Gostamos de nos gabar que nós, portugueses, sabemos bem receber, que somos bons no acolhimento, que “há sempre lugar para mais um”, que “quem cozinha para três, cozinha para quatro”, mas isto só é válido para quem está de visita. Gostamos pouco que nos entrem na vida, na casa e no país definitivamente. Aí, já não fazemos por acolher, já reclamamos porque nos incomodam, porque nos vêm roubar os empregos ou porque aumentou a criminalidade. Claro que estou a fazer uma generalização e a recorrer a estereótipos, correndo todos os riscos que daí advêm, mas serve este prefácio para trazer a este espaço a libertinagem a que assistimos nos comentários nas redes sociais no que aos imigrantes diz respeito.
Recentemente vimos e partilhámos em redação uma série de comentários, no mínimo maldosos, a uma publicação feita por um imigrante a morar em Porto de Mós, apontando “tudo e mais alguma coisa”, o modo de vida, os gastos que fazem, o que escolhem ou não partilhar, as opções que fizeram, porque devem ganhar muito, como é possível gastarem tão pouco em supermercado, em gasóleo… Aplaudimos, porém, um outro comentário que fazia questão de lembrar as imensas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, as vagas de emigração que levaram muitos dos nossos familiares (sim, deve ser muito rara a pessoa que não tem ou nunca teve um familiar emigrado) a França, à Suíça, à América, ao Canadá… Aos nossos, elevamos-lhes o espírito, elogiamos-lhes a garra de terem ido com uma pequena mala, trabalhar dia e noite, para enviar algum dinheiro para a família ou para ter uma vida melhor. Dos portugueses lá fora dizemos que são o símbolo da saudade, que levam a nossa Cultura e a nossa língua além fronteiras, ficamos orgulhosos e de peito feito quando filhos ou netos de um desses que foi a salto para aqui ou para acolá tem um negócio de sucesso, chega a um alto cargo político ou vinga na arte. Aos que chegam ao nosso país exatamente com o mesmo propósito ou, pior, fugindo de circunstâncias que nenhum de nós quer viver, criticamos, julgamos e até insultamos.
Valha-nos a gente boa que já Zeca Afonso cantava: “Em terras / Em todas as fronteiras / Seja bem-vindo quem vier por bem”.