Jorge Vala (PSD), João Salgueiro (PS), António Alves (Chega) e Pedro Santos (CDU) estiveram frente a frente no debate autárquico promovido pelo jornal O Portomosense, a Rádio Dom Fuas e o Jornal de Leiria realizado no dia 13 de setembro às 21 horas no Cine-teatro de Porto de Mós. Por esta ordem (ditou assim o sorteio) os candidatos começaram por revelar os motivos pelos quais decidiram candidatar-se à Câmara e as mais-valias da sua candidatura.
O atual presidente da Câmara, Jorge Vala, acredita que faz sentido «dar continuidade» ao projeto que iniciou há quatro anos, ainda para mais «quando esse projeto» conviveu «com uma pandemia». O principal foco é fixar pessoas, nomeadamente os mais jovens. «Há quatro anos começámos por aprovar um conjunto vasto de reduções fiscais e hoje temos a consciência que o concelho de Porto de Mós compara com a generalidade dos concelhos aqui à volta sendo um concelho atrativo», frisa. João Salgueiro, por outro lado, diz que a «razão» da sua candidatura prende-se com o apelo da sociedade civil. «Eu era muitas vezes interpelado, sobretudo nesta fase final do mandato, por pessoas que me diziam que precisavam de mim. Que Porto de Mós tinha de voltar a ser aquilo que era no meu tempo em termos de inovação e investimentos», referiu. Essa, acredita é a grande diferença da sua candidatura: «Vou ter um gabinete de porta aberta, ouvindo as pessoas, porque só ouvindo as pessoas conseguimos saber as suas reais necessidades», frisa.
O candidato do Chega, António Alves, acredita que tem «uma perspetiva completamente diferente dos companheiros de debate» e quer «romper com o rotativismo do PS e do PSD». «Porto de Mós tem um índice de desenvolvimento muito abaixo da média nacional e não percebo porquê, mas sei o que se deve fazer. Temos de pôr o foco no desenvolvimento cultural, ao mesmo nível do desenvolvimento da economia e da saúde», defende. O candidato da CDU, Pedro Santos, reside no concelho há menos de três anos, mas não considera esse um entrave ao seu trabalho autárquico. «O pouco tempo que estive em Porto de Mós já me serviu para ver alguns problemas que existem, como os transportes, a saúde e a educação. É preciso fazer alguma coisa nestes aspetos e um exemplo é a criação de uma rede de transportes públicos. Não podemos fixar pessoas em Porto de Mós se não tivermos uma rede de transportes públicos forte e coesa», salienta. Caso seja eleito uma das suas prioridades é «ouvir a população e resolver os seus problemas», garante.
Fixação de pessoas
Tornar o concelho mais atrativo para os jovens (e não só) se fixarem no concelho é um objetivo de todos os candidatos. Confrontado com os dados dos últimos censos que indicam que Porto de Mós perdeu nos últimos 10 anos 4,6% da população, João Salgueiro diz que a resposta a esta problemática é a empregabilidade e o bem-estar da população. «No que diz respeito à empregabilidade é urgente avançarmos com ampliação da Área de Localização Empresarial (ALE), o mesmo acontece com a Zona Industrial de Mira de Aire e do Juncal. Criar empresas tecnicamente evoluídas, em que as pessoas possam ter ordenados acima da média», pensa. Quanto à qualidade de vida, há três áreas fundamentais no seu entender: Saúde, Educação e Lazer. António Alves considera que Porto de Mós está parado no tempo e que é preciso torná-lo num «concelho alegre, vivo, que tenha iniciativas interessantes para trazer as pessoas». Relativamente aos jovens, António Alves sublinha que os apoios são fundamentais para os fixar. «Temos de criar um cartão de saúde de apoio às grávidas. Faremos um investimento na habitação social com renda acessível, nomeadamente em Mira de Aire. Queremos apostar na cultura, gostava de trazer para aqui a ópera», refere.
Pedro Santos voltou a frisar a importância dos transportes, mas desta vez como arma para a fixação de jovens: «Muitos não têm transportes para as empresas da Zona Industrial que trabalham 24 horas. Como é que os jovens se vão deslocar? Não são obrigados a ter um carro, têm de ter opção de escolha». A aposta no emprego é também fundamental, considera. «Aqui em Porto de Mós ainda existe muito trabalho precário, a recibos verdes. Para mudar para o concelho a pessoa tem que se sentir segura, tem que ter um contrato de trabalho. São essas condições que temos de criar», afirma. O candidato do PSD, Jorge Vala, salientou o facto de «de acordo com os dados da Pordata», o concelho ter «mais alunos, mais empresas, mais população, mais turistas, as famílias têm mais rendimentos, mais emprego, melhor qualidade de vida, isto em quatro anos cortados pela pandemia». Em resposta a João Salgueiro, o atual presidente de Câmara, diz ainda que «a história de se abrirem portas e de se saber onde estão as chaves já acabou», depois de uma garantia deixada pelo ex-presidente de que saberia bater às portas certas. «Os fundos comunitários não são assim, têm maturidades de projeto com condições para lançar os concursos ou já com o concurso lançado, porque senão nem são admitidos», refere. «Fala-se, por exemplo, na Zona Industrial de Mira de Aire, que esteve parada. Nós alterámos o regulamento e neste momento tem os lotes todos admitidos. O processo da ALE de Porto de Mós começou em 2016 e no primeiro momento veio recusada uma candidatura por falta de avaliação de impacte ambiental. Nós apanhámos uma candidatura aprovada como era antigamente, que agora já não há. Antigamente era só com o papel, com a intenção, agora não há intenções. Nós tivemos que continuar com o Plano Pormenor, iniciado pelo anterior Executivo, mas foi a única coisa que nos deixaram. Nem um terreno comprado, nem um», afirmou Jorge Vala.
Saúde no concelho
A falta de profissionais de saúde há vários anos no concelho é uma realidade reconhecida por todos os autarcas. O que pretendem fazer os candidatos para minimizar este problema? «Eu acho que este tipo de decisões não deviam depender tanto do poder nacional, nós [autarquias] temos de andar a bater às portas para resolver problemas tão urgentes como a saúde», começa por referir António Alves. Para o candidato do Chega um passo importante é a adesão à Rede Portuguesa de Municípios Saudáveis: «Aí tínhamos um alinhamento, um conjunto de objetivos, que envolvia toda a comunidade, para que a saúde fosse de facto um valor fundamental», refere. Pedro Santos, por outro lado, acredita que ao alcance da Câmar está a «pressão sobre o poder central». «Não ter médico de família não pode acontecer. O Governo central tem de tomar uma atitude e tem de ser pressionado pelas autarquias», salienta.
Jorge Vala revela que faz parte do programa «uma medida que já está a ser implementada no país»: «São seguros de saúde que servem de complemento em várias especialidades, a baixo custo. Para toda a população custa cerca de 120 mil euros e estamos a pensar implementá-lo». O candidato do PSD diz ainda que o Executivo já reuniu «diversas vezes com as entidades de saúde na tentativa de encontrar soluções para o concelho de Porto de Mós». O programa do Partido Socialista liderado por João Salgueiro prevê a ampliação do Centro de Saúde e a «criação de novas valências», revelou João Salgueiro.
Ambiente
«É preciso ter mais ecopontos próximos das casas e fazer a limpeza dos espaços verdes», afirma Pedro Santos. O candidato acredita que «em Porto de Mós ainda há a tendência das pessoas em pegar numa televisão e pô-la no meio da serra» e para isso também é necessária uma «campanha de sensibilização e investimento», refere. Na temática do ambiente, Jorge Vala revela que tem já um «conjunto de iniciativas em curso, nomeadamente a substituição das luminárias por led, um projeto inovador de reciclagem, um projeto pedagógico a partir do Fablab, uma candidatura de cerca de 400 mil euros aprovada de recolha seletiva de biorresíduos e um programa de substituição de amianto, para chegar ao final do mandato com amianto zero no concelho. Já estamos a colocar carregadores elétricos em todas as freguesias», revela.
João Salgueiro frisa que uma das grandes preocupações do PS é o saneamento na freguesia de Pedreiras, na Nacional nº8 nas zonas da Moitalina, Cruz da Légua e Cumeira que precisam «de um estudo sério». Faz parte dos planos do candidato e sua equipa «construir os saneamentos do Chão Pardo, Casais Garridos, Andainho e Picamilho». António Alves considera que não existem «grandes problemas ambientais em Porto de Mós» e por isso é seu objetivo relacionar «o ambiente com um conjunto de ações que podem promover e trazer pessoas ao concelho». «As Serras de Aire e Candeeiros já são conhecidas como um grande ginásio ao ar livre, temos mais de 700 quilómetros de caminhos pedestres. O nosso país todo podia vir para aqui».
Hotel
O “hotel” no centro da vila já foi completamente demolido e para aquele espaço está prevista a construção de um novo edifício. O processo arrastou-se durante muitos anos, mas Jorge Vala defende que é «fácil falar-se agora». «A Câmara [o anterior executivo] recebeu 250 mil euros de uma caução, o promotor comprou o hotel por 20 mil euros e a Câmara não comprou. A Câmara podia ter comprado o hotel e acabava-se a conversa, fazia-se ali um jardim, uma coisa qualquer, até porque a Câmara há quatro anos comprou uma casa emblemática, a casa do Mil Contos e deitou-a logo abaixo, portanto podia ter comprado o hotel», atira, Jorge Vala. O Plano Diretor Municipal permite a construção «de um hotel com 22 metros de altura e seis pisos», adianta. João Salgueiro riposta, dizendo que o «o pior que se pode fazer num debate político é enganar o público» e adianta que o hotel foi «comprado pelo promotor numa hasta pública» e que a Câmara não «tem acesso às hastas públicas». O ex-presidente disse ainda que a questão do hotel é na sua opinião «a maior farsa política que se viveu em Porto de Mós nos últimos anos»: «Iniciar uma demolição a um mês das eleições quando o pedido já estava aprovado desde 2018, não pode ser».
Na opinião de António Alves os portomosenses «estão cansados de ouvir esta história do hotel fantasma». O candidato considera que se nada for feito noutras dimensões, nomeadamente de âmbito cultural, não vai ser fácil «aguentar um hotel» no concelho. Já Pedro Santos admitiu não ter muito conhecimento sobre o processo do hotel, embora saliente que se tivesse tido a possibilidade de comprar talvez o tivesse feito: «Para habitação a preços reduzidos, para os jovens estudantes, fosse para o que fosse».
Obras públicas
No que diz respeito às obras públicas, João Salgueiro, lembra o período em que esteve na Câmara: «Concluímos a primeira, a segunda e a terceira fase da Zona Industrial, e quase deixámos a quarta fase concluída, para além disso deixámos cabimentado em termos de fundos comunitários, 765 mil euros», recorda. O candidato questiona ainda: «Este executivo na Zona Industrial o que é que fez? Não podemos aguentar mais três ou quatro anos para que possamos ali instalar novas empresas», frisa. António Alves afirma que os seus oponentes «falam muito de obras» e reconhece a importância da ALE para ter cada vez mais empresas. «Queremos chegar a uma taxa de Derrama de 1% para depois podermos devolver às empresas mais prejudicadas com a pandemia, nomeadamente a restauração», afirma.
Pedro Santos considera também que a Zona Industrial é uma mais-valia, mas importa-lhe as condições que os trabalhadores vão encontrar. «A Câmara não pode deixar instalar as empresas e depois não controlar as condições dos trabalhadores a nível de horário de trabalho ou de ordenado», salienta. O candidato da CDU refere ainda que «os passeios e as centenas de estradas cheias de cortes» devem ser uma prioridade. Jorge Vala responde ao opositor do PS: «Quero tranquilizar o senhor João Salgueiro, nós temos a Declaração de Impacte Ambiental e o concurso público (da ALE) só foi lançado quando tivemos a concordância da Agência Portuguesa do Ambiente. Estes processos de planeamento não é só estalar os dedos». O atual presidente da Câmara frisa, no entanto, que o «concelho de Porto de Mós não pode estar centrado apenas em obras»: «Onde é que estão as pessoas? São só obras? Só pensamos no que se pensava há 15 anos? O pensamento de gestão do Município, sobretudo nos últimos dois anos, mudou imenso. Temos de pensar como obra as pessoas, no seu bem-estar, na qualidade de vida».
Desporto
Os quatro candidatos estão em acordo: é importante apostar no desporto, nomeadamente através do apoio às associações. António Alves destaca o BTT, o automobilismo, as caminhadas como atividades que gostava de ver consolidadas no concelho. O candidato do Chega lamenta «que nada fique em Porto de Mós». Pedro Santos acredita que já há muitos praticantes de desporto no concelho, mas é preciso ser «feito mais investimento» de apoio às associações. «As associações estão a ir abaixo, tem de haver mais estímulos, campanhas nas escolas para levar as crianças a envolverem-se».
Tanto o programa encabeçado por Jorge Vala como o programa de João Salgueiro inclui a criação de novas infraestruturas desportivas: O polidesportivo em Serro Ventoso e a Pista de Atletismo das Pedreiras. Ambos os candidatos consideram estas obras prementes por estarem ligadas a terras e associações que vivem muito a prática desportiva. O candidato social democrata salienta que nos últimos quatro anos o «concelho já foi premiado como Concelho Amigo do Desporto», o que quer dizer «que se está a trabalhar na área do desporto». João Salgueiro diz que é evidente que o concelho «tem excelentes condições para o desporto de Natureza» e tem alguns projetos em mente. «Uma ciclovia em Alvados e Alcaria, parque de lazer no Campo da Fiandeira, construção de uma pista lateral no Juncal» são alguns dos projetos mencionados. É objetivo também levar o judo às escolas: «Tive uma reunião com o presidente da Federação de Judo e ficou acordado lançar o judo na escola. O judo é uma das modalidades aprovadas pela UNESCO e recomendada para as escolas»., destaca.