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Centro de Meios Aéreos de Alcaria entre os mais ativos de Portugal

8 Agosto 2023
Luís Vieira Cruz

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Luís Vieira Cruz

8 Ago, 2023

O Centro de Meios Aéreos de Alcaria (CMA) está este ano dotado de um BELL 412, um helicóptero bimotor apto para combater incêndios em condições meteorológicas mais adversas e que tem, além de uma capacidade superior a 1.000 litros de água no seu balde, lotação suficiente para transportar uma equipa constituída por oito operacionais da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS) da GNR. Este meio aéreo vai passar toda a fase crítica do Dispositivo Especial de Combate aos Incêndios Rurais (DECIR) parqueado em Alcaria e está preparado para levantar voo e intervir em qualquer ocorrência dentro de um raio de 40 quilómetros, distância que congrega as sub-regiões de Leiria, Oeste, Médio Tejo e Lezíria do Tejo. A sua autonomia é de 90 minutos e preveem as normativas do Estado português que os incêndios sejam dominados durante esse período numa chamada fase de ataque inicial. Ultrapassado esse espaço temporal, passa-se à fase seguinte, o ataque ampliado, na qual também pode operar.

O designado H90, de categoria “média”, veio substituir o ligeiro monomotor que até agora tem dado “conta do recado” nesta região.

O 2.º comandante Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil do Comando Sub-Regional da Região de Leiria, Ricardo Costa, e o capitão da UEPS e comandante de Companhia responsável pelos Centros de Meios Aéreos de Alcaria, Pombal, Figueiró dos Vinhos, Pampilhosa da Serra, Lousã e Cernache, João Moderno, acederam ao desafio d’O Portomosense, abriram as portas deste Centro à nossa equipa de reportagem e concederam-nos a oportunidade de acompanhar o quotidiano de todos os operacionais que o integram.

Durante as primeiras horas da manhã, a rotina impera em Alcaria. Piloto, militares e os bombeiros de piquete reúnem-se para um pequeno mas importante briefing, onde são avaliados dados como o risco de incêndio e as condições meteorológicas que poderão encontrar ao longo do dia no desempenho das suas missões. Nesta reunião dá-se particular destaque à intensidade e direção dos ventos e são reforçados os procedimentos de segurança que a equipa helitransportada deve adotar durante toda a sua atuação, seja no ar, seja em terra. De seguida, os guardas descem para a pista, reúnem os seus equipamentos de segurança individual (EPI) e testam os protocolos de entrada e saída da aeronave aquando do embarque e desembarque da mesma.

Nesta unidade todos têm as suas funções bem definidas: o chefe de equipa é responsável por liderar o grupo, delinear estratégias de atuação e estabelecer comunicações diretas com o piloto, com a base, com o respetivo Comando Sub-Regional e com o Comandante das Operações de Socorro (COS) do teatro de operações (TO), ao passo que à restante tripulação são distribuídos equipamentos sapadores, como por exemplo batedores e dorsais com cerca de 20 litros de água que, em conjunto, são utilizados para consolidar o trabalho do piloto após descargas em locais criteriosamente selecionados.

CMA de Alcaria entre os mais requisitados

Em Portugal há vários Centros de Meios Aéreos, mas o de Alcaria, avança o capitão João Moderno, está entre os mais ativos a nível nacional. De acordo com os dados a que O Portomosense teve acesso, este CMA, durante o ano civil de 2022, esteve empenhado em 163 missões helitransportadas. Destas, 135 foram em âmbito de ataque inicial e 28 em ataque ampliado. Mas como nem só pelo ar se apagam ou previnem os incêndios, os militares da UEPS têm também inerentes às suas funções os patrulhamentos terrestres. No mesmo ano percorreram “cá em baixo” mais de 15.400 quilómetros, o resultado de 168 patrulhas pelos terrenos do concelho de Porto de Mós. Destas ações registaram-se 59 patrulhas no âmbito do programa Floresta Segura, nas quais se apontaram 112 sinalizações, 103 incumprimentos e apenas oito cumprimentos voluntários.

GNR adota estratégia de proximidade

«Os militares do CMA de Alcaria efetuam este tipo de patrulhamento terrestre sobretudo nos locais de maior probabilidade de incêndio ou naqueles que já estão previamente identificados por um maior número de ignições nos últimos tempos. O nosso intuito é mapear as zonas mais críticas, dissuadir possíveis atos criminosos e, acima de tudo, estar mais perto da população para que a possamos esclarecer», explicou o capitão, que não deixou passar a oportunidade para lançar um repto aos portomosenses: «Sempre que nos virem, sintam-se à vontade para falar connosco. Seja para tirar dúvidas sobre queimadas ou outros assuntos, seja para nos alertarem de movimentos que considerem suspeitos nas proximidades», apontou.

Pronunciando-se sobre o elevado número de ignições em Portugal, João Moderno explica que o mesmo se deve maioritariamente a comportamentos de risco e negligência, mas não tanto a atividade criminal. No entanto, esclarece que a investigação de incêndios deu passos largos nos últimos anos e que, das 500 ignições diárias (em média) que se registavam entre os anos de 2003 e 2005, as barras das estatísticas têm decaído drasticamente para cerca de 100, número que diz ser aquele para o qual o sistema de proteção português está preparado.

Bem ciente do papel da sociedade civil em matérias de proteção está também o 2.º comandante Sub-Regional, que adverte que grande parte dos alertas para incêndios chegam através de populares: «É importante que a população saiba como nós, as entidades, agimos internamente, uma vez que a maioria dos alertas começa neles, que são um agente fundamental. Nos nossos procedimentos, assim que a chamada “cai” no 112, a informação é transmitida à central de despacho, que faz com que o meio aéreo e todas as viaturas necessárias sejam acionadas. A partir daí, ditam as normas que o Hotel (designação pela qual estes meios de combate a incêndios também são conhecidos) descole num prazo máximo de 10 minutos e que o primeiro meio chegue ao teatro de operações num limite de 20 minutos».

Dispositivo tem-se adaptado

No terreno, meios aéreos e terrestres trabalham sempre em sintonia, o que leva a um esforço conjunto por parte de todas as entidades presentes e para as quais a meta não poderia ser outra: a extinção do incêndio. Neste quesito, Ricardo Costa e João Moderno estão também em sintonia: «o ano de 2017, para sempre relembrado por diversos incêndios catastróficos – à cabeça Pedrógão Grande -, marcou um ponto de viragem no modo como os incêndios florestais são combatidos em Portugal. Estamos mais unidos, mais preparados e o sistema de combate é mais ágil agora», afirmam.

Sobre a mancha florestal da região leiriense, que ficará marcada por aquele fatídico 17 de junho, o responsável pelo CMA não tem dúvidas: «Há naquela zona potencial para um incêndio ainda maior. A velocidade, a perigosidade e a imprevisibilidade dos incêndios aumentou consideravelmente nos últimos anos e a nossa adaptação tem que ser cada vez maior. Há cada vez menos espécies autóctones, a gestão dos terrenos agrícolas e florestais é mais descurada por parte dos seus proprietários, têm-se plantado árvores de crescimento mais rápido e de menor resistência ao fogo (como é o caso dos eucaliptos) e muitas das pessoas que antigamente viviam dos pinhais já nem à lenha vão, portanto os terrenos ficam por limpar e a matéria combustível aumenta». Para contornar este fenómeno, o 2.º comandante Sub-Regional assume que «é preciso que o país leve a cabo uma reestruturação ao nível do ordenamento do território», mas avisa que este processo moroso pode levar cerca de duas décadas, «pelo que até lá temos que ser resilientes e apostar na sensibilização e na prevenção». «As características dos incêndios estão sempre a mudar e nós temos sempre que nos adaptar. Dou como exemplo os norte-americanos, que durante mais de 50 anos mudaram a sua abordagem à forma como combatiam o fogo mas que agora veem-se a braços com novos desafios», referiu.

Sobre novos métodos de combate a incêndios, Moderno vê na tecnologia o futuro: «Os drones são o futuro da vigilância e do combate. A UEPS dispõe de dispositivos equipados com câmeras térmicas que são utilizados para detetar pontos quentes no solo, um processo que nos permite reduzir substancialmente o número de reativações». Além dos drones, a unidade especial da Guarda Nacional Republicana está equipada com um telemóvel adaptado para enviar fotografias em tempo real para um sistema partilhado, tanto com a proteção civil como com o COS, um investimento que considera «útil para gerir da melhor forma as estratégias e os operacionais no terreno».

Comum a ambos os ramos é também o Ciclope, um sistema de videovigilância, desenvolvido por um grupo de investigadores, que monitoriza através das suas câmeras grande parte do nosso território.

Bombeiros garantem segurança e comunicações

Além dos militares da UEPS, os CMA contam ainda com equipas permanentes compostas por soldados da paz. Na sala de comunicações de Alcaria, e com vista privilegiada para o Parque Natural da Serra de Aire e Candeeiros (PNSAC), senta-se todos os dias um Operador de Telecomunicações, responsável por fazer a ligação entre o Comando Sub-Regional de Leiria e esta base. Este serviço tem sido assegurado pelos Bombeiros Voluntários de Porto de Mós. Já na pista, bombeiros de Porto de Mós e Mira de Aire integram o Serviço de Brigadas de Aeródromo, uma equipa formada para garantir segurança e um elevado estado de
prontidão no momento em que o helicóptero descola e aterra.

“Concelho preparado para dar resposta a grandes incêndios”

Para Ricardo Costa e João Moderno, Porto de Mós tem um dos melhores CMA do país, tanto a nível de instalações, como de efetivo operacional. Ao primeiro argumento, atribuem as responsabilidades aos vários executivos que têm liderado o nosso concelho, os quais consideram que «têm tido a visão e a sensibilidade para investir na segurança e na proteção dos seus munícipes ao atribuírem grande relevância a esta infraestrutura. Porto de Mós tem entre as suas particularidades um Parque Natural com uma densa mancha florestal, zonas de muito relevo e inclinação, e falta de acessos em determinadas zonas, mas podemos dizer que o concelho está preparado para dar resposta a grandes incêndios», concluíram em resposta conjunta.

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