«Todos conhecem» Manuel Moleiro Paulo. Foi fundador do Clube Desportivo e Recreativo do Arrimal; presidente da Associação Desportiva Portomosense; presidente da Junta de Freguesia do Arrimal; dedicado de corpo e alma ao movimento sindical. Mas foi como cobrador da anuidade d’O Portomosense que Manuel Paulo, mais conhecido no concelho de Porto de Mós como “Carteiro Paulo”, esteve à conversa com o nosso jornal. Na sua casa, ainda hoje, aos 76 anos, tem tudo organizado: dos dossiês das cobranças aos licores, passando pelas ferramentas da alfaia, onde hoje passa grande parte das suas manhãs. É atualmente o terceiro funcionário mais antigo nos quadros da Cooperativa de Informação e Cultura de Porto de Mós (CINCUP), detentora d’O Portomosense e da Rádio Dom Fuas, há quase 25 anos. Ainda vigorava o escudo quando João Matias, diretor entre 1983 e 1992, o convidou a trabalhar connosco.
Manuel Paulo sempre foi um homem de carisma: «Eu já era carteiro, já era muito conhecido a nível do concelho, era um indivíduo muito popular e parece que as pessoas cativavam-me e eu cativava as pessoas», acredita. Em tempos, chegou a fazer a cobrança de sete instituições em simultâneo, incluindo a extinta Clínica de São Pedro, os Bombeiros Voluntários e a Santa Casa da Misericórdia de Porto de Mós e a Banda Recreativa Portomosense. Hoje, trabalha apenas com o nosso jornal e com os Bombeiros, porque a «idade também já não permite andar por lá muito tempo», e porque «a anuidade também foi começando a avançar (antigamente era hábito a quota ser mensal ou semestral) e a pessoa começou a não ter dinheiro em casa».
Claro que acaba por não passar uma vez por ano: «às vezes passo duas ou três até encontrar a pessoa em casa». É um ofício «um bocado chato e complicado» nesse aspeto, confessa, mas que acaba por se ir facilitando com o tempo e com o reconhecimento: «Agora já estou à vontade e as pessoas estão à vontade, porque eu bato à porta, as pessoas já me conhecem, às vezes no caminho “olhe passe lá a tantas horas”, mas para quem não conhece as pessoas é muito complicado ir [bater] às portas, atualmente, é muito complicado porque as pessoas hoje não confiam em ninguém, mas eu já ando há tantos anos que já tenho quase tudo controlado». Quase tudo, porque há vários episódios dignos de menção. Uns são histórias felizes, outros menos fortuitos: «Eu, mesmo na vida que tive, tenho muitos episódios bastante engraçados», revela, deixando essas histórias «para outra altura».
24 anos de O Portomosense
Manuel Paulo foi um dos primeiros integrantes da nossa redação, tendo a seu cargo a edição noticiosa do suplemento Vozes da Freguesia, na secção Arrimal. Em retrospetiva, recorda-se com carinho dos colegas de trabalho: «Muita gente que eu tenho bastante consideração por eles, e eles por mim também. Quando me veem, por acaso tenho muito brio em eles me cumprimentarem na rua, há sempre um lamiré a falar, há sempre uma coisa qualquer a dizer».
Relembra também as primeiras instalações: «Foi na Avenida de Santo António, era um apartamento do José Costa, o jornal era feito em Mira de Aire. Esteve ali muito tempo, depois passou para cima das piscinas. Depois dali foi para a Rua da Saudade, onde teve aí muitos anos, tudo arrendado, logicamente».
Um já longo percurso para um jornal do qual tem «muito orgulho» em pertencer. «Quantos jornais nacionais é que não têm tanta duração e têm mais saídas?», questiona-se. «Quantos não já desistiram e com outros poderes monetários, quantos não ficaram já pelo caminho? 40 anos é de louvar, não há dúvida nenhuma», frisa.
Foto | Bruno Fidalgo Sousa