A rubrica Figuras da Nossa Terra levou-nos até à localidade de Tremoceira, freguesia das Pedreiras, e por lá encontrámos Beatriz Beato, uma jovem de 23 anos que, apesar da tenra idade, tem muito para contar.
Iniciou estudos perto de casa e seguiu depois para o Instituto Educativo do Juncal, escola que a acolheu até terminar o ensino secundário. De seguida, o destino reservou-lhe a cidade de Évora como cidade universitária, onde completou a sua licenciatura em Relações Internacionais. Diz que foi «o destino que quis que fosse assim», porque este era o seu plano B, já que o A era ir para a capital estudar Direito.
Apesar de Évora e de Relações Internacionais não serem inicialmente nem a cidade nem a licenciatura dos seus sonhos, a verdade é que lhe proporcionaram «anos incríveis». Beatriz revela que o processo de não entrar na primeira opção da faculdade, apenas por uma décima, «foi muito difícil», mas bastou apenas uma semana para perceber que não tinha de trocar nem de cidade nem de curso: «A cidade é muito acolhedora e tem um espírito académico incrível, e o curso é muito completo e abrange, para além de Direito, muito outros interesses da estudante», afirma. No seu terceiro ano decidiu candidatar-se ao programa Erasmus: «Lancei-me à tonta para a Bulgária e foi «muito, muito bom». Esta experiência, quase às cegas, acabou também por colocá-la à prova, sobretudo devido à distância. Durante o tempo em que por lá viveu e estudou, nunca veio a Portugal nem recebeu visitas. Foi precisamente em Erasmus que decidiu a sua futura área de estudos de mestrado: atualmente, é finalista em Ciências Empresariais, no Instituto Superior de Economia e Gestão, da Universidade de Lisboa, e está a trabalhar na sua tese. Este mestrado revelou-se, também ele, desafiante: «O tipo de ensino é mais exigente do que em Évora e a adaptação foi difícil uma vez que sentia que as pessoas não eram tão acolhedoras. Hoje em dia, acredito que tudo acontece no tempo certo», diz, garantindo ainda que não se arrepende e agradece imenso por ter estudado em Évora.
Para além do gosto por áreas tão distintas como as do Direito, Economia, História e Gestão, Beatriz tem outras paixões: a cozinha e o escutismo. O gosto pela arte da culinária começou desde muito nova e é algo que já passa de geração em geração na sua família: todos cozinham e partilham os seus segredos de culinária. Desta paixão surgiu o seu projeto no Instagram À moda da Bea, muito impulsionado pelos amigos que a incentivaram a partilhar as suas receitas com o mundo através da internet. Nesta que é a sua página de receitas, partilha com os outros o seu gosto e as suas diferentes experiências. Esta página surgiu durante a época de quarentena, devido à necessidade que Beatriz sentia em arranjar forma de se abstrair de tudo o que se estava a passar no mundo. Foi uma «escapatória, superação e desafio». O projeto foi algo que uniu muito mais a sua família. Todas as semanas fazia receitas acompanhada dos seus familiares, que são os seus «cobaias» e cada vez mais tinha vontade de fazer novas receitas.
Se a culinária surgiu quase que por necessidade, o gosto pelo escutismo apareceu naturalmente aos 6 anos e desde então não se imagina fora do movimento. Revela que foi através do escutismo que desenvolveu as suas capacidades de organização, de liderança e de comunicação. Este ano enfrentou aquele que foi o projeto mais estimulante da sua vida: foi coordenadora do cenáculo da região Leiria-Fátima, um projeto que acontece em todas regiões, uma vez por ano, que tem como objetivo debater e abordar temas úteis para os jovens com o intuito de desenvolver soluções para as problemáticas existentes. Ao longo de um ano e meio teve de coordenar equipas, ser comunicativa, preparar logística e certificar-se que todo o evento corria bem. Liderar o projeto deu-lhe ferramentas que acredita que lhe vão ser muito úteis no seu percurso profissional. Considera ainda que o escutismo prepara os jovens para o seu futuro profissional, para viverem em sociedade, para enfrentarem os desafios do caminho, ajudarem o outro sem hesitar.
Beatriz Beato é uma jovem com diversos pontos de interesse, mas o que valoriza mais é quem está perto: «Sou muito próxima da minha família e para uma pessoa que quer claramente emigrar é muito difícil isto porque nós somos muito ligados». O núcleo familiar assume um papel de relevo na sua vida e a jovem sente que «agora é a hora de retribuir todo o esforço feito por eles». «Apoiaram-nos (a Beatriz e ao irmão) muito sem nos tornar muito mimados», frisa, referindo-se tanto aos pais como aos avós.
Foi também com a força da família que conseguiu enfrentar o momento mais difícil da sua vida: a perda da sua avó, com quem tinha uma relação muito próxima e que considerava ser «o coração da família», dizendo que «se o coração para, o corpo também para, e acho que a minha família ainda se uniu mais para não deixar o coração parar».
Como momento mais feliz, recorda o dia em que fez uma surpresa a toda a sua família no 90.º aniversário da sua avó. Naquele dia, regressou de surpresa da Bulgária. «Era a única pessoa que não iria estar presente naquele dia especial, então não foi um momento só feliz por mim, foi por ver os outros felizes», recorda.
Como perspetivas futuras, Beatriz ambiciona entrar em novos projetos, isto porque para além do escutismo foi embaixadora de uma empresa e participou numa associação da área de Finanças da sua escola. Neste momento, para suprir esta necessidade, e para se conseguir ligar mais à política sem se associar a um partido, em setembro abraça os 230, um projeto de responsabilidade cívica que tenta descomplicar a política e combater a desinformação nesta área.
Um dos seus maiores sonhos seria trabalhar nos órgãos da União Europeia, uma vez que esta tem «projetos enriquecedores para os jovens em muitas áreas». Visto que já teve a experiência de estudar fora, também gostaria de ter a de trabalhar fora e quer desafiar-se, enfrentando as dificuldades que terá. A jovem remata dizendo que «a vida não se faz de coisas fáceis e é com as dificuldades que aprendemos a dar valor à vida».
Foto | Cristiana Oliveira