do continente, como no Brasil, é também uma entidade que procura trabalhar a autonomia e a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade. «Uma coisa que não aparece nada e que é super importante é o desenvolvimento da autonomia das pessoas com deficiência, ou seja, aquelas coisas que para nós são super simples, como andar de autocarro, ou fazer comida ou um lanche em casa, são coisas que muitas vezes não são estimuladas nem são trabalhadas com as pessoas com deficiência», explica o diretor artístico. Estas competências são trabalhadas nos chamados grupos de iniciação, onde é dada a oportunidade às pessoas com deficiência de aprender a dançar e com isso trabalhar no «desenvolvimento da autonomia, pessoal e individual, e a capacidade de auto representação». «Eventualmente estas pessoas podem, ou não, chegar à companhia de dança. Isto porque a companhia é profissional e depois não é toda a gente que começou a dançar, que vai parar a uma companhia profissional», clarifica Henrique Amoedo. 

Da Madeira a Porto de Mós 

A coordenadora do Plano Intermunicipal das Artes, Dina Soares, foi quem tratou da logística e da organização deste projeto entre a companhia de dança e o AEPMOS. Apesar de apontar a falta de apoio do município, a responsável não deixou de querer trazer estes bailarinos ao concelho por considerar que, para crianças com necessidades específicas, Porto de Mós não recebe muitas atividades desta tipologia. 

A associação Dançando com a Diferença vai dinamizar três ações distintas. A primeira, com o nome de Coro de Mudança, vai reunir uma turma de 4.º ano do Centro Escolar – EB1 de Porto de Mós, desde segunda-feira (6 de janeiro) a quinta-feira (9 de janeiro), para trabalhar com dois bailarinos (um com deficiência e outro não). A ideia desta ação, conforme explica Henrique Amoedo, é «ter uma abordagem muito colaborativa», ou seja, «perceber o que é que os alunos querem» e em conjunto com eles desenvolver uma coreografia que depois será apresentada às famílias e à comunidade escolar. 

A 1=1, segunda ação que vai decorrer na próxima quarta-feira (8 de janeiro) e quinta-feira (9 de janeiro) na Escola Secundária de Porto de Mós, tem uma abordagem não tão abrangente e mais «cirúrgica». «O objetivo do 1=1 é romper com o padrão ensino/aprendizagem, e na realidade trabalhar numa perspetiva de desaprendizagem/aprendizagem. Ou seja, nós propomos exercícios onde as pessoas que estão a participar têm que desenvolver saídas ou respostas para exercícios, sempre corporais, daí quebrar esse binómio ensino/aprendizagem. Elas têm que trocar para conseguir resolver», refere o diretor artístico, que adianta que os oito alunos escolhidos irão trabalhar em duplas, sendo que em cada um destes pares deverá haver uma pessoa com deficiência. 

A última ação da companhia, que vai decorrer na Casa da Cultura em Mira de Aire, tem o título Transformando o Meu Corpo e vai juntar os vários alunos que participaram nestas iniciativas, bem como os alunos da Escola Secundária de Mira de Aire, para ouvirem o testemunho de Fernando Vieira. Ele, que é bailarino da Dançando com a Diferença, vai falar de como é viver com tetraplegia (uma condição que o obriga a estar numa cadeira de rodas), abordando ainda a sua ligação com a companhia de dança. 

Henrique Amoedo espera encontrar em Porto de Mós pessoas que queiram trabalhar de «corpo e alma» para desmistificar várias questões e incluir através da arte da dança. 

Foto | Dançando com a Diferença

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