No Dia Internacional da Mulher, 8 de março, duas mulheres autarcas visitaram uma fábrica (a MB Ceramics) onde cerca de 20 mulheres trabalham (e nenhum homem) e que é também liderada por uma mulher. Esta foi a forma de a presidente da Assembleia Municipal (AM) de Porto de Mós, Clarisse Louro, e a vereadora da Câmara de Porto de Mós, Telma Cruz, homenagearem as mulheres neste dia, entregando uma gerbera a cada mulher e almoçando depois com as funcionárias. «É muito importante ainda celebrarmos este dia, obviamente que há muitas vozes contrárias, que perguntam “porquê comemorar?”, é importante comemorar porque ainda há muitas desigualdades entre o homem e a mulher, há muita discriminação, os salários das mulheres ainda são mais baixos que os dos homens em Portugal; porque há a violência doméstica e a violência no seio da família, também há homens vítimas de violência, mas o último estudo que saiu diz que continuam a ser as mulheres as mais violentadas», sublinhou a presidente da AM. Clarisse Louro fez questão de evidenciar um número preocupante: «No ano de 2022, morreram 28 mulheres no seio da sua relação, portanto, a mulher, infelizmente, ainda não atingiu aquilo que queremos que atinja», afirmou.
Na opinião da autarca, «o passado histórico que as mulheres têm em cima delas» é um dos motivos para que a mudança seja mais lenta. «Um passado de uma vivência de um homem muito machista, muito entrosado ainda na nossa sociedade», refletiu. Apesar de considerar que há mulheres que já não se sentem em desigualdade perante os homens, Clarisse Louro acredita que é importante continuar a luta por todas «as que ainda viverem estas situações». A autarca acredita ainda que é importante que as mulheres se façam «valer dos seus direitos e que exijam respeito»: «Que as pessoas percebam a importância da mulher, mais ninguém vai ter filhos, é através de nós que a humanidade se desenvolve e é também na maternidade que temos os maiores problemas a nível do emprego», alerta. «A mulher é o cuidar de todos, é o cuidar da família, um local onde haja mulheres há mais humanidade, nós somos mais emotivas e ainda bem que somos, temos uma relação diferente e realmente cuidamos do mundo de uma maneira importante», sublinha Clarisse Louro. Por isso, recomenda: «Nunca deixem ninguém faltar-vos ao respeito quer seja um homem, namorado, marido, patrão, seja quem for».
Telma Cruz foi ao encontro do testemunho da presidente da AM: «As palavras dela retrataram o que já temos e o que ainda temos que conquistar e não podemos desistir. Temos que ir conquistando, dia após dia, o nosso papel na sociedade». «Vocês são um grande exemplo porque trabalham aqui, quando chegam a casa também têm outras tarefas a desempenhar, umas mães, outras filhas, mas temos todas um papel a desempenhar para além do nosso trabalho profissional», releva. A vereadora salientou que no Dia da Mulher foram assinaladas várias iniciativas no concelho, «um Dia da Mulher em grande». «Uma palavra à senhora presidente da AM, ela foi a primeira mulher presidente da AM em Porto de Mós e representa-nos muito bem», realçou Telma Cruz. A autarca deixou ainda «uma palavra de gratidão» a Rita Belo, proprietária da empresa: «Recebe-nos sempre muito bem e representa o papel da mulher empresária», concluiu.
Ser empresári(A) num mundo masculino
Rita Belo é empresária, num mundo em que raramente dizemos esta palavra no feminino. Além disso, tem apenas mulheres à sua liderança. «Este setor, por si só, já tem tendência a ter muito mais mulheres do que homens e começou por ter só mulheres e foi continuando até que hoje somos quase 20, agora se colocar um homem, acho que elas até iam ficar um bocadinho sem jeito», brinca. Apesar disso, Rita Belo garante que isto «não é nenhuma bandeira» e que no futuro poderá vir a contratar homens.
Quanto a ser mulher num mundo, ainda, dominado por homens, a proprietária admite que é ainda «um pouco ingrato». «Ainda veem o papel da mulher como secundário, como não ser tão capaz, há muitas melhorias, mas poderá haver mais», frisa. Já teve situações em que lhe pediram “para falar com o patrão”, quando a patroa é ela mesmo, mas essa hipótese não era colocada. «No entanto, como 99% do nosso trabalho é para exportação, no estrangeiro valorizam o facto de ser uma fábrica “comandada” por uma mulher e o facto de sermos mesmo só mulheres, é muito reconhecido, principalmente nos Estados Unidos da América, eles reconhecem e gostam de salientar isso», conta.
Quanto às dificuldades no caminho empresarial, vieram não só por ser mulher, mas também por ser jovem (tem atualmente 40 anos). «O trato é diferente por ser mulher, mas também por ser nova, sinto que há alguma insegurança nas pessoas, mas com o decorrer do nosso trabalho, foi-se perdendo», conclui.
Foto | Jéssica Moás de Sá