O futebol é, sem dúvida, o desporto que mais adeptos tem em Portugal e mesmo os que “não vão à bola” com a bola, abrem muitas vezes a exceção para ver os jogos da Seleção Nacional, sobretudo nas fases finais das competições europeias e mundiais. No minuto 109 do Portugal-França, a 10 de julho de 2016, Éder Lopes marcou o golo que nos tornou (temos a mania de nos incluir), pela primeira vez, campeões europeus. Há, do concelho, quem tenha estado no estádio nesse jogo e em muitos outros jogos, estádios e competições onde a Seleção já jogou. Em ano de Europeu, ainda com a palavra Bélgica atravessada nas nossas gargantas, fomos tentar perceber qual a motivação de dois adeptos que já percorreram várias milhas para acompanhar a Seleção.
Europeu de 2004 foi determinante
Nuno Moreira da Silva (à esquerda na fotografia) e António José Ferreira (ao centro na fotografia) falaram em separado a O Portomosense, mas rapidamente percebemos que estão em sintonia em tudo, até porque têm sido a companhia um do outro em muitas das viagens em direção às cidades onde Portugal vai jogar. O Europeu de 2004 que se realizou precisamente em Portugal foi um impulso determinante para que daí em diante acompanhar a seleção fizesse parte dos planos. «Toda a gente assistiu ao fenómeno provocado pelo selecionador da altura [Felipe Scolari], que provocou uma adesão em massa», recorda Nuno Moreira da Silva. Aliado às bandeiras que se viam em todas as janelas, às músicas de apoio, ao espírito que se vivia na rua, a «boa prestação» da seleção, que chegou à final (perdida para a Grécia) acentuou ainda mais a energia em volta da equipa das quinas. «Depois, há pessoas que gostam mais dos clubes do que da seleção, eu não. Também tenho admiração por um clube, vou ver jogos, mas só uma vez acompanhei o meu clube fora do país e não teve o mesmo impacto. As pessoas que acompanham as seleções, salvo pequenas exceções, veem o futebol como uma festa e para alguns adeptos do clube não é uma festa, é uma guerra», frisa ainda Nuno Moreira da Silva.
António José Ferreira partilha exatamente da mesma opinião: «É um espírito de união de todos os portugueses, enquanto que nos clubes cada um puxa por um, ali todos o que falam português puxam pela mesma camisola, é uma sensação brutal quando ouvimos o Hino no início dos jogos». Além do convívio com os adeptos portugueses, muitos deles com quem foram travando amizade ao longo dos anos e das competições, onde se cruzam sempre com caras repetidas, há também o convívio com adeptos de outras seleções, sendo essa também uma das principais diferenças de ver jogos em casa ou noutro país. «Em Portugal, acaba o jogo e vamos para as nossas casas, para o trabalho, fora do nosso país há outra dinâmica, tudo o que se passa fora do estádio, convivemos muito com adeptos de outros países». A vertente «férias» é também salientada por ambos, uma vez que esta é uma forma de tirar uns dias para conhecer outras cidades, «algumas delas que poderiam não constar na lista de destinos» caso não recebessem estas competições.
Nuno Moreira da Silva, desde 2004, só não esteve no Mundial que se realizou na África do Sul em 2010, o que significa que esteve em sete competições: Mundial da Alemanha em 2006, Europeu de 2008 na Áustria e Suíça, Europeu de 2012 na Polónia e Ucrânia, Mundial do Brasil em 2014, Europeu de 2016 na França (inclusive na final), Mundial de 2018 na Rússia e este ano no Europeu 2020 realizado em 11 países, embora tenha estado apenas nas cidades onde Portugal jogou. Já António José Ferreira não esteve no Mundial da África do Sul em 2010 nem nos Mundiais do Brasil em 2014 e da Rússia em 2018. E qual foi a competição que gostaram mais, independentemente do resultado? A resposta é a mesma para os dois adeptos: Mundial da Alemanha em 2006. «Tirando o Europeu de 2016 em que fomos campeões, sem dúvida o Mundial na Alemanha, porque nos surpreendeu muito, não esperávamos uma resposta tão positiva, calorosa por parte do povo que nos ia receber e também porque foi a primeira vez que saí para acompanhar a seleção», explica Nuno Moreira da Silva. António José Ferreira corrobora: «Foi incrível, a ideia que tinha do povo alemão era que era um povo muito fechado e encontrámos um povo aberto, simpático, com uma disponibilidade para ajudar incrível», recorda. «Não sei com quem íamos jogar, mas foi na cidade de Gelsenkirchen e fomos sem ter alojamento. Estávamos à procura e uma senhora alemã na casa dos 60 e tal anos ouviu a conversa e sem nos conhecer de lado nenhum disponibilizou-se para que dormíssemos na vivenda dela, dois na sala e outros dois numa tenda no jardim. Foi extremamente engraçado e inesperado. Fiquei com uma ideia muito positiva dos alemães a receber», conta.
Se o futuro permitir e se a seleção continuar na tomada de apuramentos para as fases finais, os dois adeptos e amigos querem também continuar a estar presentes em vários estádios do mundo a cantar A Portuguesa, embora tenham opinião diferente em relação ao próximo destino. «Espero estar daqui a um ano e meio no Mundial do Qatar», afirma Nuno Moreira da Silva. Já António José Ferreira, não tem tantas certezas: «No próximo Europeu em 2024, se cá estiver vou de certeza porque vai voltar a um país que gostámos muito, a Alemanha, mas no Mundial do Qatar não sei, é um país que não me chama muito por várias questões, mas até pode ser que prevaleça o amor ao país e à seleção», admite entre risos. Nuno Moreira da Silva, por outro lado, até já está a poupar para a próxima competição. «Eu sou um ex-fumador e eu digo a brincar que é tabaqueira que patrocina o acompanhamento, se puser o dinheiro que gastava no tabaco de lado, ainda sobra. Este ano como não me deixaram gastar tudo, não vou a Londres [local da final do Europeu 2020], vai sobrar para o Mundial do Qatar».