Início » Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril apresentadas

Comemorações dos 50 anos do 25 de Abril apresentadas

19 Janeiro 2023
Catarina Correia Martins

Texto

Partilhar

Catarina Correia Martins

19 Jan, 2023

A Central das Artes, na vila de Porto de Mós, acolheu, no passado dia 9, uma conferência de imprensa para a apresentação do programa das Comemorações dos 50 Anos do 25 de Abril. Na sessão, o historiador portomosense Kevin Soares, membro da Comissão Executiva das comemorações, explicou que o projeto pensado para as celebrações no nosso concelho é subordinado ao tema Porto de Mós e a Revolução de Abril: Liberdade(s), Democracia e Participação.

Começando por referir que o trabalho que pretende assinalar esta data já iniciou, lembrou que, no ano passado, foi seguida uma lógica «de baixo para cima»: «Aproximámo-nos da população e procurámos recolher objetos, fotografias e histórias que a comunidade local quisesse partilhar connosco», recordou. É este primeiro trabalho que vai dar, no presente ano, origem ao lançamento de «um catálogo» com «46 objetos, 167 documentos e 128 relatos em discurso direto». «A maioria destes discursos diz respeito a temas muito variados, relacionados com a Revolução de Abril e com o tempo da ditadura em Porto de Mós», revela. A obra vai contar com o prefácio escrito pelo militar reformado, José Conteiro, e posfácio de Maria José Lobo Antunes, «grande historiadora emergente sobre temas da guerra colonial».

Esta é apenas uma das atividades que leva a cabo o objetivo traçado para este ano: «Destacar as formas como a ditadura se tornava presente e procurar estudar ou observar alguns dos instrumentos repressivos», referiu Kevin Soares. Assim, para este ano, está pensado um «ciclo de conferências que permita ao público local, regional e nacional debater com alguns dos mais distintos historiadores e pensadores nacionais, temas fundamentais relacionados com a ditadura e a revolução». As conferências vão acontecer nas sextas-feiras a seguir ao dia 25 de cada mês, entre janeiro e novembro, na Central das Artes, tendo já confirmados nomes como José Pacheco Pereira, Fernando Rosas, Irene Pimentel, António Costa Pinto, Maria Inácia Rezola, Paulo Portas e Gouveia e Melo. «Ao longo destas sessões, o objetivo é, além de ouvir de quem mais sabe sobre estes temas, termos a oportunidade de dialogar diretamente com estas pessoas», acrescentou.

No decorrer deste ano, voltam também as «sessões de partilha de memórias em algumas Juntas de Freguesia». Também as sessões nas escolas primárias do concelho, que foram lançadas no ano passado e que colocavam os mais pequenos em contacto mais direto com a história local e nacional, vão regressar, adianta ainda Kevin Soares.

O vereador da Cultura e vice-presidente da Câmara Municipal, que assume ainda a presidência da Comissão Executiva, Eduardo Amaral, deu também conta de que, no âmbito das atividades culturais concelhias, há a destacar «um projeto em conjunto com a nossa banda centenária [Banda Recreativa Portomosense]», com a qual será marcado «um grande espetáculo». Além disso, também o festival Teatro de Rua terá a Revolução dos Cravos como tema.

O ano do cinquentenário

Ainda no âmbito do projeto das comemorações, Kevin Soares deu um lamiré sobre o que se pretende fazer no próximo ano, aquele em que, efetivamente, se assinalam os 50 anos sobre o 25 de Abril de 1974. De acordo com o historiador, está a ser organizado «um conjunto de mesas redondas, que procurarão refletir sobre grandes temas e grandes desafios que a democracia enfrenta em Portugal, atualmente». «Esta iniciativa deverá contar com a participação de vários membros da Comissão de Honra», adiantou. No próximo ano serão também organizadas exposições com «parte dos objetos recolhidos» no ano passado, que serão levadas «às comunidades escolares». «O objetivo é que estas exposições dialoguem com as três escolas secundárias do concelho para chegarmos a um público onde ainda não chegámos», esclarece o historiador. Em 2024 prevê-se também a «publicação de uma obra final, que conta com três dossiês temáticos, subordinados a áreas disciplinares distintas: história; arquitetura e história de arte; e relações internacionais e economia», frisou também. Eduardo Amaral deu uma achega, acrescentando que está ainda «em processo de consolidação» uma ideia que junta o Leirena e o Regimento de Artilharia n.º 4 num projeto «relacionado com as rádios locais e o movimento que tiveram no 25 de Abril» para fazer, depois, «uma representação pública».

A terminar a sua intervenção, Kevin Soares frisou que as atividades propostas pelo Município «não excluem nem substituem outras que a sociedade civil decida organizar» e disse-se «confiante» de que este programa «interpela todos a participar e pode ser o momento de estimular o diálogo aberto e a reflexão esclarecida sobre aquilo que são os desafios da contemporaneidade, de forma a construir um futuro, certamente melhor e mais próspero».

«Tenho dito que o 25 de Abril não é de ninguém, é de todos», as palavras são do presidente da Câmara, Jorge Vala, que frisou a importância de comemorar este marco histórico. «Se nos lembrarmos, quem tinha 15, 16, 17 ou 18 anos na altura do 25 de Abril, hoje está reformado ou à beira da reforma, portanto hoje temos que escrever a História», salientou, apontando ainda «a tendência muito grande para apagar». «Temos que ensinar os nossos jovens que o caminho é este, que podem utilizar a palavra liberdade e a palavra democracia porque alguém, há 50 anos, decidiu arriscar a vida até, em defesa de um novo regime», sublinhou. O autarca disse ainda que «escrever aquilo que foi a história» faz parte da obrigação dos «responsáveis políticos locais e até nacionais», lembrando que ainda é possível escrevê-la «na primeira pessoa».

A finalizar, Jorge Vala afirmou que «Porto de Mós merece que o 25 de Abril seja recordado efetivamente como ele aconteceu aqui e na nossa região e, seguramente, com o contributo de todos, vamos fazer acontecer algo de extraordinário para o nosso concelho».

Luís Amado é o orador da primeira conferência

As conferências mensais arrancam já na próxima semana, estando agendada para dia 27 a primeira, que tem como orador o presidente da Comissão de Honra, o portomosense Luís Amado, economista e ex-ministro. A sessão será subordinada ao tema O 25 de Abril 50 anos depois. A democracia do mundo em guerra. Na apresentação das comemorações, Luís Amado disse que terá, na próxima semana, «oportunidade de partilhar algumas ideias não apenas sobre o impacto do 25 de Abril no pensamento democrático universal, mas sobretudo à luz do que é a realidade da democracia hoje no mundo». O portomosense frisou que «o 25 de Abril foi um exemplo»: «A forma como os militares de Abril geriram a conflitualidade interna inerente a um processo revolucionário e, depois, como [o país] souber gerir a transição e a adaptação do poder militar ao poder civil, é um exemplo para todo o mundo», salientou, acrescentando ainda que «continua a ser um exemplo para nós, que ainda conseguimos evitar – vamos ver até quando – a polarização, a radicalização a desconexão das estruturas cruciais que caracterizam a nossa nação».

Fotos | Catarina Correia Martins

Assinaturas

Torne-se assinante do jornal da sua terra por apenas: Portugal 19€, Europa 34€, Resto do Mundo 39€

Primeira Página

Publicidade

Este espaço pode ser seu.
Publicidade 300px*600px
Half-Page

Em Destaque