De sete utentes passou para 47, de cerca de cinco funcionários passou para 19, sócios, são agora mais de 100 e, se tudo correr bem, dentro de sensivelmente três anos vão passar a ter 1 335 metros quadrados de espaço ao invés dos atuais 145.
É um balanço positivo destas duas décadas para o CASSAC – Centro de Apoio Social Serra D’Aire e Candeeiros. A Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) celebrou o seu vigésimo aniversário na passada terça-feira, 7 de novembro, 20 anos desde o momento em que se decidiu criar uma comissão instaladora para «colmatar uma necessidade que já existia há muito tempo: cuidar dos idosos».
As palavras são da atual presidente da instituição, Neuza Morgado, e é ela, a par da diretora técnica, Margarida Pires, que dá a conhecer a O Portomosense o trabalho realizado desde então – e o trabalho a realizar no futuro.
A atuar nas freguesias de Serro Ventoso e São Bento e na União de Freguesias de Arrimal e Mendiga, como espelha o logótipo da instituição, o CASSAC presta serviço domiciliário desde fevereiro de 2005 e só encerra em três dos 365 dias do ano. O que por si só não espelha todo o conjunto de valências que disponibiliza, da alimentação à lavandaria, não só para os utentes como «para toda a comunidade», passando pela confeção e distribuição de refeições escolares (180 refeições diárias) até chegar aos programas comunitários, de mobilidade, como é o serviço de fisioterapia, ou o projeto Emocionalidade, ao nível da saúde mental. Uma panóplia de recursos que se foram estabelecendo e firmando ao longo dos anos e que espelham a forma de atuar da instituição: «Temos de nos diferenciar na forma como fazemos as coisas, não só nos serviços, mas na forma como os prestamos, acho que é por aí que temos de ir, se nós perdermos a vontade de fazer diferente, as coisas não crescem e não evoluem», reflete Margarida Pires.
E Neuza Morgado concorda: «O que nos distingue de um animal é nós conseguirmos tomar conta uns dos outros». E tudo isto, pese alguma «descentralização » quando se organizam os diferentes eventos, é feito a partir do atual espaço que ocupam na Marinha da Mendiga, paredes-meias com a associação Serra D’Aire – Tempos Livres Cultura e Desporto. Edifício que a presidente diz que «foi sempre encarado como instalações provisórias», «até se conseguir construir a sede», e Margarida Pires, desde 2006 à frente desta “casa”, reitera: «Desde que eu cheguei que já se fala [da nova sede]».
Agora, reunidas «as condições financeiras», o projeto vai finalmente avançar. E para os próximos 20 anos do CASSAC prevê-se então a criação de duas valências há muito ambicionadas, para que os utentes, quando não mais tiverem capacidade de serem apoiados somente ao domicílio, possam continuar com a instituição sem terem que se deslocar «para longe da sua área de residência»: um centro-de-dia e uma Estrutura Residencial para Pessoas Idosas (ERPI).
Nova sede traz centro de dia e ERPI
É logo na Marinha de Baixo que se vai erguer a nova sede, a sensivelmente um quilómetro das atuais instalações, mas compará-las seria «comparar a formiga com o Golias». Para Neuza Morgado, esta «é uma condição essencial para o desenvolvimento de outros tipos de projetos que devido à limitação de espaço não são possíveis». A infraestrutura, revela, estará em princípio pronta dentro de três anos, já que a burocracia ainda pesa nas contas. Está-se agora a finalizar a fase de financiamento antes de iniciar concurso público, pelo que há pelo menos 24 meses pela frente, incluindo o prazo de construção. O valor total ronda os 2 milhões de euros, uma verba avultada e que ainda não tem garantias de financiamento: «Já nos candidatámos ao PARES, não tivemos sucesso, ao PRR, também não tivemos sucesso. As candidaturas até foram aprovadas, no entanto houve sempre falta de cabimentação, ou seja não há verbas suficientes para que o nosso projeto seja financiado, talvez em parte por ainda estar em papel».
Então, decidiram arrancar «com o financiamento direto» e mesmo sem estes apoios comunitários «vai avançar», garante a dirigente. O centro de dia e a ERPI estão já aliás englobados num acordo de cooperação com a Segurança Social, o que não é prematuro, até porque a primeira candidatura a um destes programas data «de 2008 ou 2009». Um sonho antigo perto de se concretizar, mas que também acarreta desafios. «Há a consciência que se nós não formos financiados vai ser extremamente difícil pagar a dívida, é preciso haver uma gestão muito apertada, e também pode ser a diferença entre conseguirmos pôr uma mensalidade mais alta ou uma mensalidade mais acessível à população». É que, segundo Neuza Morgado, «existe um compromisso de cobrar o mínimo valor possível pelo serviço» aos utentes, mas também há custos em manter a “casa” a funcionar.
“Cuidar implica amor”
Dos 47 utentes que apoiam, apenas 33 beneficiam do apoio da Segurança Social. O que acaba por ser inglório para a instituição, que tem de suportar «o hiato» entre os números e que até tem disponibilidade para 55 utentes, embora não seja fácil: «A atividade não visa o lucro, mas as contas são todas muito esmagadas, temos de fazer uma gestão muito parcimoniosa de tudo, é mesmo ao cêntimo», confessa Margarida Pires. O facto de a área onde atuam ser «geograficamente enorme, com zonas muito desertificadas», também não ajuda, com utentes a mais de vinte minutos da atual sede e muitos custos associados, nomeadamente no combustível e com o desgaste das viaturas.
Uma forma de contrariar essa despesa passa pelos diferentes serviços complementares que oferecem e pela realização de várias atividades de angariação de fundos. Exemplo recente é o do “Pão por Deus”, em que o CASSAC vende os tradicionais “bolinhos” desde 2012, a venda de folares, a venda de coscorões, no Natal. Umas «experiências doces de vários pontos de vista», crê a diretora técnica, que fala com visível carinho das pessoas que acompanhou, algumas que já partiram, outras que ainda estão ao cuidado do CASSAC. 236 pessoas até à data, segundo as contas de Margarida Pires. «Todos marcam por uma ou outra razão. Temos histórias com todos e isso é que é gratificante no nosso trabalho, a relação humana, acho que nesta área temos de gostar de trabalhar com pessoas, não é só fazer um serviço, qualquer pessoa faz um serviço. Nós cuidamos, e cuidar implica amor», relata. Já Neuza Morgado fala de «orgulho no que já foi feito, nas pessoas que iniciaram este projeto, por todas as pessoas que já passaram cá ao longo destes 20 anos». E «ao mesmo tempo é um momento de assumir novas responsabilidades com o que se espera para o futuro próximo».