A primeira pedra. Os tijolos amontoam-se assentes em cimento e, pouco a pouco, vão deixando de ser apenas materiais, ganham estrutura e passam a ser a casa de alguém ou de algo. Mas, para isso, há sempre uma primeira pedra. No passado domingo, 6 de abril, “lançou-se a primeira pedra” daquela que virá a ser a nova sede do Centro de Apoio Social Serra D’Aire e Candeeiros (CASSAC) e que era um sonho antigo de uma instituição que faz muito por muitos. Como muitas instituições, no concelho ou por esse país fora, pede-se a certos profissionais que façam muito com pouco, sem uma sede com todas as valências necessárias, com pouco dinheiro para projetos, com poucos profissionais.
Já acompanhei de perto o trabalho do CASSAC e de várias instituições do concelho que trabalham com idosos e reforcei aquilo que julgava já saber: são eles que são a família de muitos deles. O trabalho que fazem extravasa, na maior parte das vezes, os cuidados de saúde ou alimentação. Sabem o que muitos destes idosos querem? Apenas e só: “dois dedos de conversa”. Sim! Querem falar sobre as suas memórias, orgulhar-se dos seus filhos e netos, muitos deles a viver a muitos quilómetros de distância, recordar a sua “mocidade” onde “tudo era muito diferente”, dos maridos ou mulheres que já faleceram e que conheceram num baile da aldeia e ao qual só puderam “dar um beijo às escondidas muito tempo depois de começar a namorar”.
E estes profissionais, a maior parte deles, estão ali com escuta ativa. E, sobretudo, não se colocam num lugar de sobranceria. A sociedade teima em acreditar que tem um ascendente sobre os idosos, como se já não estivessem cá, antes de irem. Estes profissionais (os bons, que são muitos e é nesses que hoje me foco) sabem que eles cá estão, validam as suas emoções e, sobretudo, reconhecem o muito que podem aprender com eles. Podem aprender aquilo que só quem já amanheceu muitas vezes aprendeu.
Por isso, quando dizemos que foi lançada a primeira pedra de um edifício que vai permitir ajudar mais e melhor quem precisa, nunca devemos olhar para isso de uma forma literal. Não é só uma primeira pedra. É um novo capítulo para dar uma melhor resposta a estes idosos. É um novo capítulo, também, para quem luta diariamente para lhes dar o melhor e encontra aqui um alento para fazer o seu trabalho. É um novo capítulo para continuar a dar uma vida digna a quem já deu uma vida a ajudar outros. É a primeira pedra do muito que vai ser feito.