Emeli Silva chegou, há cerca de cinco meses, a Porto de Mós, com o marido e a filha, de 13 anos. Quando saíram do Brasil, do estado de São Paulo, de onde são originários, o destino já estava escolhido. «Pesquisámos regiões de Portugal onde a gente se poderia dar melhor em relação a qualidade de vida, emprego, escola para a minha filha» e Porto de Mós “ganhou a corrida”, revela Emeli Silva. Parte da família já cá estava e a sua intenção é «trabalhar e morar aqui»: «Se depender de mim, continuo aqui porque a gente se estabeleceu bem na região», afirma.
No Brasil, Emeli Silva trabalhava como secretária numa corretora de seguros. Em Portugal, o seu primeiro emprego, que ainda mantém, foi num supermercado. O marido trabalhava na indústria, área em que também conseguiu empregar-se cá. Conseguir emprego para ambos «demorou um pouquinho, cerca de um mês», uma vez que foi preciso «iniciar o processo de documentação». Já a entrada da filha na escola aconteceu «na mesma semana» em que chegaram a Portugal. A parte da documentação tem sido um processo, por vezes, moroso: «Conseguir os primeiros documentos – contribuinte, número de Segurança Social – não foi difícil, mas com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras já é um pouquinho mais demorado. A minha filha está em processo de legalização. Agora dependemos da legalização dela para conseguirmos, eu e o meu marido, a nossa», explica, acrescentando que esta falta de documentos pode condicionar-lhes a vida, em algumas situações, por exemplo, se quiserem pedir um crédito bancário.
O “sonho” da Auriculoterapia
Há cerca de três meses, deixaram a casa dos familiares e mudaram-se para a Calvaria de Cima, onde residem, passando a «andar com as próprias pernas aqui». Emeli Silva está a procurar «iniciar a profissão de terapeuta». Formada em Auriculoterapia, começa agora a atender os primeiros utentes, numa atividade que pretende, para já, conjugar com o seu emprego.
Para quem não conhece, explica que esta terapia é «muito benéfica porque não tem efeitos colaterais e trabalha tanto o físico, como o emocional». Entre as patologias que trata estão «casos de depressão, ansiedade, síndromes de pânico, dores no geral, fibromialgia, problemas de coluna, cefaleia, enxaqueca e cólica menstrual». «A gente analisa o paciente através do pavilhão auricular» e «consegue identificar a origem dessa dor», começa por explicar, acrescentando que sendo uma «terapia derivada da acupuntura», podem ser usadas «agulhas que ficam na orelha», assim como «sementes, esferas de cristal, ouro e prata», que «proporcionam um estímulo direcionado ao sistema nervoso central». A terapeuta sublinha que não «descarta tratamentos da medicina ortodoxa», mas que esta terapia «auxilia e potencia efeitos de tratamento».
Emeli Silva começou, recentemente, a divulgar esta terapia e os primeiros utentes foram colegas de trabalho, que «não conheciam este tratamento». «Uma das pessoas sofre com ansiedade e depressão e teve uma grande melhoria, principalmente no quadro do sono», conta. «Esta é uma terapia alternativa reconhecida pela Organização Mundial da Saúde, embasada cientificamente», conclui.
Segurança em Portugal foi argumento-chave
Ana Bachega está há cinco anos em Portugal (e no distrito de Leiria), mas apenas desde junho no concelho de Porto de Mós, mais propriamente no Alqueidão da Serra. Natural do Paraná, «uma cidade pequenininha», no «centro oeste» do Brasil, foi a insegurança da sua cidade que a fez procurar outras opções. «Por ser uma cidade de fronteira com o Paraguai, havia muito tráfico, assassinatos por acerto de contas e, conforme o tempo foi passando e as crianças foram crescendo, eu falei: “Não quero isso”. Para um adolescente, ir para o caminho errado é muito fácil», afirma, reforçando que não era esse o futuro que queria para os seus dois filhos, hoje com 8 e 10 anos.
Rumou então a Portugal, com o marido, os dois filhos e a sogra, tendo ido morar para a Cruz da Areia (Leiria). Na região estavam já os seus cunhados que foram os grandes impulsionadores para a vinda, mas não foi apenas isso que pesou na decisão. «Eu dizia: “Quero ir para um lugar em que tenha segurança, em que possa ir sair à noite, ir a uma esplanada e estar ali à vontade”, coisa que lá [no Brasil] a gente não fazia. E foi por isso que escolhemos Portugal», conta. «Foi mais fácil porque a família nos amparou quando chegámos», diz, mas o caminho para chegar onde hoje está «não foi assim muito fácil»: «Muita gente chega e fala que quer fazer o que fazia no Brasil. Como é que eu ia chegar e trabalhar justamente na mesma coisa? Quando a gente chega, tem que se sujeitar ao que tem. O meu marido era gerente, chegou e foi trabalhar nas obras, eu fui para as limpezas. Os primeiros passos não foram nada fáceis, mas eu acho que foi tudo muito certo, muito sofrido, mas tudo a encaixar-se», considera.
Ana Bachega e o marido tinham o objetivo principal bem definido: poupar o máximo para comprar uma casa e fixar-se. «No começo do ano passado», decidiram: «Este ano, vamos comprar a casa». Até encontrarem a casa certa, viram outras, mas «ou a aldeia não tinha nada» ou «as pessoas olhavam tipo “Quem é que vem morar para aqui? Mais um brasileiro?”». No rol de opções apareceu uma casa no concelho de Porto de Mós que Ana Bachega, pelas fotografias, descartou à partida, porém, à falta de melhor, o casal acabou por visitar a casa e foi então que a magia começou. «A primeira impressão que tive quando cheguei ao Alqueidão da Serra foi a melhor. Só vi o lado de fora da casa e falei: “É essa!”. Depois, a gente começou a olhar o interior e eu gostei porque a casa é muito clara, muito aconchegante. Fomos dar uma volta à aldeia. Encontrámos duas senhoras e eu nunca ri tanto na minha vida como ali. Falaram muito bem da aldeia, de tudo o que tinha. Perdemos mais tempo ali, do que na casa. Todo o dia que passa, é uma nova experiência, nada de negativo e sempre muito positivo, então, todo o dia eu falo: “Eu acertei muito bem no lugar para onde vim morar”», afirma, feliz.
Um emprego “doce”
Depois de várias experiências laborais menos felizes, onde lhe prometeram contratos que nunca chegaram e onde “esticaram” até ao máximo os horários, Ana Bachega, agora a trabalhar numa fábrica de malhas, bem perto de casa, está também a investir num negócio próprio. Descobriu, num dos restaurantes onde trabalhou, o jeito e o gosto pela cozinha, nomeadamente pelas sobremesas. Começou por fazer brigadeiros para «ganhar um extra» e passou depois para os bolos em tamanho grande, a pedido de alguns clientes. Depois, para que os novos interessados pudessem provar, fez “bolos no pote” e, mais recentemente, são as slice cake – fatias de bolo mais elaboradas e recheadas – que fazem as maravilhas dos clientes de Ana Bachega.
Como em Porto de Mós conhece ainda pouca gente, é em Leiria que tem o seu maior público. Em dias determinados, vai a locais que conhece e onde já a esperam e entrega as suas encomendas. De futuro, gostava de ter um estabelecimento mas reconhece a dificuldade de levar o cliente até si, em vez de ir até ao cliente. Até lá, e agora mais aos fins de semana, ocupa-se com aquilo que diz «amar fazer». «Há trabalhos onde não vemos a hora de ir embora e estamos para ganhar o ordenado. É diferente quando estamos a fazer uma coisa de que gostamos que é o que acontece aqui», remata.