O padre monfortino, Rui Valério, é o novo bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança. Rui Valério é também um grande amigo dos padres Luís Ferreira e Luís Pereira, da paróquia de Mira de Aire. Por isso, foi convidado pelos próprios a visitar a vila e a celebrar uma das missas mais importantes desta quadra natalícia, a Missa do Galo.
O bispo iniciou a sua homilia explicando que “a vida humana apresenta-se como um chamamento”, pois “no início houve uma voz, que pronunciou o nosso nome, uma voz que nos chamou”. “Portanto, no começo de cada um de nós, isto é extraordinário: há sempre uma voz que nos chama”, justificou.
Com este chamamento, encara-se também a felicidade. “A felicidade não está no ter, que o caminho da vida não é nos agarrarmos às coisas”, a felicidade encontra-se, então no “desprendimento das coisas, é o não nos tornarmos escravos não só de ninguém, mas de coisa nenhuma”, disse. O padre monfortino vai mais além e confronta-nos com uma realidade: “Ninguém fica indiferente perante alguém que se nos apresenta com tremendo frio, despojado de tudo, é uma imagem que nos toca, que nos interpela e que nos chama à partilha, à solidariedade, à divisão, à perceção de que não podemos viver só para nós próprios, de que não existe só Eu, mas que somos chamados a construir um mundo onde a primeira palavra é do Nós”.
“Por muito poderoso, por muito forte que seja, ninguém se fez a si próprio. Todos necessitámos de alguém para nascer e para ser”, referiu o bispo das Forças Armadas, sobre a consciência do Nós ser a verdade de cada indivíduo. “Ser Homem, viver a vida de Homem, é possuir e acalentar esta consciência: eu preciso de ti. Isto é o segredo da vida. Já o segredo da felicidade, é a consciência de que os outros necessitam de mim. A vida, viver, leva-me a esta certeza e verdade, é que eu preciso dos outros. Se eu quero ser feliz, é a consciência de que os outros necessitam de mim”, remata.
Nesta linha de pensamento, o bispo abordou, ainda na homilia, o tema da exclusão, dizendo que é necessário esta ideia estar sempre presente pois “onde quer que existam pessoas, nem todas estão sempre no sítio, há sempre alguém que está nas margens”. Havendo pessoas “longe e nos arredores”, Rui Valério junta a ideia da vida ser um chamamento também para “pôr-nos ao encontro de quem vive nas periferias. Sabendo que tantas vezes essa periferias e essas margens são provocadas por nós próprios”.
Deixou ainda um alerta na missa celebrada em Mira de Aire: “isto não é só uma figura de estilo”. O bispo garante que “na vida de tanta gente”, a religião continua a ser aquela que “é escorraçada para lá”.
Para rematar, o celebrante terminou com um: “Não temais”. Fala sobre a “vida ser um caminho, uma peregrinação, e portanto a vida não é um círculo, é um caminhar para alcançar uma meta”. Nesse sentido, é preciso viver sobre o mote que referiu: “não tenhais medo dos outros […] não tenhais medo da vida, dos desafios… Não tenhas medo de nada”.
ana vieira | texto e foto