Entre as atividades que compunham o programa da Festa do Freguês no Juncal, existiram duas dinamizadas pela Associação de Desenvolvimento Comunitário de Porto de Mós (ACMós), que não podiam estar mais relacionadas com a história da terra. Na tarde de sábado, 24 de setembro, foi inaugurada a exposição Cerâmica Artística: Da Olajul à Rebelo e Carneiro que estará patente na Biblioteca local até 30 de outubro.
Filomena Martins – conhecida por todos por estudar e conhecer a história da cerâmica artística do Juncal e também membro da direção da ACMós – explicou o conceito da exposição. «O Juncal é muito conhecido pela cerâmica do século XVIII e XIX feita na Real Fábrica, mas infelizmente desses séculos não existem peças no Juncal, a Junta de Freguesia tem duas que foram muito caras e há duas ou três famílias que têm mais três ou quatro», começou por esclarecer. Em «meados do século XX, Rafael Calado, dono da Casa dos Calados, percebeu que a loiça do Juncal ia ser muito valorizada porque a decoração é única», a chamada “Maneira do Juncal” e «fez uma grande coleção».
Tudo isto leva a que exista muito pouco do tempo da Real Fábrica, que fechou em 1876. No entanto, em 1946, «cinco homens do Juncal fizeram uma sociedade e criaram a Olajul (Olaria do Juncal Lda.)», que tinha como objetivo recriar o que era feito na Real Fábrica, porque perceberam que havia pouca coisa. Tal como havia acontecido com o trabalho feito na Real Fábrica, também muitos dos trabalhos desses anos de Olajul se perderam. A Olajul esteve na mão destes cinco sócios durante algum tempo, mas depois, devido ao contexto de guerra, «alguns funcionários roubaram chumbo do vidro e começaram a sair fornadas estragadas». Estes problemas levaram a que os sócios arrendassem o espaço. A partir daqui a fábrica (como pode ser aprofundado na exposição) teve diferentes designações e diferentes “líderes” e deixou de ser fiel à “Maneira do Juncal”. Muitos destes donos vieram de Alcobaça e, por isso, introduziram a forma de fazer do concelho vizinho, nomeadamente a loiça de cor azul. A última designação da fábrica (já nos anos 1960) foi Rebelo e Carneiro Lda. Nesta fase, em que foi constituída a Rebelo e Carneiro Lda., voltou-se «a reproduzir a Real Fábrica». Nesta exposição existem peças desde a Olajul inicial até à Rebelo e Carneiro Lda., por isso, estão em exposição peças fiéis à cerâmica do Juncal e peças com as influências vindas de Alcobaça.
Por acreditar que existem pessoas que têm peças, feitas neste período, em casa, Filomena Martins tem como objetivo «levar as pessoas a valorizarem aquilo que têm». «Podem oferecer ao futuro Núcleo Museológico que vai ser criado no Juncal, mas se quiserem guardar, que valorizem e não deitem para o lixo como já vi acontecer», frisa.
Segundo livro lançado pela ACMós
A apresentação do livro História de um Painel de Azulejo foi a segunda atividade promovida pela ACMós. Antes de se passar à apresentação do livro da autoria de Filomena Martins, tomou da palavra Olga Silvestre em representação da ACMós, onde ocupa o cargo de presidente da assembleia-geral. Olga Silvestre explicou que esta é atualmente uma associação, dirigida às «vertentes cultural, educacional, cívica e de preservação do património», que promove várias atividades, onde se inclui «a edição de livros». «Este é o segundo livro que lançamos, ambos da mesma autora, uma pessoa apaixonada pela sua terra e pelo seu património», frisou.
A professora Goreti Domingues fez uma breve apresentação do livro. Antes de deixar vários elogios à obra, «uma belíssima história que representa muito para muitos», deixou também vários elogios a Filomena Martins. «Desde que a conheço, já vão mais de 30 anos, sempre percebi o seu orgulho e preocupação em preservar o nosso património», referiu a professora.
A autora, que lança assim a sua segunda obra relacionada com a cerâmica artística, explicou aos presentes, a forma como surgiram estes dois livros. Há cerca de 20 anos fez uma pós-graduação em Museologia e todos os trabalhos que lhe foram solicitados durante este período «andaram à volta da cerâmica do Juncal». Um dos trabalhos destinava-se aos serviços educativos do museu do Juncal e foi nesse momento que surgiram «duas pequenas histórias». Uma sobre uma jarra de altar, o primeiro livro editado pela ACMós, e agora esta história sobre um azulejo que «esteve na gaveta até agora». Este livro é baseado em factos verídicos, fazendo alusão aos pedidos de proteção feitos à Senhora das Dores. Para isso acendia-se uma lamparina junto ao painel de azulejos na fachada de uma casa na Rua da Carreira da Vila.
Nuno Viegas foi o ilustrador deste conto, bastante elogiado por todos. O ilustrador, que vive apenas há cinco anos no Juncal, diz que Filomena Martins foi «uma das primeiras pessoas» que conheceu quando chegou. Aceitar o repto lançado para ilustrar este livro foi «uma forma de retribuir a simpatia e a forma como sempre» o trataram. «Espero que as imagens que criei não limitem demasiado a imaginação», salienta.
O presidente da Junta do Juncal, Artur Louceiro, afirma que esta, apesar de ser uma história «dos antepassados» é atual: «A história do passado continua presente e isso é formidável». «Agradeço à Filomena Martins e à ACMós por sugerir incluir o lançamento do livro na nossa festa», disse ainda. O presidente da Câmara, Jorge Vala, também agradeceu a Filomena Martins e à ACMós pelo lançamento desta edição. «É uma edição pedagógica, destinada aos mais novos, que traz aos dias de hoje e perpetua no futuro a memória dos nossos antepassados». «Por isso, se temos histórias para contar, não as podemos deixar morrer e é isso que a Filomena Martins tem feito ao longo dos anos, trazendo para o presente a história riquíssima do Juncal, ligada à cerâmica artística», frisou o autarca. Jorge Vala disse ainda que é intenção do Município «fazer chegar à comunidade escolar» este livro.
Fotos | Jéssica Moás de Sá