Há venda há um ano e a contar…
Há mais de um quarto de século a «fazer as melhores pizzas, sem igual», o café/restaurante O Dinossauro está, há cerca de um ano, à venda. Para o comprar não têm aparecido muitos, os poucos que têm respondido ao anúncio querem apenas arrendar, algo que não interessa a Vítor Urbano, proprietário do espaço e gerente deste emblemático restaurante durante estes mais de 25 anos. «Nós não vamos voltar a pegar no negócio, basicamente estou a perder dinheiro, estou e muito com uma casa daquelas fechada, é uma pena», diz. Na opinião de Vítor Urbano, o facto de as pessoas não quererem comprar é uma forma de «não terem um compromisso», sobretudo se o negócio não resultar. «Até já baixámos o valor do recheio e vamos ver no que dá, se vamos ou não conseguir vender», reflete.
No caso de O Dinossauro, não foi a falta de clientes que fez com que os proprietários quisessem fechar este ciclo. «Foi a minha saúde, já fui operado quatro vezes no mesmo joelho e estou em recuperação», explicou Vítor Urbano. Sempre teve boa “clientela”, do concelho e de fora dele, e para isso, acredita, contribuiu «a qualidade que sempre teve». «Primeiro que tudo, temos que pensar nos nossos clientes, tratá-los como deve ser e tudo o que fazemos por eles tem de ter qualidade. Há pessoas que só querem ganhar dinheiro e fogem da qualidade», considera.
“Continua a achar-se que o que se faz na terra não é suficiente”
«Tenho ainda falta de compreensão porque é que aqui os negócios não funcionam, porque vejo a vila de Porto de Mós como uma vila com muito potencial, vejo Porto de Mós com um futuro risonho em termos turísticos», começa por referir o proprietário do Ponte Vista, Mário Santos. Esta é até uma realidade que consegue perceber «através das reservas no hotel», no mesmo espaço do restaurante. Apesar de reforçar «não saber os fatores que desencadeiam a aparente falta de sucesso de alguns restaurantes/cafés», o gerente considera que, quanto ao seu, nota que «os portomosenses continuam a preferir ir para fora do que apoiar os negócios portomosenses».
«Comparativamente aos concelhos vizinhos, como a Batalha e Alcobaça, as pessoas são menos bairristas. Eu sei que os clientes portomosenses frequentam os comércios destes concelhos porque continua a achar-se que o que se faz aqui na terra não é bom o suficiente», frisa Mário Santos. Apesar de assumir que a culpa também «pode estar do lado dos empresários», com alguma ironia, o proprietário diz: «Estão a fazer tudo errado, porque acho muita coincidência nada bater certo nesta terra».
Apesar de ter o restaurante à venda quase desde o início, Mário Santos garante que a sua ideia era «implementar-se cá», daí «a dedicação e o investimento feito». «No entanto, as coisas, por vezes, não correm como pretendemos, isto leva a um determinado cansaço e saturação, quando insistentemente vemos as pessoas, mesmo as que não conhecem, a dizer mal de uma casa, leva a que se mudem de opiniões e estratégias», critica.
Até ao momento ainda não apareceu ninguém disposto a comprar este espaço nas condições pedidas pelo proprietário e «o facto de ser em Porto de Mós» é uma questão sempre colocada em cima da mesa a quem manifesta algum interesse. «Em Porto de Mós, acho que se criam muitos anticorpos quando se tenta fazer algo diferente e se não há o apoio da população é difícil, o serviço até pode ser ruim, mas não se pode criticar destrutivamente sem se conhecer o local», volta a reforçar Mário Santos.
Sem estar preocupado com a demora na venda, acreditando que será feita «no seu timming», tem um desejo: «Espero que as pessoas mudem um pouco, sejam mais bairristas e valorizem o que é feito cá, quando se faz algo novo é sempre com boas intenções», conclui.
Jorge Vala: “A resposta na restauração é hoje melhor”
Para o presidente da Câmara de Porto de Mós a resposta é simples: «A compra e venda de espaços é o negócio a funcionar e a resposta na restauração é, hoje, substancialmente melhor do que era há cinco anos [quando o próprio autarca manifestava a preocupação com a falta desta oferta]». Para «responder a isto basta olhar para os restaurantes aderentes do Festival do Cabrito e do Borrego que são muitos mais do que no ano passado, porque há mais restaurantes do que havia e determinados a fazer boa comida tradicional», afirmou Jorge Vala. No entanto, a verdade é que o número de restaurantes aderentes a este festival diminuiu. No ano passado eram 15 os restaurantes que constavam nesta lista e este ano são 11, embora, nem todos os que deixaram de participar face a 2022 tenham, efetivamente, fechado portas e há novos espaços a integrar o evento.
Jorge Vala acredita que além de restaurantes com comida tradicional e de qualidade, existem também ofertas diversificadas com diárias, importantes para quem visita de passagem ou trabalha na vila. «Posso enumerar vários e há mesmo mais restaurantes do que tínhamos há cinco anos. O que me tenho queixado é que fecham todos à segunda-feira e ao domingo raramente encontramos um restaurante aberto, mas, enquanto cliente e enquanto presidente da Câmara, quando preciso de indicar um restaurante, nunca me faltou», salienta.
A visão da ACILIS
Contactado pelo O Portomosense, o presidente da direção da ACILIS – Associação de Comércio, Indústria, Serviços e Turismo da Região de Leiria, Lino Ferreira, assumiu que o setor da restauração enfrenta um período complicado. «Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, entre outubro e dezembro de 2022 fecharam, em Portugal, 1 281 estabelecimentos de restauração e similares», evidenciou. A situação «não é diferente na região»: «Muitos empresários enfrentam dificuldades para manterem os seus negócios a funcionar e garantirem o sucesso desejado». No entender de Lino Ferreira, é necessária «a disponibilização urgente de mecanismos por parte do Governo que apoiem as empresas que estão sem capacidade de gerar meios financeiros adicionais para fazer face ao sucessivo aumento de custos».
Ainda assim, defende o responsável pela ACILIS, é também essencial que «os empresários adotem estratégias-chave para o sucesso dos seus negócios, uma destas estratégias é a inovação». «É importante que os empresários se mantenham atualizados com as últimas tendências e tecnologias e que ofereçam aos seus clientes novidades, experiências únicas e serviços diferenciadores», sublinha. Lino Ferreira destaca ainda que a «restauração é um setor muito competitivo, sendo, por isso, essencial que os empresários ofereçam um serviço de qualidade e personalizado aos seus clientes».
«Embora os empresários na região de Leiria enfrentem dificuldades no comércio e restauração, há estratégias-chave que podem ser adotadas para garantir o sucesso dos seus negócios. A inovação, a qualidade do serviço, o marketing e publicidade e a gestão financeira, com um plano sólido e estruturado, são alguns dos aspetos fundamentais para manter os negócios a funcionar e garantir o seu sucesso», frisa o presidente. Lino Ferreira garantiu que a ACILIS pode ser um «complemento a todos estes fatores já que disponibiliza aos empresários apoio administrativo, contabilístico e fiscal, jurídico, cartão de descontos, posto médico, realização de eventos e ainda formação profissional, adaptada às necessidades de cada empresa».