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A música apresentou-os e mesmo noutro país, mantêm-se unidos

29 Janeiro 2020
Catarina Correia Martins

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Catarina Correia Martins

29 Jan, 2020

Foto: Jéssica Moás de Sá

Valentina Maletska, de 57 anos, e Antonio Maletskyi, de 61, são ucranianos, marido e mulher, e partilham a paixão pela música. Conhecêmo-los num encontro de concertinas, na Cabeça Veada, e despertaram a nossa atenção precisamente por isso: Valentina toca concertina, um instrumento tão típico nesta região.

Moram em Valverde, Alcanede, às portas do concelho de Porto de Mós, e foi precisamente a música que os juntou. «Ele foi para a banda da nossa aldeia quando era pequenino, tinha talvez 10 anos», começa por explicar Valentina que, apesar de estar há menos tempo em Portugal, tem maior facilidade a falar a língua. «Eu toda a vida gostei muito de cantar. O meu pai ensinou-me muitas coisas da nossa tradição, é muito bom cantor e eu também tenho essa genética. Sempre me disse: “Ó Valentina, tu vais ser artista, vais cantar, vais tocar…”. Fiz a escola, na escola especial de música e depois comecei a trabalhar», conta. «A nossa história começou na música. Eu encontrei-o na banda e ele encontrou-me no palco, na nossa aldeia. Sempre o vi a tocar na banda e ele foi sempre ver-me a tocar no palco», resume.

Hoje, acompanham-se um ao outro. Valentina toca concertina e Antonio tuba. «Ele sabe tocar muitos instrumentos» e ela, quando veio para Portugal, só tinha um acordeão que a filha lhe enviou: «Embalou e mandou para cá». «Foi o meu marido que teve a iniciativa de comprar a concertina» porque «gostávamos muito da tradição», lembra. Já a tuba foi comprada com a ajuda das «boas pessoas» que aqui encontraram. Num evento, tiveram contacto com um grupo da Gançaria, no concelho de Santarém, em que Valentina ia tocar concertina, em conversa com um dos elementos desse grupo, perceberam que quer Antonio, quer o senhor em questão, tocavam ambos tuba, mas Antonio não tinha uma, «então, o senhor emprestou-lhe logo». «E para comprarmos a tuba, foi o mesmo senhor que ajudou. O meu marido não gostava muito de estar com a emprestada, porque não era dele. Então fomos juntando dinheiro e esse senhor ajudou a comprar», adianta.

A chegada

Antonio está em Portugal desde o ano 2000. Veio sozinho porque os dois filhos do casal eram ainda pequenos. «Entretanto eles cresceram e sete anos depois vim eu», conta Valentina. «Vivíamos bem na Ucrânia, mas depois, as questões políticas vieram mudar toda a estrutura de vida e começámos a ter problemas de dinheiro», diz, lembrando que o marido trabalhava e, «durante três anos, o patrão só lhe dava produtos como pagamento».

A língua foi o principal problema que encontraram na chegada, pois «os alfabetos das línguas são muito diferentes». No entanto, Valentina diz que «é como ir à praia, não sabemos nadar, mas experimentamos» e aqui foi igual: «Não sabíamos, mas decidimos vir experimentar», brinca. Por não saberem falar português, a busca por emprego também não foi facilitada, já que «nem todos os patrões aceitam pessoas que não sabem falar». Por isso, Valentina decidiu ir estudar: «Fiz seis anos de Língua Portuguesa, acabei o curso e 2017. Depois, fiz todos os papéis para obter a nacionalidade e agora estou à espera», explica.

Hoje, Antonio mantém-se, como motorista, numa empresa onde está praticamente desde que chegou e Valentina trabalha, como auxiliar, numa escola com infantário e primeiro ciclo, em Valverde. Não foi o seu primeiro trabalho, começou por trabalhar num lar, em Alcanede, que ficava perto de uma escola. Por ser professora na Ucrânia e a sua vida ter sido, até então, dar aulas, a proximidade física com esse mundo deixava-lhe «o coração a bater com mais força por pensar que era daquele trabalho que gostava». Por força de um acidente, teve de deixar de trabalhar no lar e surgiu depois a oportunidade de ir para a escola. «Gosto muito. E algumas vezes, quando é preciso fazer alguma festinha, eles pedem e eu toco sempre», adianta acrescentando que lhe pediam que tocasse música portuguesa. Não foi de meias medidas, foi «para a escola de música de Santarém», comprou «os livros» e começou a tocar música portuguesa, afinal «as notas são iguais em todos os países», brinca.

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