Ana Narciso

Beijar o pão

20 Fev 2024

Hora marcada para mais uma sessão de estética. Normalmente, trocam-se experiências de vida , receitas que raramente experimentamos, de mezinhas caseiras (o vinagre continua no top para muitas receitas de beleza), sempre na procura do pescoço sem rugas, pele sem manchas, cabelo sem queda e pés sem calos. Em cada sessão saímos mais felizes.

Previa-se mais uma sessão banal, onde às vezes a dor antecede o momento da transformação. Foi mais além. Ouviu-se uma história de vida que impressiona pela magnitude da dor e da perseverança e o ponto de viragem e de fuga de um destino previsível, para a mudança de rumo e de felicidade. Mas afinal o que é a felicidade?

Seligman, no seu livro de 2002 Felicidade Autêntica : Os Princípios da Psicologia Positiva, formulou aquilo que designou por fórmula da felicidade (o que a matemática faz!) e retirou conclusões: “a genética é responsável por cerca de 50 por cento da felicidade da pessoa; os factores volitivos (vontade) cognitivos e emocionais determinam 40 por cento e as circunstâncias de vida e outros factores como: educação, rendimento e o estatuto social correspondem aos restantes 10 por cento”.

Confirmada a fórmula da felicidade nesta Mulher; genética, vontade e rendimento. Hoje, ao olhar para trás, percebe que “comeu o pão que o diabo amassou”, mas trouxe-lhe o rendimento necessário para conseguir formação, aquisição de viatura e um salão onde vê, todos os dias, mulheres que se transformam às suas mãos. E isso dá-lhe uma paz interior e sentido de realização que se percebe nas palavras que usa e na forma como as diz, às vezes com uma ponta de emoção que a leva às lágrimas.

O sonho é possível! Sem dúvida. Temos 40 por cento para usar, trabalhar, moldar, sofrer e realizar. Seligman arrasa mitos que se interiorizaram na nossa sociedade; ter dinheiro e estatuto valem. É verdade; mas valem pouco. Quantos e quantas conhecemos sobre os quais pensámos “tinha tudo para ser feliz e chegar longe e não chegou, nem chegou a partir”.

Claro que há excepções que confirmam a regra. Provavelmente há outras fórmulas que a matemática não se cansa de apresentar, mas os que rompem destinos e caminhos com os 40 por cento que são deles e delas terão sempre a minha admiração. Se conseguirmos aceitar como verdadeiro que as circunstâncias da vida não são a chave para a felicidade, estaremos capacitados a procurar a nossa própria felicidade. Como? Também há receitas: “expressar gratidão, cultivar o optimismo, evitar pensar demasiado, viver o presente e saborear os pequenos prazeres da vida”.

Hoje a inspiradora deste texto, tem uma casa farta e às vezes sobra pão; está duro e com bolor, mas ao deitar no lixo diz para os seus botões: “desculpa” – e beija o pão.