Depois de cerca de 20 anos inativo, está “de volta” o Centro de Cultura e Recreio de Alcaria (CCRA). O regresso oficial deu-se a 20 de agosto de 2021 com a realização de uma assembleia geral da qual saiu a decisão de reativar a associação e onde foram eleitos os novos órgãos sociais. No entanto, devido à pandemia, a sua atividade esteve bastante condicionada até há pouco tempo.
«A Benvida Januário [antiga presidente da União de Freguesias de Alvados e Alcaria] veio desafiar-me para pegarmos no Centro porque já estava desativado há muito e fazia falta, e eu aceitei. Penso que também o fez porque o Quintal Comunitário da aldeia precisava de um “pai”. Desde que foi criado há 11 anos, nunca morreu mas precisava de uma “casa” e ela pensou que associando-o à nova vida desta coletividade isso seria possível», conta Luís Rodrigues, o presidente do CCRA. «Claro que reativar só por causa do Quintal não fazia muito sentido. Todas as terras precisam de entidades que tenham ideias e criem projetos para juntar a comunidade e promover o convívio e é isto que temos procurado fazer, nomeadamente, com a abertura da sede ao domingo», justifica. «Para mim, uma coletividade deve ter a porta aberta aos sócios, mas como estávamos em plena pandemia só o conseguimos, de forma regular, no final de 2022», refere, lamentando que ainda sejam muito poucos os que vão aparecendo. «Abrimos à tarde, acendemos a lareira, temos café e chá, fazemos uns bolinhos para acompanhar e ficamos à espera que as pessoas apareçam. Por vezes temos animação musical e vamos promovendo eventos temáticos como foi agora a prova de chás», conta.
Quintal Comunitário em renovação
A direção dá a cara, mas quando os trabalhos são de maior vulto entra em campo a equipa mais alargada, constituída pelos restantes órgãos sociais. «A Benvida não faz parte mas sempre que é preciso está lá para nos ajudar e temos também outras pessoas dos órgãos sociais a darem-nos uma preciosa ajuda», realça.
A primeira preocupação de Luís Rodrigues e sua equipa foi tratar de todo o processo de legalização do Centro, tarefa que estava incompleta à luz das regras atuais. E sem o reconhecimento oficial não é possível aceder a apoios financeiros, tanto da Junta como da Câmara, que permitiriam que o CCRA levasse a cabo alguns projetos que tem em carteira ou avançasse mais depressa com outros, como é o caso da requalificação dos canteiros do Quintal Comunitário. «Os canteiros foram feitos com madeira mas com o tempo esta começou a degradar-se e, então, agora estamos a substituí-la por blocos de cimento e aproveitamos para reformular um pouco o próprio canteiro. Já refizemos dois que estavam destruídos e a intenção é continuar mas para isso precisamos de dinheiro e o que resulta das quotas e de alguma atividade que organizemos é insuficiente», explica. «Ainda não sei o custo de todos os materiais (a mão-de-obra é nossa), mas acredito que a renovação de cada canteiro fique entre 150 a 200 euros. É um trabalho para se ir fazendo à medida que formos tendo dinheiro», reforça.
Além da estrutura degradada, a água é outro elemento a dar dores de cabeça à direção do CCRA no Quintal Comunitário: agora, no inverno, há água da estrada que está a invadir a zona pedonal e a não ter o devido escoamento no Quintal. Por sua vez, no verão, o problema é a falta do precioso líquido porque a maioria das fontes secam e há água que se perde em roturas. Para ambas, a direção tem pensada solução contando para isso com a colaboração da Junta de Freguesia. No caso da falta de água, poderá passar pela construção ou instalação de «quatro ou cinco depósitos de mil litros para aproveitamento da água das chuvas ou que possam ser reabastecidos de outra forma».
“Um chá e um livro, se faz favor”
Apesar da escassez de fundos, mal de que o movimento associativo em geral sempre se queixa, Luís Rodrigues realça o facto do edifício onde está instalada a sede ser cedido gratuitamente pela Junta e ser também esta que paga a fatura da água e da luz.
De acordo com o dirigente associativo, ideias não faltam para animar o CCRA e a própria terra, mas o problema é sempre o mesmo: sobram ideias, falta quem as ponha em prática. «Pensámos em reativar as caminhadas, mas agora as exigências legais são tantas, que desistimos. Os seguros são muito caros e é precisa muita gente. Se quisermos fazer uma prova de trail levanta-se o mesmo problema», refere, algo desanimado.
Então, quais são os planos para um futuro próximo? «Continuar com atividades emblemáticas, como a Festa das Abóboras, que é sempre um sucesso, e o magusto, sem esquecer encontros temáticos como a prova de chás e workshops sobre os mais variados temas. Estamos também a pensar organizar uma excursão», revela o presidente da coletividade. A par das atividades culturais e de recreio, é intenção continuar os melhoramentos no Quintal Comunitário.
O CCRA está instalado na antiga escola primária da aldeia, edifício que albergava já mais de três mil livros oferecidos por Carlos Silva, um benemérito local, e esse é mais um dos argumentos de Luís Rodrigues para desafiar a população local a visitar a sede do clube: à lareira, entre um dedo de conversa, um chá e um bolo, há também tempo e espaço para escolher um livro e levá-lo para casa para ler. Quantos dos cerca de 90 sócios irão aceitar o convite, só o tempo o dirá.
Foto | Isidro Bento