O concelho de Leiria tem um novo “comboio”. E este não lança emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, não necessita de uma via de trânsito específica (embora dê jeito) e ainda ajuda os utilizadores a ficarem em forma. Chama-se CicloExpresso e chegou à cidade a 10 de maio, contando para a viagem inaugural com os alunos da Escola Branca, que saíram de casa de bicicleta para “apanhar o comboio” nessa manhã.
Entretanto já decorreu a primeira viagem nos estabelecimentos de ensino da Caranguejeira e o percurso tem-se consolidado desde então: de paragem em paragem até à escola, ou até casa, com «alguma adesão, vários passageiros», explica João Bernardino, representante da Bicicultura, promotora do projeto que se iniciou no Parque das Nações, Lisboa, em 2015, pela mão do próprio, antes de passar a ser uma programa municipal na capital.
Este ano está a estender-se a vários pontos do país, casos de Braga, Loures, Almada e, lá está, Leiria, a quinta cidade “a bordo” do CicloExpresso. Com claros propósitos: «É uma iniciativa que parte essencialmente de uma política de mobilidade sustentável, mas que depois acaba por ter vários objetivos: a autonomização das crianças na sua mobilidade, tirar carros da via, também tem o objetivo de [promoção de] saúde, de exercício físico e de ambiente», explica João Bernardino.
Em Leiria a iniciativa está «a focar-se em três escolas», as duas já citadas e a Escola Amarela, e é em função da localização dos alunos inscritos que é desenhada a linha do “comboio”, que tem inclusive um “maquinista” (formulários para o programa de formação estão disponíveis no site da CicloExpresso «e em Leiria ainda se está a precisar»).
O primeiro “comboio” fora da urbanidade
A Bicicultura ajuda «municípios que queiram implementar este tipo de iniciativa» até que o façam de forma autónoma. Em Leiria, explica João Bernardino, o município quis que essas linhas cobrissem diferentes contextos, um mais urbano, outro mais rural, periurbano». «No caso da Caranguejeira até foi a primeira vez que isto foi feito num ambiente mais rural», confessa.
E tem sido exequível a marcha do “comboio” nesse contexto? João Bernardino admite que também a CicloExpresso estava «na expetativa, como é que ia correr, como ia ser a adesão, mas a experiência foi boa», com 10 passageiros. Nem a geografia os impediu de “entrar na carruagem”: «A Caranguejeira tem bastantes subidas e descidas e mesmo nas próprias cidades também». O que não é um problema. «Primeiro, as crianças têm mais resistência do que aquilo que se imagina; segundo, os percursos são desenhados também configurando isso, ou seja, tentamos desenhar percurso que às vezes não são aqueles que estamos habituados a fazer em automóvel, mas seguem por caminhos que são mais fáceis ou neste caso menos inclinados», explica.
Para João Bernardino, «a experiência rural era algo que estava a faltar e, para já, a primeira indicação é muito positiva». Daí que não tenha dúvidas quando questionado se esta iniciativa seria válida num concelho com uma densidade populacional tão baixa quanto o de Porto de Mós (88,6 hab./km², de acordo com os Censos 2021, versus 150,4 hab./km² na Caranguejeira): «Era excelente trabalhar Porto de Mós no futuro».
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