São 120 os quilómetros que Regina Ferreira faz às quintas-feiras, de 15 em 15 dias, para deixar a nova edição de O Portomosense nas papelarias, supermercados, postos de combustível, cafés e restaurantes espalhados por todo o concelho (e não só). É responsável por esta “missão” há 20 anos, além do trabalho habitual que já tem todos os dias, como administrativa da CINCUP (detentora de O Portomosense e da Rádio Dom Fuas), sendo a primeira cara, que quem nos visita nas instalações, conhece. Apesar de já trabalhar nesta “casa” há 31 anos, a distribuição veio mais tarde, mas em “boa hora”: «Eu gosto muito deste dia, porque venho contactar com as pessoas, revejo pessoas com quem ando a contactar há vários anos», diz.
Desta vez, Regina Ferreira não foi sozinha, levou uma jornalista, um gravador e uma máquina fotográfica atrás dela. Com uma resma grande de jornais na bagageira, acabados de chegar da gráfica, partimos, desde as instalações do jornal, cerca das 9h30. As primeiras quatro paragens são pela vila de Porto de Mós, onde tentámos logo “tomar pulso” às vendas do jornal da terra. As opiniões não divergem muito, no que toca ao facto «da imprensa estar a perder força para a internet seja qual for o jornal». Ainda assim, O Portomosense continua a vender-se, em maior ou menor quantidade «consoante os assuntos». Às vezes, veem na internet que um determinado tema será falado e vêm perguntar pelo jornal: «Esta semana aconteceu isso», explicava-nos uma vendedora. O tipo de leitor, na opinião dos vendedores, também está bem definido. «Há os clientes habituais, sobretudo mais velhotes, que é no jornal que se informam sobre o concelho, depois há clientes que veem à procura do jornal quanto tem artigos específicos sobre qualquer coisa», explicam.
Voltamos à viagem e conversámos um pouco mais com a distribuidora que conta como começou a fazer este trabalho. «Em Porto de Mós (vila) sempre fizemos distribuição, íamos a dois ou três sítios, mas depois começámos a ter algumas pessoas interessadas em ter noutros locais do concelho. De início, mandávamos esses jornais pelo comercial ou por pessoas dessas terras que trabalhavam aqui, mas também se tornava cansativo para elas», explica. Os locais onde o jornal O Portomosense era vendido aumentou de forma expressiva e levantou-se a hipótese de «fazer mesmo uma volta» e Regina Ferreira aceitou logo o desafio. Desde que começou até agora, «praticamente todos os sítios» onde deixa o jornal se mantiveram, embora quem está à frente desses negócios, em alguns casos, tenha mudado, ou porque as pessoas acabaram por falecer ou mudaram “de mãos”. «Uma das exceções é no Juncal, um casal de idade tinha uma papelaria que deixou e agora não temos sítio na vila onde distribuir [nesta freguesia, a distribuição é feita apenas no Intermaché na Cumeira de Cima], acho que faz falta lá um sítio, embora o Juncal tenha muitos assinantes, talvez assim se vendesse mais qualquer coisa», refere, na esperança que algum estabelecimento queira ter por lá o jornal da terra, até porque antes era «uma terra onde se vendia bem».
Um sorriso e dois dedos de conversa
Seguimos para as freguesias de Pedreiras e Calvaria de Cima. Um dos locais é um restaurante, onde quisemos perceber a importância de ter o jornal à venda neste tipo de estabelecimento. «Temos os Jogos Santa Casa e ter o jornal acaba por ser um complemento e as pessoas até procuram», referiu a proprietária. A próxima paragem é a única fora do concelho, a Batalha, onde o jornal é vendido em dois sítios. Porque é que é importante ter um jornal do concelho vizinho? «É um jornal com qualidade, às vezes traz notícias da Batalha e um dia que deixe de trabalhar aqui e de ter acesso, vou comprar para ler», afirmou uma das vendedoras. No outro quiosque batalhense, falou-se de «um senhor que compra, “faça chuva ou faça sol” o jornal O Portomosense, porque gosta de ler sobre tudo» e Porto de Mós não é exceção.
Voltamos ao concelho, fazemo-nos à estrada pelo IC2 e voltamos de novo à freguesia de Calvaria de Cima, mais precisamente a São Jorge, onde existem três locais de venda (uma das localidades com mais postos) e onde, à semelhança do que se havia falado noutros sítios, se voltou a reafirmar «a força da internet» atualmente. Estava na hora de almoço e isso era sinónimo de rumar até à serra, junto às lagoas de Arrimal, onde Regina Ferreira tem a tradição de parar o carro para comer uma sandes e seguir caminho. E a tradição manteve-se. Além «da beleza do local», esta é uma forma de iniciar a tarde já neste lado do concelho, onde continua a distribuição dos jornais.
O café ficou por conta da nossa próxima paragem, um estabelecimento no Arrimal. A cortesia da casa é comum a várias das paragens que se fazem ao longo do dia, até porque, durante estes anos, Regina Ferreira já fez amizade com muitas destas pessoas. «Ganhamos afinidade, trocamos sorrisos e conversamos um pouco, é muito bonito isso», sublinha. Nesta altura, faltavam-nos ainda quatro paragens. Serro Ventoso, São Bento, Mira de Aire e Alqueidão da Serra, foi por esta ordem que o itinerário se fez. Numa das extremidades e vilas do concelho, Mira de Aire, quisemos também ouvir a opinião de quem vende. «As pessoas compram, claro que se tiver notícias de Mira de Aire, a venda é maior, mas normalmente vende-se bem e há clientes fixos», garante.
De 15 em 15 dias, além de uma nova edição, Regina Ferreira depara-se com uma nova paisagem, o que acaba por levar a que reflita «sobre a passagem do tempo». «Consigo ver claramente diferenças nos campos e a influência das estações, acaba por ser bonito, apesar de parecer que passa pouco tempo, as duas semanas fazem toda a diferença», exprime. No final, pode sobrar algum cansaço «das horas seguidas da condução» – uma coisa de que passou a gostar muito mais de fazer depois de fazer a distribuição – mas sobra muito mais do que isso: «Conversas, sorrisos, paisagens e mais uma edição do jornal, que continua vivo».
Fotos | Jéssica Moás de Sá