A Altice Portugal e o Município de Porto de Mós assinaram no dia 15 de julho um protocolo que prevê que até ao final do próximo ano, 93% das residências do concelho possam ligar-se à rede de fibra ótica daquela empresa. Há também a promessa de um reforço significativo na rede móvel.
Empresa e Município falam de um investimento de vulto, antecipado vários anos face à necessidade premente de aumentar e melhorar o acesso à internet e às redes móveis no concelho, mas escusam-se a revelar o valor.
Na cerimónia, o presidente da Câmara, Jorge Vala, disse que «as telecomunicação são hoje um bem de primeira necessidade» e que a esse nível «esta pandemia colocou a nu algumas das fragilidades do nosso território e, sobretudo, as suas enormes assimetrias». «Temos um concelho a três velocidades: uma parte com cobertura a 100%, outra razoável, e uma outra, mais pequena, sem qualquer tipo de cobertura» e isso faz com que seja «uma tarefa muito árdua fixar populações nas zonas dispersas» e, de forma indireta, atrair turistas, afirmou.
«Queremos um concelho que proporcione igualdade de oportunidades aos que cá residem, àqueles que querem vir e aos que já investiram ou pretendem fazê-lo. Precisamos de um concelho a uma só velocidade, evoluído de modo uniforme sob o ponto de vista tecnológico», referiu sublinhando que «o problema não nasceu com a pandemia mas acentuou-se quando o Governo mandou os alunos para a casa e se esqueceu, no caso de Porto de Mós, dos cerca de 100 que não tinham condições para estudar como todos os outros, numa desproporção de oportunidades que se veio acentuando».
Jorge Vala disse que os presidentes das Juntas e a população passaram, então, a fazer «manifestações de indignação», que acolheu «de forma natural» porque «a ambição destas pessoas é a nossa ambição e sempre que os munícipes têm um problema o presidente da Câmara e o executivo passam a ter as dores desse problema» e neste caso não são só «os alunos, mas também as pessoas impedidas de fazer teletrabalho e os jovens universitários que não puderam voltar a casa», sublinhou.
«A Altice foi a única operadora que não só nos respondeu, como acedeu ao apelo, compreendeu e abraçou o projeto que temos em curso, por isso agradeço-lhe em nome de todos os munícipes e, sobretudo, daqueles que são os desfavorecidos neste momento», destacou. Vala mostrou-se convicto de que a parceria será «frutífera e vai consubstanciar-se na melhoria das condições de vida de um território assimétrico, desfavorecido mas com pessoas fantásticas que merecem ter a mesma oportunidade que têm os munícipes dos concelhos limítrofes». Por isso voltou a agradecer à empresa que embora saiba que «a população a servir não é, provavelmente, suficiente para ir ao encontro do interesse face aos avultadíssimos investimentos que vão ser feitos, mesmo assim está disponível para investir em todo o concelho».
Por sua vez, André Figueiredo, diretor de coordenação institucional corporativa e de comunicação da Altice Portugal, disse que a empresa leva muito a sério o princípio constitucional da igualdade de oportunidade «não descriminando regiões» mesmo que por circunstâncias várias se possam revelar menos apetecíveis a investidores privados. Assim, apesar de outros investimentos já feitos em Porto de Mós, a Altice foi sensível aos anseios do presidente da Câmara e vai fazer chegar a fibra ótica a 93% das casas portomosenses «o que coloca o concelho entre os principais em termos de percentagem de cobertura», anunciou.
Relativamente, ao acesso à telescola, André Figueiredo disse que «quem decreta e obriga a população a cumprir um determinado caminho tem de se responsabilizar se é cumprido ou não, nada tem a ver com a Altice». No entanto, «ter uma criança incapaz de assistir às aulas porque não tem rede na sua freguesia ou capacidade financeira para adquirir um equipamento informático, é lamentável», daí que a operadora esteja disposta a criar as condições «para minimizar esse impacto». «Queremos que as crianças possam ter essa rede, mas também que as Juntas possam, podendo e tendo espaço, acolher algumas das crianças incapazes de poder assistir às suas aulas, e poderem porventura durante algum tempo utilizar as redes de fibra ótica disponíveis para as sedes das Juntas», frisou o representante da Altice Portugal.
Neste mesmo dia, a Altice inaugurou uma antena nos Casais Garridos, que, segundo José Pedro Nascimento, o diretor de engenharia e operações, irá melhorar bastante a cobertura em termos de voz e dados.
“Alargamento da rede de fibra ótica esteve em risco por causa de “e-mails” pouco simpáticos”
Depois de uma das suas caixas de correio eletrónico ter sido “inundada” com «perto de uma centena de e-mails com pressão e com características pouco simpáticas que não criam bom ambiente para investidores privados», a Altice Portugal esteve na iminência de adiar os investimentos destinados ao concelho de Porto de Mós para os próximos anos. A revelação foi feita por André Figueiredo, diretor de coordenação institucional corporativa e de comunicação da Altice Portugal, no decorrer da cerimónia de assinatura do protocolo de colaboração com o Município.
O responsável considerou a situação «inusitada e estranha» e a que «não foi muito bonito assistir», explicando que a empresa «não é obrigada a fazer [investimentos] porque alguém acha que se deve colocar num pedestal e dizer “quem vai tratar deles sou eu e eles vão ter que fazer”». André Figueiredo sublinhou que «quem teve essa ideia esteve à beira de ser responsável pela falta de investimentos nestas freguesias. Esteve mesmo à beira disso».
Entre muitos elogios à postura humilde e dialogante do presidente da Câmara, o representante da Altice disse que foi só depois do pedido expresso de Jorge Vala é que a empresa aceitou voltar atrás numa decisão que estava praticamente tomada. «Fiquem a saber que essas freguesias iam ficar sem fibra ótica à custa da atitude de pessoas que não foram bem formadas, nem bem educadas», frisou.
Para não prejudicar «uns em detrimento daqueles que porventura precisam desse tipo de estratégias para dizer que existem, imediatamente foi delineada uma estratégia com o presidente da Câmara» avançando-se «com um investimento extraordinário em Porto de Mós» que se espera seja «rápido e de alguma forma eficiente», adiantou, ainda.
No final, em declarações aos jornalistas, André Figueiredo voltou a não esconder o seu mau-estar e a afirmar que «os e-mails prejudicavam claramente as freguesias» e que perante isto a prioridade da Altice «evidentemente não passaria» por ali: «Nunca prejudicaríamos o concelho, estivemos desde a primeira hora disponíveis mas contámos ao presidente de Câmara a mágoa que esses e-mails causam a um investidor que sempre se mostrou disponível para poder ser contactado», afirmou. «Nós temos rosto, atendemos as pessoas, devolvemos as chamadas, respondemos aos e-mails, não precisamos é de ser maltratados», realçou.
Questionado sobre os autores da correspondência da polémica, André Figueiredo esclareceu que serão cidadãos a título pessoal e não representantes eleitos, no entanto, disse não saber a quem atribuir estas «pressões», em concreto, já que «o texto é exatamente igual em todos». O responsável pôs de parte a hipótese de apresentar queixa na Justiça.
Também em declarações aos jornalistas, Jorge Vala confirmou que na primeira reunião que teve com a empresa «a mágoa era muito grande» e que «havia aqui algumas freguesias que tinham uma cruz da parte da Altice». Nessa medida, considerou ser «de relevar a compreensão da administração pelo facto de perceber que era importante não haver essa discriminação». «Em nome de todos os outros tive que pedir à Altice que compreendesse, desse um passo atrás porque este é um território de pessoas de bem, humildes e simples e que no fundo não podiam ser prejudicadas no seu todo por causa de um conjunto minoritário de pessoas, e foi isso que a Altice fez», sublinhou o autarca.