Com Passadas e Pegadas, grupo de caminhadas vai conhecendo freguesia da Calvaria

1 Março 2023

Jéssica Silva

«Faça chuva ou faça sol», todos os domingos, às 9 horas em ponto, o grupo Passadas e Pegadas tem encontro marcado junto ao edifício da Junta de Freguesia da Calvaria de Cima, para dar início a mais uma caminhada pela freguesia. Fazem-no de forma praticamente ininterrupta desde 2018 – só param dois ou três domingos em agosto –, quando se formou o grupo, no seio de um conjunto de pessoas que tinham em comum o gosto pelas caminhadas. Judite Ventura e Sandra Rocha são dois dos elementos que faziam parte desse grupo inicial e explicam que tudo começou informalmente. «No final de uma dessas caminhadas, já cansados, pensámos que se calhar havia mais gente que gostaria de caminhar com companhia», recorda Judite Ventura. Rapidamente perceberam que telefonar a cada uma das pessoas para as convidar não seria exequível e foi então que decidiram que a forma mais fácil de fazer chegar essa informação seria através da Internet. As redes sociais revelaram-se «uma ferramenta-chave na divulgação» das míticas caminhadas de domingo. De quatro ou cinco pessoas, passaram para grupos de «50, 60, 90 ou 100», em alguns casos, com pessoas de «Caldas da Rainha, Tomar, Torres Novas, Pombal e Colmeias» a quererem participar também.

Os que quiserem participar, só precisam de aparecer. É sempre dada uma tolerância de 15 minutos, porque, explicam, como não é necessária inscrição nunca sabem quem vem. «A pessoa pode decidir no próprio dia. Desde que venha por bem, é bem-vinda», afirma Sandra Rocha. À chegada de novos membros, o grupo tenta perceber de onde vêm e se estão acostumados a caminhar, o que poderá influenciar o percurso a fazer. «No caso de não estarem, adaptamos e fazemos um percurso de menor distância», explica Sandra, acrescentando que as caminhadas podem variar entre os sete e os 12 quilómetros. «O objetivo é tornar o grupo mais inclusivo», realça Judite Ventura. Uma coisa é certa, independentemente da capacidade física de cada um, ninguém fica para trás, esse é o lema: «O objetivo das nossas caminhadas não é ganhar taças nem chegar em primeiro», esclarece.

Às 9h15 arrancam para a rota «previamente definida» mas que também pode ser definida na hora ou alterada consoante as preferências de cada um: «Se vierem pessoas de fora, querem fazer a Rota das Lagoas. É o ex-libris da Calvaria», garante. Mas não se importam, a caminhada nunca é a mesma, há sempre novos trilhos a explorar. Entre as 9h30 e as 11h30, o tempo que duram, em média, as caminhadas, há sempre uma pessoa de prevenção, caso alguém se sinta mal. As caminhadas são feitas maioritariamente na freguesia, contudo o grupo já tem ido caminhar para outros locais, é o caso da Amazónia, na Maceira, da Fórnea, e mais recentemente Fátima, onde fizeram uma parte da Rota dos Pastorinhos.

grupo passadas e pegadas | Jornal O Portomosense

A defesa de causas

Se numa fase inicial, o Passadas e Pegadas foi criado quase por acaso, rapidamente a visão sobre o papel e a função do grupo mudou. Depois de verem o alcance que as caminhadas tinham e com a participação de cada vez mais gente nova, o objetivo passou a ser «divulgar a terra e os seus recantos por intermédio de fotografias». Aproveitando também a visibilidade que já têm no Facebook e no Instagram (onde têm 631 e 146 seguidores, respetivamente), o grupo foi mais além e tem utilizado estas redes sociais para «chamar a atenção para diversas causas solidárias e ambientais». A cada domingo, muitos fazem-se acompanhar pelos seus animais de quatro patas o que, no entender de Judite Ventura, acaba por passar uma mensagem de «sensibilização para bem-tratar e respeitar» os animais, não só os que levam consigo como aqueles que possam encontrar pelo caminho. O nome do grupo está relacionado precisamente com isso: «São as passadas dos humanos e as pegadas dos animais», explica.

No que diz respeito à solidariedade, o grupo tem-se associado a várias iniciativas, como foi o caso da caminhada que fizeram no ano passado, a que se seguiu um almoço no qual conseguiram angariar 1 175 euros para ajudar António Gabriel, o menino do Alqueidão da Serra que tem uma doença rara. Este é um apoio contínuo, uma vez que o grupo continua a aceitar a recolha de tampas e caricas para doar aos pais do menino. O grupo tem-se também juntado à Associação da Carlotazinha – Apoio ao Doente e à Família e para este ano já estão agendadas três caminhadas na freguesia. Em abril, o grupo Passadas e Pegadas irá ajudar a Casa do Povo com a organização da Caminhada da Primavera e irá voltar a fazer uma caminhada para sensibilizar para a Síndrome de Angelman. Também este ano, o grupo foi chamado pelos festeiros da Calvaria de Cima para organizar a tradicional caminhada anual. Indiretamente, com a sua atividade semanal, o grupo tem conseguido também ajudar o comércio local: «Muita gente diz que vem à Calvaria comprar o pão porque adoram e que a cerveja ali tem outro sabor», refere Sandra Rocha, acrescentando a título de exemplo que, no dia 5, encaminharam as pessoas para o Mercadinho da Casa, que estava a decorrer na Casa do Povo, onde havia sopa e bifana. Resultado? Foram lá almoçar 45 pessoas. «Este é o nosso espírito: trabalhar em conjunto, uns com os outros. Passito a passito temos deixado a nossa pegada», considera.

Com a ajuda das caminhadas, o «núcleo duro», como chamam ao grupo de oito ou nove caminheiros que cumpre religiosamente a tradição de caminhar semanalmente, é hoje «um grupo de amigos que não era inicialmente». «Fomos formando essa amizade. Acaba por ser um ponto de encontro semanal, no qual se conversa, se procura por novidades e cusquices. Durante a semana cada um vai à sua vida, praticamente não nos vemos», afirma Judite Ventura. Tal como começa, cada caminhada termina sempre da mesma forma, com um pequeno convívio no café da freguesia. Uns bebem uma mini, outros optam pelo, café mas o objetivo é comum a todos: descomprimir e ganhar energias para mais uma semana.

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