Carina Marques: «É difícil conciliar a maternidade com o Restauro»

23 Maio 2024

Cristiana Oliveira

Foi no seio da vila de Porto de Mós, mais propriamente no Parque Almirante Vítor Trigueiros Crespo, que encontrámos Carina Marques. Nascida há 40 anos no concelho vizinho de Alcobaça, mudou-se há escassos meses com a família para a freguesia de Pedreiras.

Ao longo da vida, têm sido várias as cidades a que Carina já chamou de “casa”, tendo a primeira sido Tomar, para onde se mudou logo após o ensino secundário para cursar na licenciatura de Conservação e Restauro, um curso que diz permitir-lhe «fazer restauro a sério» de tudo «quanto são bens artísticos e património, quer seja imóvel ou móvel», e que lhe permite viajar em trabalho de norte a sul do país. Poucos anos antes, ainda no secundário enquanto estudava Artes Tecnológicas, que encontrou a sua verdadeira paixão. «Na altura não tinha muita clareza acerca daquele que seria o futuro», mas após alguns conselhos de amigos e conhecidos que já lá estudavam, viu que Tomar era o sítio certo para si e que «encaixava na perfeição naquele curso».

Depois de uma estadia na capital que durou sete anos, decidiu há quatro voltar para a região de Leiria, onde diz sentir-se «mais em casa». O boom turístico de que Lisboa foi alvo deu o empurrão que faltava.

A ideia, quando regressou, era fazer uma pausa a nível do restauro, «uma área que se pode tornar bastante stressante ao trabalhar em contexto de obra». Desde 2015 que fazia a gestão de equipas nos projetos que integrava, mas a certa altura o cansaço falou mais alto e decidiu realmente parar. Apesar de «gostar muito da empresa onde estava», Carina queria mudar e ter novas experiências, «queria tentar algo diferente do que aquilo que tinha vindo a fazer nos últimos anos». Decidiu que era então altura de fazer as malas e passado duas semanas recebeu uma proposta de trabalho na zona de Alcobaça, ainda na área do restauro.

Esse trabalho durou cerca de um ano. Atualmente, Carina Marques encontra-se inativa, com o intuito de ponderar criteriosamente o seu futuro. Hoje tem outras preocupações: «fui mãe há 20 meses e estou bastante dedicada à maternidade».

Ainda assim, há projetos pontuais que vão surgindo e que Carina vai agarrando. O último durou sete meses e foi terminado em janeiro.

A nível do restauro, revela que é uma área fantástica mas que «exige muito da pessoa, especialmente quando se fala de mulheres». «Pegamos numa peça doente, um palácio ou um castelo, tratamos e fica quase como novo». É uma área pluridisciplinar e obriga a conjugar diferentes áreas, aprende a trabalhar em equipa, o que é muito desafiante algumas vezes. De todos os seus trabalhos destaca o restauro do forte da graça, em Elvas. Esta é para si uma obra «com uma arquitetura fantástica» e cujo desafio encarou como «uma oportunidade única».

«É muito difícil conciliar a maternidade com este tipo de trabalho na área do Restauro, principalmente quando são obras distantes, pois ambos requerem muita atenção», alerta.

Quanto a perspectivas futuras, adianta que quer acompanhar o filho de perto e, relativamente a si própria, quer «explorar mais o mundo da astrologia cármica», aquela que garante ser a sua «grande paixão».

«É uma ciência não exata» que a atrai «desde miúda», motivo pela qual decidiu há ano e meio tirar um curso nesta área. Desde essa altura que tem vindo a desenvolver vários trabalhos com esta paixão. Descobriu e aprofundou um pouco mais nesta vertente aos 27 anos, quando estava a passar por um momento mais complicado da sua vida a nível da sua saúde mental, desde aí que começou a estudar um pouco sobre o assunto. Esta área ajudou-a na vertente do autoconhecimento e no ganho da consciência. Admite que «é uma área em que é bastante difícil ter trabalho e de só sobreviver com isso», uma vez que «é uma área com poucos créditos ainda». Para se promover, criou a página Carina Astro-Terapia, onde divulga também algumas reflexões que a própria faz.

A partir da astrologia cármica, Carina consegue desenhar o mapa cármico de cada pessoa. Este é criado a partir do mapa astral, que corresponde à imagem do céu no momento do nascimento, e a partir de determinados aspectos e pontuações que esse mapa contém, consegue chegar ao mapa cármico. «De vez em quando tiro umas cartinhas do baralho da astrocartomancia», que têm como objetivo «demonstrar o momento que a pessoa está a viver, quais as energias que a pessoa carrega, e tenta guiar e orientar o cliente para os tempos que se seguirão». Carina confessa que a astrologia assumiu um papel muito importante para ultrapassar as dificuldades que viveu aos 27 anos: «Foi uma âncora para aquele momento».

A astróloga conta ainda que a cada mapa que faz para uma determinada pessoa acaba sempre por explorar áreas no âmbito pessoal e consegue «compreender o porquê de determinadas energias», reforçando que «pessoas diferentes têm energias diferentes» e tudo isso a acrescenta.

Comparando as duas áreas, Carina realça que a astrologia é «o ponto de partida para um grande desenvolvimento», a parte de ajudar o outro e acompanhar o seu progresso é um marco para si. O restauro ajudou-a a conseguir trabalhar com os outros, a parte artística ajuda-a a libertar-se e, a nível pessoal, ver o antes e depois de uma intervenção e sentir que contribuiu para o bem estar daquele bem é muito gratificante. Ambas as áreas têm uma coisa em comum: praticar o bem pessoal e o bem comum e é por isso que gosta de conjugar as duas. A astrologia fá-la «deixar os outros melhor consigo próprios» e a arqueologia «contribui para o bem comum da sociedade», considera.

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