Início » Alqueidão da Serra em peso na reunião de Câmara

Alqueidão da Serra em peso na reunião de Câmara

19 Maio 2023
Isidro Bento

Texto

Partilhar

Isidro Bento

19 Mai, 2023

Há muito que não se via coisa assim. Largas dezenas de pessoas marcaram presença na reunião de Câmara descentralizada que teve lugar no passado dia 4, na sede da Junta de Freguesia do Alqueidão da Serra. A habitual meia dúzia de populares deu lugar desta vez a uma verdadeira enchente que se espalhou pelo vasto salão, naquela que terá sido a reunião mais concorrida desde que o modelo foi estreado.

Mas, afinal, qual o ponto ou pontos da Ordem de Trabalhos que despertaram tal interesse para comparecer tanta gente? Aparentemente nenhum. A preocupação não era garantidamente com qualquer dos oito assuntos em agenda (cuja discussão e aprovação ocupou, apenas, cerca de um quarto do tempo total da reunião) mas, de um modo especial, com um assunto que já se arrasta há anos e sem fim à vista: a falta de médico na freguesia.

O primeiro a intervir no período aberto à participação do público, José Vieira, resumiu em poucas palavras a pergunta de muitos. “O que é que a Câmara está a fazer para colocar aqui um novo médico?”. Armando Vieira, por sua vez, apresentou o seu próprio caso: “Saí ontem do hospital e mandaram-me uma carta para entregar ao médico de família e eu quero saber a quem a vou entregar». Por que é que vocês tiraram o médico do Alqueidão e o puseram em Porto de Mós? No Alqueidão atendia à volta de 2000 pessoas, em Porto de Mós, 600», questionou. À laia de lamento, acrescentou ainda: «A administrativa vem cá só dois dias e está em Porto de Mós os outros, mas nem sequer tem lá lugar, não faz lá nada».

Félix dos Reis repetiu a pergunta de Armando Vieira e Arlinda Salvador acrescentou mais um profissional à lista: «Queria saber o que é preciso para termos médico, administrativa e enfermeira no Alqueidão».

“Não se fecha uma unidade de saúde sem uma explicação”

Patrícia Santos começou por recordar que «o problema da falta de médicos, que não sendo da responsabilidade da Câmara nem da Junta, é mais importante que todos os outros porque a saúde é o bem mais precioso». A freguesa local reconheceu que os recursos são escassos, mas deixou claro que «isso não pode ser justificação para se dizer nos mais variados sítios: está mal e ainda vai ficar pior». «Acho isso inadmissível. Estamos a aplicar antecipadamente a eutanásia aos cuidados de saúde primários. Temos a obrigação moral de fazer alguma coisa, mas o importante mesmo são os esforços de todos, independentemente de cores políticas, porque estamos a falhar às pessoas que mais precisam de nós, as crianças, os idosos, as pessoas com doenças crónicas e as financeiramente mais débeis». «Há que agir com a maior celeridade possível porque é um problema que se vem arrastando e estamos a falar da vida de pessoas para quem, muitas vezes, um dia sem acesso a cuidados de saúde pode ser o passaporte para o fim da vida», frisou.

Patrícia disse que, «provavelmente, o Município, antecipando toda esta situação, tentou resolver o problema com a criação do cartão de saúde» mas deixou a pergunta: então e as baixas médicas, a medicação crónica, os exames complementares de diagnóstico e as consultas de acompanhamento?

Além da falta de médicos, a moradora queixou-se de outro problema: «a falta de respeito e de consideração pelos utentes». «Basta fechar a porta do centro de saúde e acabou? Não se dá uma palavra às pessoas, não se explica como é que a partir dessa altura podem ter acesso a uma consulta?», questionou, revelando que descobriu que estava sem médico de família atribuído quando um dia, por acaso, consultou o seu espaço pessoal na página online do Serviço Nacional de Saúde.

«Os problemas estão diagnosticados, agora temos de atuar e cabe-nos a todos agir. Não podemos abandonar aqueles que há 50 anos lutaram pelos nossos direitos, mas sinto que o estamos a fazer e sinto-me mal com isso. Por outro lado, como é que queremos fixar pessoas se fecha o centro de saúde, depois a farmácia e a seguir a analista, ou seja, quando temos os serviços básicos a falhar», frisou, deixando o apelo: não é fácil, mas temos de pegar o touro pelos cornos e fazer alguma coisa pela vida das pessoas.

Foto | Isidro Bento

Assinaturas

Torne-se assinante do jornal da sua terra por apenas: Portugal 19€, Europa 34€, Resto do Mundo 39€

Primeira Página

Publicidade

Este espaço pode ser seu.
Publicidade 300px*600px
Half-Page

Em Destaque