O Salão Paroquial do Juncal, uma casa com larga e rica história na área da Cultura, acolheu, no passado dia 6 de novembro, um evento cultural de dimensão internacional pelas pessoas que envolveu. Tratou-se da cerimónia de entrega de prémios do XVI Concurso Literário, promovido pela Academia Antero Nobre, sediada agora na freguesia do Juncal. Nesta edição, foram recebidos 1124 trabalhos, 764 oriundos de vários pontos do país e 360 do estrangeiro. Entre os 24 autores premiados, nove residem fora do território nacional, nomeadamente no Brasil, em França, Estados Unidos e Angola. Não fora o agravar da pandemia no Brasil e alguns deles teriam estado no Juncal para receber, precisamente, o seu ou seus prémios.
Apesar dos números impressionarem, Aníbal Nobre, o presidente da Academia Antero Nobre, disse no início da cerimónia que «o concurso deste ano é uma pequena amostra daquilo que costuma ser o concurso literário internacional da Academia, em termos de participantes e trabalhos entregues, mas devido à pandemia e a um conjunto de limitações» os números, desta vez, são mais modestos e não fazem jus, a esse nível, àquele que é «o maior concurso literário de Portugal» e um dos maiores em língua portuguesa.
Feitas as apresentações iniciais, o responsável começou o anúncio dos distinguidos nas modalidades de Soneto [de exaltação a Porto de Mós], Sextilha [obrigada ao acróstico “Juncal”], Quadra [dedicada a Pedreiras], Poesia lírica, Quadra Popular e Conto [tema livre]. Foram, ainda, entregues o Prémio Qualidade e o Grande Prémio.
Alba Helena Corrêa, uma poetisa brasileira, foi a vencedora na modalidade Soneto e a protagonista involuntária de uma situação algo caricata explicada previamente ao público. A poetisa tinha intenção de vir a Portugal para receber o prémio, mas o agravar da situação pandémica no Brasil levou-a a alterar os planos, tendo pedido ao responsável pela Academia para que a representasse e fosse ele a ler o seu soneto. Aníbal Nobre aceitou, mas em segredo, com a cumplicidade de uma amiga comum, também brasileira, decidiu fazer-lhe uma surpresa. A amiga declamou o soneto e gravou-o em áudio, enviando-o depois ao presidente da Academia. No dia da entrega de prémios, a também autora «convidou a premiada para um chá em sua casa». Entretanto, no Juncal, quando chegou a vez de anunciar o vencedor, Aníbal Nobre, em pleno palco, ligou-lhe para que a Alba Corrêa pudesse ouvir o anúncio, mas para surpresa desta não ouviu apenas o seu nome, mas também a amiga (que estava sentada a seu lado) do outro lado da linha, a declamar o seu soneto.
Em Sextilha, venceu Sandra Piloto de Abreu (Castelo Branco). Em quadra, o vencedor foi João Francisco da Silva (S. Tiago dos Velhos/Arruda dos Vinhos). Já Maria Celeste Salgueiro Seabra conquistou o primeiro lugar na modalidade Poesia Lírica. Em Quadra Popular, venceu Maria Olívia Gomes Rowland (New Jersey – Estados Unidos). Por sua vez, Filomena Santos Figueiredo (Leiria) venceu na modalidade Conto, e o seu trabalho foi considerado o melhor de todos aqueles que foram submetidos a concurso, independentemente da modalidade, pelo que recebeu também o Prémio Qualidade que tem como patrono o poeta Fernando Marques de Almeida. Por último, João Francisco da Silva e Maria Celeste Salgueiro Seabra receberam o Grande Prémio Padre António Correia Martins, que é atribuído aos autores mais distinguidos no concurso.
No decorrer da cerimónia, Aníbal Nobre chamou ao palco seis crianças das freguesias de Pedreiras e Juncal a quem ofereceu uma lembrança «como forma de incentivo para que no futuro se interessem pelas letras». No entender do responsável, «a esmagadora maioria das pessoas que se interessam pelas Letras são pessoas já com alguns anos e estão longe, portanto, da infância e da juventude», daí que interesse cativar os mais novos.
Durante o certame foram homenageados sete poetas, membros da Academia, falecidos recentemente. Foram também entregues lembranças a cerca de uma dúzia de pessoas, também elas autoras de poesia ou que de alguma forma têm colaborado com a Academia Antero Nobre.
Os discursos
No final, Aníbal Nobre ofereceu também uma lembrança a José Santo e Rogério Vieira, os presidentes da Junta de Pedreiras, no período em que este viveu naquela freguesia e que, segundo ele, além de o terem tratado sempre muito bem, «acolheram de braços abertos a Academia e com esta mantiveram sempre uma excelente colaboração». Os “homenageados” agradeceram o gesto e aproveitaram para agradecer aos poetas e à Academia por durante todos estes anos terem apresentado trabalhos que enaltecem e promovem as Pedreiras. Depois, em nome da Freguesia agora presidida por Pedro Pragosa, ofereceram-lhe uma peça em barro.
O presidente da Academia aproveitou o momento para agradecer à Câmara por, «apesar de nos últimos tempos ter estado quase parada», não a ter esquecido e de ter voltado a apoiar a realização deste concurso internacional. O agradecimento foi, ainda, extensivo, ao novo executivo da Junta de Freguesia do Juncal «que, voluntária e generosamente, decidiu custear o beberete oferecido ao grupo de cavaquinhos, Os Farra», com que encerrou, em beleza, a entrega de prémios. Intervieram, também, a filha de Maria Ruth Brito Neto, uma das autoras premiadas, e João Francisco da Silva, outro dos vencedores, que leram textos de rasgado elogio a Aníbal Nobre e à Academia que ostenta o nome de seu pai, o poeta de Olhão, Antero Nobre.
Por último, o presidente da Junta do Juncal, Artur Louceiro, expressou a sua gratidão por todos aqueles que vieram de bastante longe para participarem nesta sessão na vila do Juncal e a Aníbal Nobre «por esta tarde de cultura e de reconhecimento do valor artístico de muitos poetas e autores». Recém-chegado ao cargo, o autarca disse que esta iniciativa o apanhou um pouco de surpresa, mas mesmo assim tentou contribuir de alguma forma para o seu sucesso e prometeu que nos próximos quatro anos a Academia terá da Junta de Freguesia o apoio que lhe é devido.
O vice-presidente da Câmara, e vereador da Cultura, Eduardo Amaral, mostrou-se muito satisfeito por ter tido a oportunidade de apreciar de perto os trabalhos que resultam deste concurso e que promovem as Pedreiras, o Juncal e o próprio concelho de Porto de Mós. O autarca disse que agora há que os dar a conhecer à população para que os sinta e valorize, porque reforçam o nosso orgulho de portomosenses. Eduardo Amaral deixou, ainda, uma palavra de apreço a Aníbal Nobre que, com grande esforço, sozinho e sem grande reconhecimento público, tem feito muito pela Cultura e a quem Porto de Mós e o país ainda não reconheceram devidamente o valor. Uma vez que a Academia comemora no próximo ano 25 anos de existência, o autarca prometeu todo o apoio para que a efeméride possa ser dignamente assinalada e estes 25 anos possam ser consolidados e ter a visibilidade que merecem. Queremos ser parceiros de excelência para desenvolver este trabalho.