O risco de abandono escolar em Portugal aumentou desde que as aulas online começaram, indicam dados divulgados pelas escolas. Numa fase em que as aulas começam a ser retomadas, O Portomosense foi tentar perceber se o mesmo se passou nas instituições de ensino do concelho. Carlos Oliveira é professor bibliotecário, coordenador dos Recursos Educativos Partilhados no Agrupamento de Escolas de Porto de Mós e neste momento é também coordenador da equipa de monitorização e acompanhamento do plano de ensino à distância. Esta equipa pretende precisamente perceber de que forma os alunos estão a responder às atividades propostas no plano letivo. No final de cada semana, esta equipa tenta perceber junto dos professores quantos alunos fizeram ou não as tarefas propostas, sendo que os dados que Carlos Oliveira partilha com o nosso jornal dizem respeito às primeiras duas semanas de aulas online, entre 8 e 19 de fevereiro.
Os dados estão divididos por ciclo de ensino, no primeiro ciclo há 1,73% de alunos que não fizeram as tarefas pedidas, já no segundo ciclo a percentagem é de 3,7%. O terceiro ciclo tem a maior percentagem: 8,29%. O ensino secundário está dividido, nas turmas dos cursos científico-humanísticos a percentagem é de 3,3%, já nos cursos profissionais é de 2,4%. O professor salienta o facto de serem percentagens «muito pequenas», que relevam que a esmagadora maioria dos alunos apresenta o trabalho solicitado. Carlos Oliveira tem ainda uma explicação para a maior taxa no terceiro ciclo: «Um dos principais fatores terá a ver com a distribuição dos equipamentos. O agrupamento emprestou 233 tablets ou computadores aos alunos mas eles não os tiveram logo no primeiro dia, demorou entre uma semana a uma semana e meia. Primeiro foi preciso ver os alunos do escalão A e B que tinham prioridade, depois começou-se a distribuir pelos alunos do secundário, porque tinham exames e o agrupamento considerou que eram prioritários. O primeiro ciclo também já tinha os tablets que o Município distribuiu e por isso o terceiro ciclo acabou por ficar para o fim». Esta questão deixou de se colocar na primeira semana de março, em que todo o universo escolar já tinha forma de acompanhar as aulas. Dos quase 2400 alunos, 50 «continuam a seguir as aulas nas escolas», 16 deles «cujo os pais estão na linha da frente e têm o direito legal de estar na escola e 34 porque têm situações familiares vulneráveis».
O agrupamento realizou também inquéritos a uma parte dos alunos, pais (apenas dos alunos dos primeiro e segundo ciclos) e docentes. Aqui, Carlos Oliveira, frisa que os resultados «estão todos positivos». As questões podiam ser respondidas com cinco graus: Discordo totalmente, Discordo, Não Concordo nem Discordo, Concordo, Concordo Totalmente. Foram consideradas respostas positivas apenas as que tinham uma percentagem de resposta de 75% ou mais com Concordo e Concordo Totalmente. De uma forma global o aspeto considerado mais negativo tem que ver com o tempo gasto nas tarefas: «Os alunos e até os professores consideram que o ensino à distância é mais cansativo no sentido em que passam mais tempo a fazer tarefas do que passariam se estivessem na escola».
Em todos os graus de ensino os alunos responderam de forma positiva em parâmetros como: «Estar bem informado sobre o plano do Agrupamento; Ter os equipamentos informáticos necessários; As plataformas tecnológicas usadas pelos professores permitem perceber os conteúdos; Facilidade em contactar com os professores», sendo estes apenas alguns exemplos. Em relação ao primeiro confinamento houve uma melhoria nos resultados e Carlos Oliveira considera que se pode dever ao facto de toda a comunidade escolar estar mais preparada. «Estão os alunos do ponto de vista tecnológico, uma vez que muitos pais compraram computadores, houve um grande esforço das famílias e os professores também fizeram muita formação para se adaptarem às plataformas», conclui.
Alunos já não esperavam voltar às aulas online
A diretora pedagógica do Instituto Educativo do Juncal (IEJ), Tânia Galeão, descarta a questão do abandono escolar, no entanto salienta que está consciente que o ensino à distância traz «alguma desmotivação» aos alunos. «Conversamos com os alunos, fazemos um feedback semanal com os pais e os alunos sentem-se, neste segundo confinamento, mais apáticos, com menos vontade, menos pró-ativos e isso sentimos que é transversal a todos», explica. «Neste momento o que os alunos relatam é cansaço pelo facto de terem voltado para casa, eles estavam muito entusiasmados com o regresso à escola e sentiram, no primeiro confinamento, que era uma fase que ia passar rapidamente, agora percebem que ainda não está para breve o regresso à escola», acrescenta a diretora. Há ainda relatos de alunos que, devido à ansiedade causada por este momento, têm tido «dificuldade em dormir, dificuldade de concentração e sentem muita falta de fazer exercício».
Tânia Galeão refere, no entanto, que em nenhum momento os alunos dizem estar desmotivados com as aulas ou com as tarefas em si: «Eles até sentem que a forma como estamos a trabalhar, com atividades dinâmicas, com convidados em diferentes disciplinas, com mais projetos, é melhor, aprendemos a fazer muito mais coisas à distância», refere. A diretora revela que existe neste momento uma taxa de 5% de alunos que «não cumprem metade das tarefas do plano, ou seja, que não aparecem em várias aulas e que o IEJ já está a referenciar e a contactar os encarregados de educação». Todos os alunos pertencem ao ensino secundário, o que significa que até ao 9.º ano não há qualquer aluno nesta situação. Porquê no secundário? Tânia Galeão aponta alguns motivos: «Porque alguns destes alunos já são encarregados de educação de si próprios, são alunos maiores, que já na escola têm de ser muito motivados, com alguns interesses divergentes dos escolares, e por estarem em casa dormem até tarde, somos nós que os acordamos, outros estão a ajudar a família no trabalho ou a tomar conta dos irmãos e isso serve de desculpa para não irem às aulas, mas a verdade é que se quisessem, conseguiam», acredita. Neste momento a questão dos equipamentos também não é um impedimento, uma vez «que todas as situações de alunos sem computadores, tablets ou internet» foram asseguradas pelo IEJ. A professora termina salientando que o balanço é positivo e que 80% dos alunos cumprem todas as tarefas do plano letivo, uma percentagem que considera «muito boa».