Foi com uma forte salva de palmas e todo o público de pé que um emocionado António Ferraria subiu ao palco dos Prémios Dom Fuas para receber o Prémio Carreira por toda uma vida dedicada à causa dos pequenos e médios agricultores. O “rosto” dos agricultores do distrito foi alvo de homenagem no dia 24 de junho e teve a assistir, na plateia, a um rol invejável de convidados, entre os quais o antigo ministro da Agricultura, Capoulas Santos.
E foi precisamente do ex-governante que veio o elogio mais inesperado: «Participei enquanto ministro em três governos e em todos eles o António Ferraria foi, seguramente, o meu mais perigoso adversário político e quem mais manifestações organizou contra mim», disse acrescentando que, por outro lado, isso lhe permitiu conhecer a sua «disponibilidade para o diálogo» e encontrar «um homem sério, íntegro e leal» com quem foi solidificando uma grande amizade que dura até hoje.
O presidente da Câmara, Jorge Vala, apresentou Ferraria como «homem simples, homem do povo, comunista por convicção, facto que nunca o impediu de manter bom relacionamento com pessoas de todos os quadrantes políticos, um permanente altruísta que toda a vida lutou pela causa dos mais pequenos, dos que não têm voz». O autarca destacou, ainda, que «António Ferraria foi sempre forte com os fortes com o objetivo de defender e dar voz aos mais fracos».
Por sua vez, a presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro (CCDRC) e antiga presidente da Câmara de Leiria, Isabel Damasceno, considerou de «uma enorme justiça a homenagem ao senhor Ferraria, um homem simples, um homem do povo, lutador por causas, convicto mas de um trato excecional, alguém que sempre tratou bem as pessoas com quem estava em oposição no âmbito da sua luta». A responsável felicitou a câmara «por esta merecidíssima homenagem, feita em vida, a um homem bom e que é um marco e uma referência da região» e agradeceu ao homenageado «pela sua luta e por tudo aquilo que fez pelo território da região de Leiria».
“Movimentei milhares de agricultores”
Ouvidos os elogios, António Ferraria agradeceu de forma emocionada e começou por fazê-lo «ao presidente e aos vereadores que colaboraram na decisão» de o homenagear, gesto que prometeu nunca mais esquecer.
«Eu ando no movimento dos agricultores há 64 anos e nestes anos todos movimentei milhares de agricultores. Lidei com vários governos e vários ministros e fui dezenas de vezes à comissão de Agricultura da Assembleia da República e ao Ministério. O Dr. Luís Capoulas Santos disse que fui o seu pior inimigo mas eu estava a fazer a minha função», afirmou elogiando o antigo governante «por ter recebido sempre os agricultores do distrito, por ter vindo, por mais de uma vez, a Leiria» e nunca se esquecer de os convocar «quando chamava as confederações». «A amizade que temos entre nós é profunda» frisou.
Com o seu modo genuíno e o humor que todos lhe reconhecem, recordou, a seguir, as vivências e a colaboração que sempre teve por parte dos autarcas do concelho e da região. Foram assim evocados Gomes Afonso, José Ferreira e João Salgueiro, a nível local, e Narciso Mota (Pombal), António Lucas e Paulo Baptista Santos (Batalha), Fernando Costa (Caldas da Rainha) e Isabel Damasceno (Leiria), a nível regional. António Ferraria, teve também palavras de elogio para com os atuais presidente e vice-presidente da Câmara, respetivamente, Jorge Vala e Eduardo Amaral por todo o apoio que têm dado e pela sua presença muito efetiva nas lutas dos agricultores, sublinhando que a mais recente vitória – a autorização de caça ao javali durante todo o ano – também é mérito seu. Os elogios estenderam-se ao presidente da Caixa Agrícola de Porto de Mós, Jorge Volante, que acompanhou Ferraria «em muitas lutas» e a Margarida Teixeira, que está a frente da delegação de Leiria da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Centro «e que tem estado presente sempre que os agricultores precisam».
E porque de um microfone e de um palco Ferraria sempre fez arma, não desperdiçou a oportunidade. Recuperando a voz forte e vibrante, recordou «a situação muito complexa da agricultura e o encerramento de explorações» e reclamou «mais apoios para os pequenos e médios agricultores e para atrair jovens ao mundo agrícola em vez dos fundos comunitários estarem a ir para as grandes explorações do Alentejo e de Castelo Branco».
Nesta cerimónia, a outra distinção especial – o Prémio Responsabilidade Social – foi entregue ao Agrupamento de Escuteiros 370, de Porto de Mós que no ano passado festejou 50 anos de serviço ao concelho e à causa do Escutismo. No seu discurso, o presidente da Câmara sublinhou esta efeméride, sublinhando que «os escuteiros são o exemplo do compromisso com valores da solidariedade, altruísmo e causas em prol da comunidade e dos que mais precisam». Assim, «no ano em que o projeto pedagógico do Município é a Solidariedade» o responsável autárquico considera que o Agrupamento 370 «é o justo reconhecido».
O galardão foi recebido pelo chefe do Agrupamento, Paulo Santos (acompanhado de alguns jovens escuteiros), que manifestou «o profundo agradecimento» ao presidente da Câmara e restante executivo pela distinção, agradecendo, ainda, ao Corpo Nacional de Escutas (CNE) por aquilo que os «tem unido». O responsável disse ainda ser convicção do grupo, estar no caminho certo, que é deixar o mundo um pouco melhor».
Fotos | Isidro Bento