O cepo da palmeira que deu nome ao Centro Comercial em Mira de Aire ainda se mantém em frente ao edifício. Da árvore, atacada por uma doença, pouco resta, e o mesmo se pode dizer da vivacidade daquele espaço. Das 23 lojas, apenas sete se mantêm ocupadas e em funcionamento. Hoje, quem visitar o Centro Comercial Palmeira, construído no início da década de 90, encontra apenas uma frutaria, um café, uma cabeleireira, um agente imobiliário, uma sala de estudos, um atelier de artesanato e uma antiga loja de roupa que funciona agora mais como armazém, praticamente todas exploradas por mirenses ou moradores de Mira de Aire.
David Santiago explora o café há cerca de um mês, sendo o mais recente comerciante. «Queria abrir um espaço entre Fátima e Leiria, e como moro aqui, esta foi uma boa opção», conta a O Portomosense, acrescentando que a escolha do local «foi um acaso». É uma das lojas dianteiras, a par da frutaria. «Se calhar [o negócio] beneficiaria se estivessem mais lojas abertas», afirma, no entanto diz não acreditar que o Centro Comercial «volte a mexer»: «Se houvesse trabalho cá, talvez… De outra forma não acredito». Esta é uma opinião corroborada por alguns dos clientes habituais, presentes no espaço aquando da nossa visita: «Quando [o Centro Comercial] abriu havia algumas fábricas ainda a funcionar, mas quando a parte industrial começou a morrer, Mira de Aire nunca mais teve força».
Para Manuel Ferreira, agente imobiliário e que, antes disso, possuíra outras lojas no edifício, a aposta naquele Centro Comercial «foi um tiro no pé, nunca foi grande coisa», e acrescenta que o Centro «nunca teve muitas lojas abertas». Quanto à justificação para o fracasso, não a encontra: «Não consigo explicar. Fora de mão não está, porque é o único que tem estacionamento na estrada principal, mas nunca teve grande movimento», conta, dando como exceção «as lojas da frente». Tal como David Santiago, Manuel Ferreira não vê grande futuro para o Centro Comercial Palmeira. «Mira de Aire está um bocadinho pobre, por acaso tenho estado a vender os apartamentos [na vila], mas é para pessoal que está a trabalhar fora, em Alcanena, Torres Novas e Fátima. Mira de Aire é praticamente um dormitório», afirma. É também à morte da indústria que atribui a redução do número de pessoas na vila: «Quando vim para Mira de Aire, em 1971, isto era um corrupio de gente, toda a indústria de lanifícios trabalhava, havia centenas e centenas de pessoas a trabalhar nas fábricas… Agora não, não há nada», explica. Apesar disso, escolheu uma loja naquele centro comercial para abrir o seu escritório, porquê? «O escritório pode ser num lado qualquer. Comprei aquela loja em 2006 e tem sido sempre ali que tenho o escritório aberto», refere.
Concorrência terá contribuído
A sala de estudo é um dos dois espaços abertos no andar de baixo. A funcionar há seis anos, recebe crianças e jovens que frequentam entre o 5.º e o 9.º ano e «ali fazem os trabalhos de casa, estudam para os testes, ou seja, preparam a vida escolar», explica-nos a coordenadora. São 14 os alunos que usufruem daquele serviço cuja localização foi escolhida precisamente a pensar nos seus utilizadores: «Quis escolher um sítio que não fosse na estrada principal, as crianças às vezes são distraídas [e há o perigo dos carros]. Aqui vêm da escola, por baixo, e não andam na estrada principal», explica-nos a responsável. Na sua opinião, as lojas «foram fechando porque as pessoas têm sempre o pensamento que o que é de fora é que é bom. À medida que foram abrindo espaços à volta, como o Torres Shopping ou o primeiro Continente em Leiria, as pessoas começaram a sair». A par disso, considera que «quem pensasse em abrir alguma coisa, tinha logo que pagar rendas caras» que demoviam as vontades.
As razões não são unânimes e a opinião geral sobre o Centro Comercial também não, o que é um facto é que, neste momento, está ocupado menos de um terço de todo o espaço e em dois dos casos, a loja de roupa e o atelier de artesanato, as lojas nem estão abertas ao público.
Na próxima edição visitamos o Centro Comercial Jardim, em Porto de Mós, será a realidade mais animadora?