No final de um ano e início de outro é comum lermos e ouvirmos (as redes sociais vieram acentuar esta realidade) os objetivos que cada um estabelece para cumprir de 1 de janeiro a 31 de dezembro do ano que se inicia. 2024 está aí e trouxe com ele, de novo, isso mesmo. Mas será que este é mesmo um contexto propício para definir novas metas e objetivos?
«As pessoas atribuem significados e construções narrativas à volta da passagem do ano, a virada do ano é vista como um marco temporal, simbólico, no qual as pessoas precisam de sentir pertença, e neste contexto nós percebemos que as pessoas fazem a reflexão das experiências vividas e com base nelas estabelecem outros objetivos, desde o desenvolvimento pessoal, profissional ou familiar», refere a psicóloga Elisabete Ferreira.
No entanto, salienta, «o mais importante nem sempre é construir objetivos, mas sim fazer uma reflexão sobre aquilo que se construiu até ao momento». A psicóloga admite que em consulta é importante esta definição de objetivos, de forma até a que o paciente «possa ir participando ativamente no seu processo e na construção de si ao longo do percurso», mas, para que possam ser cumpridos, a etapa mais importante é «a reflexão profunda». Usando uma metáfora, Elisabete Ferreira reforça: a ideia é que o paciente «suba a montanha não para ser visto, mas para poder ter uma vista do que está à sua volta e dos outros e com base nisso fazer uma leitura sobre si».
Por isto mesmo, a psicóloga diz que não consegue garantir que seja «mais fácil» cumprir os objetivos traçados na passagem do ano. «As pessoas determinam objetivos, com o seu entusiasmo e todas as dopaminas, que nem sempre conseguem concluir porque nem sempre refletiram e utilizaram a metodologia SMART». SMART é um acrónimo para as palavras specific, measurable, achievable, realistic e time based, ou seja, a ideia é criar objetivos «específicos, mensuráveis, alcansáveis, realistas e com prazos definidos». Com esta metodologia, as pessoas evitam «ambiguidades», têm «forma de medir o processo», definem objetivos que conseguem de facto cumprir («não faz qualquer sentido colocar objetivos que não são atingíveis») e tendo um espaço temporal para o cumprir, evitam «angústia, stresse». Ajuda também a «pessoa dividir os objetivos em tarefas menores, criar um plano de ação, definir prioridades conforme o que é necessário à sua vida», sabendo que «não há trajetórias inflexíveis». «Aí estabelecemos hábitos saudáveis, fazer a monitorização do processo, celebrar as conquistas intermédias, e sim, ir buscar apoio, força energética, para estabelecer objetivos e esse apoio pode ser conseguido pelo Natal e Ano Novo em que as pessoas se reúnem com a família e amigos», salienta Elisabete Ferreira.
Embora a ansiedade causada pelos objetivos não atingidos tenha o seu lado mau, a psicóloga reforça ainda outra ideia. «As pessoas acreditam que esta ansiedade e stresse diante do que não se consegue é derrota, mas não, a ansiedade muitas vezes é aquilo que baliza, que mede, a ansiedade é sobretudo pelo futuro e pode trazer um equilíbrio dentro da razoabilidade porque se os níveis de ansiedade estão alterados pode simplesmente querer dizer que é momento de refletir sobre as ideias [e objetivos] que se tem e perceber se são mensuráveis, se são possíveis, o medo leva-nos a tomar, se calhar, decisões mais conscientes», refere. A ansiedade não tem de ser sempre vista «como um inimigo», conclui.