«Um dos problemas das Câmaras e Juntas deste país é, por vezes, terem dinheiro a mais». A frase ouvi-a, precisamente, da boca de um autarca em exercício de funções e ultrapassada a surpresa inicial sou obrigado a concordar.
Excetuando este caso, não conheço um único autarca detentor de poder executivo que não se queixe da falta de dinheiro para levar a bom porto a sua missão e, de facto, a natureza das suas funções assim o propicia porque é sempre possível investir mais em benefício da comunidade, mas será que essas verbas são bem aplicadas? O comentário do tal autarca de outras paragens foi dito precisamente nesse sentido: há muitas coisas que se fazem com a melhor das intenções mas que, na prática, de imediato ou com o passar do tempo, se revelam um autêntico desperdício de dinheiros públicos ou que, no mínimo, levantam sérias dúvidas da utilidade prática daquilo que permitiram fazer.
Se o dinheiro fosse mais escasso então, talvez, o que se fizesse fosse também pensado de forma mais criteriosa. A teoria é mais ou menos esta e olhando agora para a realidade do nosso torrão natal nos últimos 30 anos, sou obrigado a concordar. É óbvio que, numa determinada perspetiva, faltou (e falta) sempre dinheiro aos autarcas para fazer mais, veja-se o exemplo da água e do saneamento, mas também há que reconhecer que houve muita coisa feita de modo apressado, sem a reflexão necessária, e que nem sequer correspondia a uma necessidade efetiva da população sendo mais efeito da moda da época ou antecipando cenários que, afinal, se revelaram demasiado otimistas.
Temos, por exemplo, equipamentos em espaço público com uma taxa de utilização ridícula face às expectativas criadas e ao investimento realizado, obras de investimento vultuoso cuja necessidade e localização deixam muitas dúvidas ou onde se gastam largos milhares de euros e que escassas semanas ou meses depois de inauguradas já necessitam de obras de manutenção, herdámos uma série de edifícios e de espaços para os quais foram sonhadas grandes coisas mas que nunca passaram de um sonho, por demasiado ambicioso ou por não termos feito nada para o tornar real. E qual é a nossa postura? Parece-me que é a de quem aprendeu pouco com os erros e que fazemos muita coisa que não corresponde a uma necessidade efetiva de quem cá vive ou de quem nos visita e, por isso, acaba por ter tão pouco sucesso. Uma coisa é ter visão, outra é não ter noção da realidade, ser demasiado imprudente ou ir atrás de modas. Prefiro mil vezes ter 50 turistas a reclamar que faz falta um centro de interpretação na Mata do Figueiredo e ver que a Câmara ou a Junta, perante essas queixas, pede pareceres técnicos, espreita aquilo que se passa noutros concelhos com realidade comparável à nossa e depois discute o assunto longamente e decide se o custo/benefício é equilibrado e vale mesmo a pena fazer a obra, que avançar primeiro e depois rezar para que os turistas venham e tenham paciência para ler painéis informativos antes de se embrenharem na Mata. E quem diz centros de interpretação, diz parques de merendas, fontes, ciclovias, miradouros, rotundas, espaços verdes, passeios, equipamentos de lazer e de desporto, enfim, tudo aquilo que é feito em espaço público para o bem comum, sempre com boas intenções, mas nem sempre bem pensado.

Isidro Bento