Luís Vieira Cruz

Abril trouxe-nos meio século de democracia e de Liberdade

24 Abr 2024

Portugal vivia há 50 anos um dos períodos mais bonitos da sua história. A ditadura era, por fim, derrubada, e a democracia, com os principais valores que lhe estão associados, instaurada. Desde o dia 25 de Abril do ano de 1974 este país passou a ter futuro. Deixou de viver “orgulhosamente só” e abriu-se ao mundo. Como tal, puderam finalmente cruzar as nossas fronteiras, novas formas de pensar, novas formas de ser e até novas formas de estar. O país, com as suas gentes de traços bem conservadores, foi sendo liberalizado, e continua, aos dias de hoje, a precisar de o ser. Isto porque Portugal é um país com quase 900 anos de história, portanto não é de estranhar que em “apenas” 50 anos ainda tenhamos quem olhe para trás e que diga que “antigamente é que era bom”. Mas não era.

As últimas cinco décadas trouxeram-nos progresso. Soubemos usar a Liberdade, soubemos abrir-nos e soubemos crescer. Boa parte da geração que viveu Abril tem aqueles anos bem presentes na memória. Sabe o que custou a Liberdade, sabe o que custou, até lá, mandar os filhos para uma guerra altamente escusada e sem grande possibilidade de resolução militar nas colónias de um tal Portugal imperial. Mas este período de democracia, embora curto, historicamente falando, parece estar já a cansar muitos portugueses. Há cada vez mais gritos de revolta perante o sistema democrático, há cada vez mais movimentos associados às extremas politizadas e há cada vez mais velhos do Restelo a sair do armário. Ao comemorar 50 anos desde a Revolução dos Cravos, seria de esperar que o país apontasse de imediato às celebrações dos 50 anos seguintes, e por aí fora, sempre com o intuito de continuar a evoluir o país e principalmente as mentalidades. Em meio século ganhámos liberdade de expressão e direito à saúde, a mulher emancipou-se, a balança social começou a equilibrar-se e a justiça passou a ser, salvo devidas exceções, aquilo que “nasceu” para ser: justa.

Há 50 anos um jornalista não podia passar para palavras a realidade da nação sem ser automaticamente rasurado ou punido, um artista era obrigado a encapotar na sua arte as mais subliminares mensagens de revolta, uma funcionária pública via-se controlada por um sistema paternalista que lhe dizia quando e se podia casar. Hoje a realidade é bem diferente. Ganhou-se Liberdade, ganharam-se direitos, mas temos, nos próximos 50 anos, a responsabilidade de recordar e defender os valores que os heróis de Abril conquistaram. A memória será sempre a nossa melhor arma.