Início » Artur Costa: Desafiado pela vida, sem disposição para parar

Artur Costa: Desafiado pela vida, sem disposição para parar

19 Julho 2023
Bruno Fidalgo Sousa

Texto

Partilhar

Bruno Fidalgo Sousa

19 Jul, 2023

Nascido numa das famílias mais numerosas da Fonte de Oleiro («os Costa, os Matos e os Pragosa são metade da aldeia»), Artur Costa preza-se por ser «uma pessoa muito vivida» embora a vida lhe tenha dado – e obrigado a dar – voltas. Nasceu e criou-se agricultor, trabalhou numa empresa de lacticínios, numa fábrica de loiça, num talho, numa panificadora. Filho e irmão de três, foi pai de duas filhas gémeas e é marido há 37 anos. Isto é um resumo muito sucinto do que fez e o que transparece de Artur Costa. Mas a vida cumpre-se de desafios e, aos 40 anos, encarregou-se de provar que “não acontece só aos outros”, e que todos temos batalhas a vencer. Ganhou um cancro testicular – e venceu-o, depois de um duro tratamento. «Foram três meses a caminhar para Coimbra, nas últimas 10 semanas emagreci muito, mas aguentei a panada e comecei-me a reabilitar», conta. «Mas para me reabilitar foi preciso engendrar uma situação que me agarrasse outra vez à vida», continua: «Comprar a casa dos meus pais». E assim fez. É a casa onde ainda hoje mora, na Fonte de Oleiro («saiu uma vez um artigo no jornal, e a minha foi uma delas, no Portomosense. Foi um orgulho enorme»).

Dezoito anos depois, em novembro passado, uma nova reviravolta: dois enfartes no prazo de cinco dias. Que, apesar de não beber em excesso e de nunca ter fumado, atribui a «uma má alimentação, um mau descanso, poucas horas de sono, muito stress na vida» e às três vezes que apanhou novo coronavírus, «muito agressivo» (tendo tomado as três doses da vacina). «Infelizmente ainda estava no primeiro, então o segundo foi para me cortar as pernas, mas estou estável», explica. Esteve em reabilitação cardíaca, vendeu a sua parte da panificadora, onde trabalhava há 12, anos e comprou um trator. Um regresso às origens: «É um hobby, mas faço com todo o gosto e carinho porque tenho as raízes daí e nunca perdi o que eu aprendi». Foi o que fez até aos 21 anos – «a minha família foi uma família que nunca deixou de ser empregado».

Atualmente, aos 59 anos, está em casa «com a família, com a agricultura, a ajudar as filhas a tomar conta das netas». Uma família que, diz, sempre o ajudou, «que tem muito valor e tem os alicerces certos para a vida». A esposa, Maria do Céu Costa, conheceu-a numa «festa no campo da bola do Porto do Carro». Ela era dos Casais Garridos, ele tinha ido com os amigos para o outro lado do IC2, já que não tinha carro. Mais tarde comprou um Toyota Corolla, mas, até lá, o namoro foi complicado: «Como é que a gente se havia de encontrar? Não havia telefones, era a mota ou então era o posto público da aldeia. Ela ligava-me para o posto público, eu morava perto da loja, o senhor Américo Vala vinha-me dar o recado, que às tantas horas ela ia ligar, e eu estava lá». Depois foi pai, como é o ciclo, e as gémeas já estão criadas, com filhas e «com uma vida estável». «Todos os dias elas vêm trazer as filhas às 8h30 da manhã, nós cuidamos delas, vamos ao parque, pronto, para a mulher fazer as coisas de casa», revela, entre risos. Mas não «arrisca» levá-las para a agricultura, que «ainda são pequeninas». No trator, vai sozinho. E volva manter-se nessa atividade: «Não quero parar. Já estou a chegar aos 60 anos e estou numa de recuperar, mas quero ainda ser prestável para mim e para os meus e para alguém. Ainda tenho planos para futuro, mas para setembro, outubro, vou procurar outra atividade. Não me revejo já com esta idade encostado à box. Se nós tivermos saúde, por que não?».

Foto | Bruno Fidalgo Sousa

Pub

Primeira Página

Em Destaque