Há quatro anos, o título deste editorial foi “Autárquicas ainda não acabaram”. Nessa altura, já haviam passado cerca de 10 dias após as eleições, o que não sendo uma eternidade é, contudo, muito tempo se tivermos em conta que o pós eleitoral é, por norma, um período fervilhante de atividade politico-partidária e de novidades. E se no momento em que escrevíamos ainda havia muito em aberto e por conhecer, o que dizer agora, quando as eleições foram há escassos quatro dias e, como é óbvio, para que os nossos leitores possam ter hoje, quinta-feira, o jornal nas suas mãos, estamos a escrever cerca de 48 horas após tudo ter acontecido? De facto, passou muito pouco tempo e quase nada se sabe daquela que será a realidade efetiva pós-eleitoral.
Os números redondos já são conhecidos de muitos e numa análise desapaixonada aos resultados saídos das eleições poderemos, talvez, encontrar boas pistas sobre aquilo a que o eleitorado deu o seu “sim” e àquilo a que disse “não” (nesta eleição essas duas vertentes de um mesmo resultado estão, na minha opinião, bem vincadas). Sabemos, portanto, o que os números nos mostram e podemos tirar as nossas ilações com base nisso. Já do futuro próximo, que não se esgota em si mesmo mas terá efeitos a quatro anos, ainda há muito para descobrir, e isto logo a começar pelos protagonistas. Os eleitos sabemos quem são, já quem irá assumir o cargo para o qual foi escolhido pelos portomosenses e o papel efetivo que terá neste mandato autárquico é uma incógnita e isso faz toda a diferença.
O ideal seria que todos os que se candidataram aceitassem humildemente os resultados e assumissem o lugar que os portomosenses lhe quiseram dar mas sabemos que nem sempre assim é. Há vários fatores em jogo e esses, decerto, estão a ser avaliados pelos próprios. Confesso que este tipo de situação que encontramos em todos os órgãos autárquicos, desde a Assembleia de Freguesia à Câmara, me faz alguma confusão. É suposto que quem entra numa qualquer corrida eleitoral saiba que, à partida, há dois cenários possíveis: ou ganha, ou perde (pode também empatar mas isso é muito mais raro). Ora, havendo essas duas hipóteses e antes de tornar efetiva a candidatura devia avaliar muito bem se a nível político, profissional e pessoal é uma luta que lhe interessa ou quer assumir com todas as consequências que, precisamente, poderão advir daí para a sua vida pessoal, profissional e política.
A lógica, para mim, devia ser esta mas reconheço que a realidade política pode tornar as coisas mais complicadas já que há situações em que a pessoa sabe que foi eleita mas o lugar e as responsabilidades que passará a ter nem sempre dependem de si. E, naturalmente, nem todos estão dispostos a aceitar o que lhe quiserem dar ou ficarão satisfeitos com o que resultar da negociação política que nalguns casos se torna imprescindível ter.
Em suma, menos de uma semana depois das eleições ainda há muito para saber do que o futuro nos reserva em termos autárquicos. Conhecemos o cenário global, falta-nos, agora conhecer os protagonistas efetivos e o papel que cada um irá assumir nos vários órgãos autárquicos da nossa terra. Neste contexto, ainda é cedo para uma análise, por simples que seja, aos resultados eleitorais. Decerto voltarei ao tema mas isso não é impeditivo de que já, no imediato, felicite todos aqueles que foram eleitos para a nobre missão de servir o poder autárquico, o mesmo é dizer, de estar ao serviço de Porto de Mós e dos portomosenses. Trata-se de uma missão trabalhosa e tantas vezes bastante desvalorizada por quem, no fundo, beneficia dela, ou seja, toda a comunidade, mas que honra quem, apesar disso, a abraça com toda a convicção.
Além das felicitações a todos os eleitos julgo que é de elementar justiça deixar uma palavra especial a Jorge Vala, o atual e futuro presidente da Câmara. Não pondo minimamente em causa todas as outras pessoas, de várias forças partidárias, que venceram os desafios a que se propuseram, julgo que será consensual que o grande vencedor da noite foi, de facto, Jorge Vala.
Finalizando como comecei, ainda há muito para saber e escrever sobre as autárquicas 2021 e é isso que vamos continuar a fazer nas próximas semanas. À semelhança de atos eleitorais anteriores, O Portomosense e a Rádio Dom Fuas mais do que fazer o acompanhamento noticioso procuraram fazer verdadeiro serviço público e daí ter havido tempo e espaço para iniciativas que noutros órgãos de comunicação social são mais raros, se não mesmo, inexistentes. Veja-se, por exemplo, o já habitual debate com os candidatos à Assembleia Municipal, algo extremamente raro de encontrar nas rádios e jornais locais de norte a sul do país, mas do qual os portomosenses já não prescindem.