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Adriano Correia: trabalhei muito, debaixo de calor, de neve, de frio

12 Março 2024
O Portomosense

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O Portomosense

12 Mar, 2024

Foi de braços abertos e com um sorriso no rosto que Adriano Correia nos abriu a porta de sua casa para contar um pouco do que foi a sua vida. É na cozinha do seu lar, na Corredoura, que recorda os seus setenta e sete anos de vida que, apesar de terem sido de labuta, foram também «muito felizes».

Nascido e criado na Corredoura, aos vinte e um anos ingressou no percurso militar, obrigatório naquela época, e é a partir dessa altura que nos narra as grandes mudanças da sua vida. Foi em Vila Real que começou a tropa, seguindo-se depois Tomar, Lisboa e Figueira da Foz, enquanto tirava a sua especialidade. Ao longo desta formação, tornou-se condutor de transmissões: «era condutor e transmitia o que se estava a passar no momento, com o rádio, para o resto do pelotão».

Recorda, com um sorriso entre os lábios, que, apesar de ter sido mobilizado para ir para o Ultramar, conseguiu «felizmente» escapar-se e «cancelar a ida», abandonando assim o serviço militar. Mas ainda não é nesta altura que faz a maior mudança da sua vida. Entretanto já tinha conhecido, de forma natural para aquela época, entre bailes e romarias, a sua namorada e, atualmente, a sua esposa e companheira de vida. Após sete anos de namoro, decidiram dar o próximo passo: o matrimónio. Foi então que, com os seus vinte e cinco anos, se casou e embarcou na maior viagem sua vida, rumo aos Estados Unidos da América.

Decidiram emigrar na esperança de uma vida melhor, não só para eles como também para a família que viriam a formar. Estabeleceram-se na vila de Ossining, no estado de Nova Iorque, e foi lá onde passaram os dezoito anos seguintes. Ao contrário da sua esposa, Delfina, que já tinha passado um ano e meio lá, para ele era tudo novo. Relembra que «foi um grande passo» na vida e partilha connosco que se encontra eternamente grato a um tio, que foi quem impulsionou a sua ida para os Estados Unidos e os apoiou bastante nos primeiros tempos. «Fui lá muito bem recebido. Tínhamos casa, cama, comida, tudo como se estivéssemos em Portugal», diz. Para além destas necessidades básicas de vida, já tinham também trabalho. Adriano Correia fez um pouco de tudo: «Trabalhei lá muito, debaixo de calor, de neve, de frio». Começou pela construção civil, onde trabalhou durante oito anos, seguindo-se a experiência numa fábrica de motores, durante os dez anos seguintes. Enquanto tinha estes trabalhos fixos, foi também fazendo outros, chegando a trabalhar também numa padaria. Os tempos foram passando e o casal adaptou-se cada vez mais à nova vida, pois apesar da distância a que estava do seu país natal, não deixou de se sentir acolhidos nos Estados Unidos: Adriano Correia e a esposa viviam perto de um clube português onde se faziam «festas à portuguesa». «Passámos lá bons tempos», recorda com entusiasmo.

Após algum tempo nos Estados Unidos, já em 1974, tiveram o primeiro filho. A este seguiu-se, três anos mais tarde, a segunda e última descendente. Com o nascimento deles passaram a visitar Portugal todos os anos, fazendo com que os dois filhos, embora tenham nascido nos Estados Unidos, adorassem Portugal e estivessem «completamente emergidos e familiarizados com a língua e cultura portuguesa».

Em 1987 resolveram regressar a Portugal. As saudades de casa e o gosto pelo país fizeram com que se fixassem por cá, recordando com carinho os tempos que passaram no estrangeiro.

«Adoro os Estados Unidos da América mas também adoro estar aqui», frisa Adriano Correia. Com as saudades e com todo o tempo que passou afastado do país que o viu nascer, ansiava o regresso e sentia imenso gosto em retornar ao país de origem. Retornaram à terra lusitana já com um pouco da sua vida orientada: a casa onde iriam morar já estava feita, os filhos tinham exames de equivalência para conseguirem ingressar com facilidade na escola e as ideias de negócio já estavam a desencadear-se na sua cabeça.

Chegou finalmente a hora de voltar. Quando regressaram, Adriano começou por trabalhar em pomares. Contudo, a falta de retorno monetário fez com que se afastasse desta atividade e partiu numa nova aventura. Em conjunto com a sua esposa, aventuraram-se com a abertura de um minimercado, com o qual passaram «dez aninhos bons, com muitos clientes». Este estava situado no piso de baixo da sua residência. Anos depois da abertura do minimercado, começou também a abertura das grandes superfícies de comércio alimentar no nosso concelho, e foi aí que Adriano e Delfina decidiram fechar portas e encerrar assim mais um capítulo das suas vidas. Durante quinze anos foi assim que ocuparam o seu tempo. Enquanto Adriano e Delfina permaneciam na Corredoura, os seus filhos foram estudar para a capital, formando-se lá e já tendo, atualmente, cada um a sua própria vida, premiando o casal com cinco netos, que evocam sempre com um sorriso rasgado.

Ao longo da nossa conversa recordamos também os seus regressos aos Estados Unidos: «deixei lá uns rendeiros, então fui lá durante cinco anos seguidos». Mais tarde, decidiu vender a casa e desde 2006 que não regressa àquele que é para ele «o melhor país do mundo». No entanto, o regresso aos Estados Unidos da América não lhe sai da cabeça e conta-nos que pretende viajar até lá com os cinco netos, quer que «eles fiquem com a ideia do que é aquele país», dando-lhes logo a conhecer a cidade que nunca dorme – Nova Iorque -, as Niagara Falls, a fronteira entre o estado norte-americano de Nova Iorque e a província canadiana de Ontário.

A memória não lhe falha e portanto ainda se recorda da língua e da escrita do inglês, que aprendeu a estudar à noite e através de filmes, e revela que gostaria de as ter aprendido melhor e que, se fosse mais novo, faria um curso de inglês para se tornar mais apto nestas matérias. Neste momento não o faz porque tem muito, ou melhor, alguns netos, para ocupar o seu tempo: «vou levá-los à bola, buscá-los à bola, levá-los ao ginásio, ando sempre para baixo e para cima […] é a minha alegria […], há dias em que vou algumas dez vezes a Porto de Mós», refere.

Entreter-se com o cuidado e necessidades dos netos é agora a sua principal ocupação, sente-se útil e é algo que faz com o maior gosto. Atualmente, o seu maior objetivo é mesmo este: ajudar a criar os netos e a fazer com que estes desfrutem de «uma mocidade feliz».

Cristiana Oliveira | texto e foto

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