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Campanha solidária de grupo da Cercilei com escassa adesão da população

20 Janeiro 2022
Jéssica Silva

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Jéssica Silva

20 Jan, 2022

“Como as aves, as pessoas são diferentes nos seus voos, mas iguais no direito de voar”. Esta frase, da autoria de Judite Hertal, encontramo-la pintada numa das salas da Cercilei de Porto de Mós, para que nenhum dos seus 30 utentes se esqueça que, mesmo com as dificuldades de cada um, todos temos efetivamente o mesmo direito de voar. Bruno, Isabel, Pedro, Rodrigo e Tânia são a prova de que o contexto onde a frase está gravada não poderia ser mais adequado. Juntos são o rosto do Grupo de Autorepresentação do Centro de Atividades Ocupacionais (CAO) que pela primeira vez decidiu organizar uma campanha de solidariedade para angariar mantas e agasalhos, bens alimentares e brinquedos para doar a instituições e famílias carenciadas.

Para isso, contaram com o apoio de Ricardo Vinagre, psicólogo na Cercilei há mais de 16 anos, que revela o objetivo que estava por trás desta iniciativa, além do já subjacente: «A ideia era desmistificar muitas das competências que cada um tem, de forma a que nos vejam como cidadãos ativos, preocupados, com direito a participar e não apenas a receber».

A campanha solidária decorreu de 5 de dezembro de 2021 a 6 de janeiro de 2022 e embora não houvesse expetativas quanto ao número de doações, a verdade é que, ainda assim, os elementos do grupo esperavam que tivesse existido uma maior participação da população. «As pessoas não aderiram muito, acho que deveriam ter aderido mais», desabafa Bruno, de 38 anos. «Foi uma ideia espetacular mas queremos que para a próxima as pessoas adiram mais», acrescenta Rodrigo. Já Isabel, de 35 anos, não tem dúvidas de que a maior dificuldade foi «desbloquear as pessoas» para o ato de dar. «Ainda há quem diga “não tenho para mim quanto mais para os outros” mas é importante que as pessoas não pensem apenas nelas, também têm que pensar nos outros», defende.

Cabazes oferecidos a quatro famílias

Apesar dos vários apelos, em nenhum dos três pontos de entrega foram deixados bens alimentares. Em contrapartida, a Junta de Freguesia de Porto de Mós ofereceu um donativo no valor de 200 euros que o Grupo de Autorepresentação do CAO utilizou para ir ao supermercado e adquirir os bens essenciais para compor os cabazes. Nessa ida às compras, houve a preocupação de pensar na semana de contenção. «Por sabermos que as crianças iam ficar mais tempo em casa e consequentemente os gastos seriam maiores, decidimos comprar mais coisas a pensar nelas, como cereais, bolachas e chocolate em pó», afirma o psicólogo.

A somar aos produtos que cada um trouxe de casa, houve também quem deixasse um saco com alimentos no jardim da Santa Casa da Misericórdia. No fim foi possível apoiar quatro famílias do concelho que se encontravam numa situação frágil, que foram indicadas através de um projeto informal e do Sistema de Intervenção Precoce da Cercilei.

Outro dos objetivos com a campanha de solidariedade era angariar mantas e agasalhos para entregar à Comunidade Vida e Paz, em Fátima. «As pessoas confundiram um bocadinho o conceito e doaram sobretudo vestuário», revela. Ainda assim, foram doados três sacos, que além de roupa, continham cinco mantas novas.

Esta iniciativa tinha, ainda, o propósito de reunir brinquedos para doar à Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Porto de Mós, contudo Ricardo Vinagre não esconde a frustração perante o número de donativos: «Foram oferecidos apenas quatro jogos/brinquedos». Por outro lado, acabaram por ser presenteados com uma doação surpreendente de uma senhora que ofereceu um berço, uma cama e lençóis, praticamente novos. «Entregámos logo à CPCJ porque era algo de que estavam mesmo a necessitar», conta.

Desta experiência, o psicólogo reconhece que há uma série de ilações a retirar e vários aspetos a melhorar, entre os quais o «papel desempenhado por cada um» dos elementos do grupo. A alteração de data é outra das possibilidades que está a ser equacionada para, assim, evitar que haja uma sobreposição de iniciativas idênticas. «Iremos, talvez, estender a outras épocas do ano e não concentrar só no Natal porque aí é quando as pessoas recebem mais ajudas e depois ao longo do ano estão mais frágeis», justifica.

Optar por incidir apenas em uma ação e não em três (como aconteceu) é também um dos pontos que será ponderado numa próxima vez. Apesar das arestas que têm consciência que ainda precisam de ser limadas, todos os envolvidos na ação solidária se mostram com vontade de a repetir muito em breve.

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