Dois jovens do concelho de Porto de Mós formaram a equipa Bigodes do Deserto e vão atravessar Marrocos de carro para entregar material escolar e outros produtos a algumas das comunidades mais remotas do país. Entre os dias 15 e 23 de fevereiro do ano que vem, João Rosa e André Sousa vão participar no Uniraid, «uma grande aventura humanitária de solidariedade», que «não é um rally ou uma prova de velocidade», mas antes «uma viagem-aventura», pode ler-se no site do evento.
O ponto de partida e de chegada será em Tânger e durante o percurso, as várias equipas vão atravessar Marrocos pelo interior, atravessando parte da cordilheira do Atlas em direção ao deserto de dunas do Erg Chebbi onde será feita a entrega solidária dos materiais angariados por cada equipa, nas aldeias selecionadas previamente pela organização. Seguem depois para Marraquexe, onde farão um passeio turístico, regressando por fim ao ponto inicial. De acordo com informação da página oficial, no total, os participantes completarão sete etapas e vão conduzir por «estradas de montanha, trilhos, areia e dunas», sendo que as dormidas vão ser distribuídas da seguinte forma: três noites em hotéis, quatro em acampamentos organizados no deserto e uma noite de acampamento livre. «O desafio» é superar todas as etapas «apenas com um road-book, um mapa e uma bússola, a bordo de um carro com mais de 20 anos».
Os dois jovens portomosenses foram desafiados por «colegas que já participaram no ano passado» e disseram imediatamente “sim”: «Gostámos e agarrámo-nos ao projeto», conta João Rosa a O Portomosense. André Sousa diz que irem juntos foi também uma decisão automática já que estão «habituados a ir sempre os dois»: «É difícil arranjar bons parceiros para estas aventuras e como já estamos habituados um ao outro e nos suportamos, acho que é uma boa parceria», reitera entre risos.
João Rosa considera que este desafio tem quatro faces: a aventura, a solidariedade, a experiência e a formação. «Aventura porque vamos fazer as pistas do Dakar, cada etapa que fizermos vai ser mais difícil [que a anterior] e com poucas condições»; a entrega de «material escolar, brinquedos, o que for» explica a parte solidária; a experiência é adquirida «por causa da construção do carro»; e formação devido a tudo o que já foi referido pelo que vai ser necessário «aprender lá para poder arranjar o carro se este se avariar», explica.
O carro
A viatura que vai acompanhar a dupla nesta aventura é um Toyota Corolla de 1992. A escolha foi simples: «Achámos que era um carro mais ou menos viável e para o qual conseguiríamos arranjar peças caso houvesse falhas», além disso, «é um carro de mecânica bastante simples» e cumpre todas as regras, como por exemplo ter mais de 20 anos ou um máximo de cilindrada de 1300 cc, «e foi barato, essencialmente isso», esclarece André Sousa. Poupar dinheiro na compra do carro, permite-lhes investir mais na preparação do carro, que além da prova em si, deverá superar também o trajeto de Porto de Mós até Marrocos, que é de cerca de 600 quilómetros.
Atualmente, é nessa fase de preparação que estão os dois amigos, «numa parte mais de mecânica»: «Temos o carro desmontado, já abrimos o motor, já montámos e depois é pôr a trabalhar e continuar com a parte de adaptação, melhorar certas condições do carro para poder andar na areia», explica João Rosa. Depois disto segue-se uma «parte também difícil que tem a ver com o dimensionamento do peso que será necessário levar», adianta.
Além dos custos com o carro, a prova tem ainda um custo de participação que ultrapassa os 1700 euros, pelo que João Rosa e André Sousa procuram patrocinadores que os possam apoiar financeiramente ou com géneros.
Fazer a diferença nas comunidades locais
À paixão pelo mundo dos carros e pela aventura, juntou-se a solidariedade, um valor que diz muito os dois jovens, também escuteiros no agrupamento de Porto de Mós.
«O que é proposto pela organização é [levarmos] material escolar, contudo estão abertos a outras possibilidades», começa por explicar André Sousa. O jovem conta que, em anos anteriores, houve uma equipa que «levou uma máquina de costura, ou duas ou três, ofereceu a algumas famílias, em escolas, e ensinou a costurar, para que depois pudessem fazer algo com ela». Outro exemplo é o de uma equipa que ofereceu «painéis escolares para possibilitar energia nalgumas escolas ou algumas lâmpadas para terem melhor iluminação», por isso, o que se pretende é fazer «algum tipo de solidariedade para com as crianças, as escolas e as comunidades mais remotas», explica. «O objetivo deste raid é mesmo levar-nos aos locais mais remotos e não só às cidades que é para onde as pessoas normalmente viajam», revela.
É também neste sentido que os dois jovens procuram patrocínio das empresas e a colaboração das pessoas. Apesar de não terem ainda um objetivo específico quanto ao que querem levar, André Sousa afirma que farão «um esforço por levar e distribuir» tudo aquilo que as pessoas tiverem para oferecer, sendo que «o mínimo imposto pela organização são 40 quilos» de material solidário. Quem quiser colaborar pode contactá-los através do e-mail bigodes.do.deserto@outlook.com.