Depois de apenas ter autorizado a abertura de uma vaga para um médico para Porto de Mós quando a solicitação do Agrupamento de Centros de Saúde Pinhal Litoral (ACES – Pinhal Litoral) era de quatro, a Administração Regional de Saúde do Centro (ARS) mostra-se agora disponível para que no próximo concurso, em abril, haja um reforço dessas vagas, revelou o presidente da Câmara, Jorge Vala, na última reunião do executivo.
De acordo com o autarca, aquela entidade diz-se também aberta à «contratação de médicos, dentro dos meios legais disponíveis, para colmatar as faltas no Alqueidão da Serra e em Mira de Aire» e assume o compromisso de dar parecer favorável à criação de vagas carenciadas, uma modalidade que resulta do reconhecimento de que determinado território revela dificuldade em fixar clínicos e, por isso, os clínicos que fiquem com esses lugares têm «uma majoração de 25% no salários mediante a assinatura de um contrato por três anos». Também ao nível da Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados (UCSP) de Porto de Mós haverá abertura por parte da ARS para a contratação dos enfermeiros em falta.
Aquilo que, aparentemente, são boas notícias, está longe, contudo, de deixar o autarca descansado. Segundo ele, os compromissos agora assumidos pelo representante da ARS no decorrer do Conselho Municipal da Saúde, já o tinham sido antes «pela diretora» da mesma entidade e pelo próprio «secretário de Estado da Saúde» e até hoje nunca foram cumpridos. Se desta vez for diferente, ainda assim, «os resultados não serão imediatos» e as soluções preconizadas não irão resolver o problema na sua globalidade, avisa.
Para Jorge Vala o encontro com a associação de utentes da UCSP, a Ur’Gente, e a reunião do Conselho Municipal da Saúde só vieram «confirmar algumas das piores expectativas» que o Município já tinha no que diz respeito à falta de profissionais de saúde numa parte significativa do concelho, nomeadamente de médicos e todos os problemas que daí resultam.
Cenário negro com tendência para agravamento
Assim, descreve o responsável autárquico, «o coordenador da UCSP continua demissionário desde agosto e não é substituído no cargo» porque «pura e simplesmente não há médicos que o substituam». O Centro de Saúde de Porto de Mós conta, apenas, com dois médicos ao serviço «e um deles está a a trabalhar, diria “a favor”, porque já recebeu a autorização para se reformar». Uma das médicas «pediu a rescisão do contrato porque não aguentava a carga de trabalho, e a outra está com gravidez de risco e, segundo informação da responsável pelo ACES, o que configura uma ausência de dois anos» (cenário em tudo idêntico à médica de Arrimal/Mendiga).
Por seu turno, o médico que saiu em mobilidade nunca foi substituído. «No Alqueidão da Serra o médico está de baixa prolongada, em São Bento não existe médico por falta de tempo do de Serro Ventoso de ir lá duas vezes por semana» como está acordado. Em Mira de Aire, «uma enfermeira reformou-se e nunca foi substituída». Por sua vez, em Porto de Mós, assim que um dos médicos se reformar, o outro ficará a seu cargo «com os cinco ficheiros e como é centro de saúde sede terá, ainda de assegurar os ficheiros do Alqueidão da Serra e de Arrimal/Mendiga [ambos sem médico]» e portanto, frisa Jorge Vala, «facilmente se percebe que estamos a poucos dias de, eventualmente, se fechar o Centro de Saúde de Porto de Mós e passarmos a ter a saúde, como agora se diz, na cloud (nuvem)».
Médico atendeu 80 pessoas num único dia
Face a este cenário, o presidente da Câmara voltou a insistir que «aquilo que temos no concelho neste momento é uma situação dramática» dando como exemplo a questão do receituário dos doentes crónicos que pela, falta de médicos, «não está a ser feita com a celeridade que devia ter». Segundo Jorge Vala «há pessoas que vêm para o centro de saúde de madrugada» para lhes serem passadas receitas ou para conseguirem uma consulta no período que se inicia às cinco da tarde e os médicos não conseguem dar resposta. «Nós tivemos a informação que um dos médicos, na semana passada, num dos dias, atendeu 80 utentes. Ora, é humanamente impossível e fora de qualquer situação razoável um médico atender num dia 80 pessoas mas, de facto, aconteceu», sublinhou.
Além da boa vontade dos médicos, que Vala não se cansa de elogiar, o autarca reconheceu que «não fora muitas vezes a boa vontade das farmácias as pessoas ficavam sem medicamentos» precisamente por esta dificuldade em conseguirem o receituário em tempo útil.
“Não compete à Câmara andar aqui de porta em porta à procura de médico”
«Não fui eu quem anunciou médico de família para toda a gente e o facto é que esse anúncio político nunca se concretizou em Porto de Mós. Chegou em modo “pisca pisca” em determinados momentos mas com a consciência de que iria ter este resultado e para isso fomos alertando ao longo do tempo, inclusive o senhor secretário de Estado», recordou.
«A sugestão da ARS é a Câmara arranjar médicos que a ARS contrata mas também não compete à câmara andar aqui de porta em porta à procura de médicos. Ainda assim não desistimos de o fazer mas depois esbarramos nas condições proporcionadas e alguns deles, já reformados e com consultório próprio não estão disponíveis para vir pegar num ficheiro e, como me foi transmitido, ganhar uns míseros euros», acrescentou o autarca.
Jorge Vala disse que no Conselho Municipal da Saúde enquanto que a responsável do ACES – Pinhal Litoral afirmou que «adormecia e acordava a pensar no problema de Porto de Mós, o representante da ARS disse que «a questão de Porto de Mós é de uma gravidade extrema», no entanto, apesar deste reconhecimento, para o autarca continuam a faltar respostas efetivas e nalguns casos nem sequer foi por falta de aviso.
«Na boca do Ministério não há médicos mas, então, se não os há por que é não nos atribuíram as quatro vagas necessárias e só uma e não deixam o mercado funcionar? Eu fico a pensar, e disse-o na reunião, que não há vontade nem disponibilidade do Ministério para contratar médicos porque se houvesse, pelo menos, criava-se a expectativa de poder dizer à nossa população que nos atribuíram quatro vagas mas nenhuma foi preenchida porque não há médicos. Assim não podemos dizer e muito menos diremos se essa vaga que nos foi atribuída, for preenchida», concluiu.
«Este retrato exaustivo feito pelo senhor presidente sobre o estado da saúde no concelho não deixa ninguém nesta sala sossegado e de, facto, este é o assunto. Neste momento, todos os outros [assuntos] que preocupam o concelho são secundários», reforçou o vereador do PS, Rui Marto, partilhando das mesmas preocupações.