Em abril, plena primavera, nascem as flores e está previsto nascer o meu António
Aqui n’O Portomosense nasci enquanto jornalista. Todos os dias valorizo muito a profissão que tenho, agradeço por trabalhar numa área que até hoje (estamos sempre a mudar) me tem preenchido profundamente. Somos muitas coisas na vida. E se aqui nasci jornalista, tenho que ser honesta convosco, é daqui que vou partir para nascer uma nova Jéssica. A mãe Jéssica. E sendo mais honesta ainda, e sei que muitos me entenderão bem, vai nascer a parte mais bonita de mim. Não que eu até aqui não soubesse o que era amor, não que até aqui não tenha sido profundamente amada pelos meus e não tenha amado intensamente (porque é mesmo assim que eu amo), mas caramba, o ser que há meses carrego na minha barriga é um oceano de amor que nunca tinha surfado.
Em abril, plena primavera, nascem as flores e está previsto nascer o meu António. Em abril, mês da liberdade, revive-se a força dos que lutaram e eu passo a lutar todos os dias por ti, António. Como escrevia há dias, depois de um filho, todas as coisas passam a ser menos importantes. E se eu já o sei agora, acredito que quando carregar o meu nos braços, não terei a menor dúvida disso.
Vou estar algum tempo ausente de O Portomosense, mas sei que quando daqui a alguns meses voltar, não voltarei a mesma. Não serei a mesma pessoa, não serei a mesma jornalista. É impossível destrinçar aquilo que são as nossas vivências da essência que colocamos naquilo que fazemos. Achamos sempre que nos sabemos colocar no lugar do outro – e que importante é esse exercício – mas quando calçamos aqueles mesmos sapatos, as bolhas doem nos nossos dedos. Há uma frase de Natália Correia que descreve bem isto: «A gente só nasce quando somos nós que temos as dores».
Serei, possivelmente, uma jornalista mais atenta às mães exaustas e sem apoio. Que fazem este papel sem qualquer retaguarda (que felizmente eu tenho a sorte de ter). Serei, possivelmente, uma pessoa mais empática para com as mães despedidas dos seus empregos por… serem mães. Perguntarei, possivelmente, mais vezes a uma grávida como se sente, do que tem medo e a uma mãe que acabou de o ser do que precisa. Que assim seja.
Ao meu António, só posso dizer que, não possivelmente, mas de certeza, farei o melhor que souber e conseguir para que cresça feliz. Vai nascer uma mãe, mas também vai nascer um filho. O meu.
Diretora-Adjunta