«Indescritível» e «surreal» – é assim que Carolina Sousa, natural do Juncal, descreve o voo parabólico que realizou, no passado dia 16 de setembro, e que lhe permitiu experimentar a gravidade zero, a mesma que os astronautas sentem no espaço. A jovem de 14 anos foi uma dos 31 escolhidos entre 460 candidaturas enviadas à primeira edição da iniciativa Zero-G Portugal – Astronauta por um Dia, promovida pela Agência Espacial Portuguesa – Portugal Space. Carolina Sousa teve a oportunidade de passar quatro dias na Base Aérea de Beja antes de realizar o voo – um dos únicos meios capazes de reproduzir o efeito da ausência de gravidade, através de manobras de ascensão e queda-livre, as chamadas parábolas.
«Foram duas horas, 16 parábolas de 22 segundos, e nas primeiras parábolas pudemos sentir a gravidade de Marte e da Lua», explica a jovem. O efeito de microgravidade veio depois, num total de sete minutos das cerca de duas horas que os jovens “astronautas” passaram, no ar, a bordo do Airbus A310 – que chegou até a sobrevoar o distrito de Leiria. Para a juncalense, o destaque do programa «claramente foi o voo», mas considera «que toda a experiência foi espetacular», recordando também a palestra com o astronauta alemão Matthias Maurer, que a 6 de maio regressou de uma missão de seis meses na Estação Espacial Internacional e com o qual, diz Carolina Sousa, o grupo «aprendeu imenso» na antecipação do voo.
A jovem, que frequenta o 9.º ano no Instituto Educativo do Juncal (IEJ), vai agora receber um diploma de participação, mas a experiência é maior que qualquer papel: Carolina Sousa «já queria ir para Ciências e Tecnologias» no próximo ano letivo, «não tão especificamente nesta área, mas, agora, com esta experiência», sente que é isto que quer seguir. A jovem explica que a astrofísica sempre lhe «despertou bastante interesse» – interesse esse que herdou do pai – e está agora a pensar em «seguir esta área para o futuro».
A participação da jovem neste voo parabólico foi como um sonho tornado realidade: «Claro que acho que o sonho de qualquer criança ou pessoa é sentir a gravidade zero, mas se me dissessem que eu iria mesmo senti-la eu não tinha acreditado», revelou.
Candidaturas replicam a seleção de astronautas
O IEJ contou com a candidatura de «pelo menos cinco alunos», segundo a diretora pedagógica, Tânia Galeão, mas «só a Carolina chegou à final». Os candidatos, explica, «acabaram por fazer o processo quase como se fossem astronautas», tendo tido quatro fases pela frente: um vídeo e carta de motivação; testes psicotécnicos; testes físicos («porque é preciso também ter algum estofo para aguentar aquela gravidade», explica Tânia Galeão) e ainda uma entrevista, considerada por Carolina Sousa a parte mais complicada do processo.
Para esta candidatura, a juncalense contou com o apoio dos pais e da escola que frequenta, apesar da mesma ter sido feita individualmente. Tânia Galeão garante que cada conquista dos alunos do IEJ é, no fundo, o reconhecimento do trabalho do dia-a-dia. «É uma satisfação imensa. Eu, juntamente com todos os professores aqui, fiquei muito feliz por ver o nome da Carolina na lista».
A Portugal Space tem planeada a repetição deste programa em anos vindouros, pelo que a mais jovem “astronauta” do Juncal aconselha: «Acho que qualquer pessoa devia tentar. Não há nada a perder, aliás, só a ganhar», sublinha.
Foto | Portugal Space