A regra é simples e, embora não existam registos oficiais que o comprovem, há a perceção de que tem sido cumprida com um rigor assinalável. Quando há seis anos o executivo da União de Freguesias de Alvados e Alcaria decidiu instalar micro-bibliotecas em seis locais públicos do seu território – as bibliopausas – inscreveu no interior a única regra de funcionamento: “Para observar, ver, ler e deixar”. Meia dúzia de anos volvidos, a atual presidente da Junta, Sandra Martins, não consegue garantir que a regra tenha sido sempre cumprida à risca mas acredita que as vezes em que isso poderá não ter acontecido serão a exceção, o que a deixa bastante satisfeita. «Nós não fazemos esse registo, mas a ideia que temos é que se já desapareceram livros terão sido muito poucos», afirma a autarca, realçando o espírito cívico de quem tem utilizado as bibliopausas.
Curiosamente, num concelho com muitas queixas relativas a espaços e equipamentos públicos alvos de vandalismo, neste mesmo período de tempo há apenas o registo de uma ocorrência desse género e a presidente de Junta espera que assim continue. «Na lagoa de Alvados, retiraram a casinha tendo lá ficado apenas o suporte. Nós, então, mandámos fazer outra e aproveitámos para uma limpeza e preservação das restantes», adianta.
O projeto, inédito a nível local, arrancou com seis bibliopausas e assim continua. Em Alcaria há três, uma junto ao lavadouro e duas próximas da Igreja e do Quintal Comunitário. Já em Alvados, estão na lagoa e no Chouso Verdeal. Há ainda uma na Barrenta.
Bibliopausa? O que é isso?
As bibliopausas são casinhas em madeira, colocadas em vários espaços públicos ao ar livre e que guardam no seu interior meia dúzia de livros que qualquer pessoa pode retirar, folhear e ler, esperando-se que no final os devolva para que possam servir a outras pessoas que por ali passem. O que se pretende não é que as obras sejam levadas para casa, mas lidas no local. Se a pessoa tiver muito interesse no livro em causa poderá, ao domingo à tarde, passar pela antiga escola primária de Alcaria, e fazer a respetiva requisição. É esse o edifício que guarda as largas centenas de obras, dos mais variados géneros, que outrora constituíram a biblioteca particular de uma pessoa com ligações a Alcaria e que esta entendeu colocar à disposição da população local, oferecendo-a à Junta.
O que se pretende com as bibliopausas não é o comum empréstimo de livros mas, antes, promover a leitura num ambiente aprazível, rural e em contacto com a natureza, beneficiando, ainda, do facto da Junta possuir uma vasta coleção de obras, não só da referida biblioteca, mas de outras oferecidas à autarquia por diversas pessoas. O espólio é grande e variado, no entanto Sandra Martins admite que as obras de cada uma das bibliopausas não têm mudado com a frequência que seria desejável.
Nestes seis anos, o projeto tem recebido inúmeros elogios, nomeadamente, de pessoas em visita ou de passagem pela União de Freguesias. «Ainda há pouco tempo tivemos um senhor que nos deixou um papel a elogiar. Era alguém que tinha vindo almoçar ao parque de merendas da lagoa de Alvados e que ficou muito agradado por ter podido usufruir também de leitura. Como este, temos tido outros. O feedback que recebemos é, de facto, muito positivo», sublinha a autarca, recordando que «esta iniciativa, de louvar, foi criada por Benvinda Januário», a sua antecessora no cargo, e que, desde que tomou posse como presidente de Junta, tem feito questão de a manter, enquanto mais-valia para a comunidade local e para todos os que visitam Alvados, Alcaria e a Barrenta.
Novas bibliopausas precisam-se
Seis anos depois de terem sido colocadas em pontos estratégicos da União de Freguesias de Alvados e Alcaria, boa parte das bibliopausas já acusam o peso dos anos. Quase todas as “casinhas” apresentam o “telhado” bastante degradado. Nalguns casos, em especial nas de Alcaria, as restantes madeiras também já viram melhores dias. Há, ainda, sinais evidentes de humidade e infiltrações, algo que não é de estranhar tendo em conta que estas autênticas “casas dos livros”, estando ao ar livre, ficam sujeitas ao sol, à chuva e aos restantes elementos atmosféricos.
Fotos | Isidro Bento