Nesta edição fazemos capa das excelentes notícias que nos chegam do lado da Saúde e não é caso para menos. Se depois de anos de luta, com pouco ou nenhum sucesso ou com mais derrotas que vitórias, conseguirmos agora mais médicos para a parte do concelho que anseia há muito por eles, isso é uma excelente notícia. Assim como também o é o anúncio de que a atual Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados irá passar a funcionar num modelo organizacional com provas dadas de que, bem aplicado, é melhor que o habitual, e onde os profissionais de saúde são mais bem pagos.
Comecei com um “Se” e não foi por acaso. Confesso que em muitas matérias sou como São Tomé, ver para querer. E não se trata, apenas, de uma questão de crença pessoal (ou falta dela) mas consequência de muitos anos a ver excelentes notícias que tarde ou nunca tiveram concretização efetiva, a que junto uma pitada de análise crítica.
Sei que, neste caso, a transferência de competências na área da Saúde da esfera nacional para a local veio acompanhada de uma adenda onde estas e outras situações estão devidamente previstas. Foi-me confirmado à direita e à esquerda e acredito, tenho é mais dificuldade em acreditar no fabrico de médicos “por decreto” e um dos argumentos apresentados para não haver médicos suficientes em Porto de Mós, sempre foi o de também não os haver no todo nacional. Se agora já os há, melhor não pode ser. Aliás, eles até cá têm chegado, o pior é que têm sido poucos ou nenhuns aqueles que conseguimos fixar. Será uma retribuição financeira mais generosa incentivo suficiente? Não sei, mas dos médicos que conheço, e são alguns, julgo que não há nenhum que se mova estritamente pelo salário que recebe no final do mês.
A referência, atrás, à boa aplicação do modelo de USF também não foi por acaso. Ao queparece, o Governo quer todas as unidades a funcionar como USF. Resta saber é como é que isso será feito, se a passagem é imediata e puramente administrativa ou mesmo o sendo, se depois já com esse estatuto as referidas unidades terão de cumprir os exigentes rácios e requisitos de quem já trabalhava nesse modelo. E se assim for, não se espere que se opere um milagre de uma dia para o outro. Há todo um esquema organizacional diferente e exigente a implementar, metas rigorosas e números ambiciosos a atingir e, muito importante, toda uma “cultura de grupo” que, por norma, leva anos a construir e em que um dos elementos fundamentais é todos estarem sintonizados na mesma onda e pensarem que se acabaram os utentes deste ou daquele. A partir de agora os utentes são da unidade e esta, como um todo, tem obrigação de lhes dar resposta atempada e eficaz.
Por último, há a questão das atuais extensões de saúde. É uma excelente notícia permanecerem abertas e ainda haver em plano outras soluções que permitam às pessoas terem os cuidados de saúde o mais perto possível das suas casas. No entanto, daquilo que conheço de outras USF, na nossa região e fora dela, é preciso fazer uma ginástica enorme para manter em funcionamento, com respostas efetivas à população, uma rede de extensões e ou polos de saúde e o manter só por manter, convenhamos que não resolve nada, aliás, só complica e, no limite, até pode comprometer toda a estrutura em termos globais. Todos nós queremos o médico ou o enfermeiro a cinco minutos de casa mas aqui levanta-se a questão comum a outras áreas como a Educação: será melhor concentrar a ação em poucas unidades mas melhor apetrechadas a vários níveis ou ter um serviço muito próximo da população mas que é muito mais difícil de manter pela sua dispersão? O melhor mesmo será esperar para ver.