Filomena Carreira é professora do 1º Ciclo no concelho e como muitos professores em todo o país foi uma das que, na sequência da pandemia, teve de “arregaçar as mangas” para dar aulas de uma forma completamente diferente daquilo a que estava habituada: através de um ecrã. «As diferenças entre aulas online e presenciais são abismais», garante. Apesar de nem tudo ser mau nas aulas virtuais, no entender da professora, os alunos saem muito beneficiados do contacto presencial que a sala de aula permite. Mas vamos primeiro aos (poucos) aspetos positivos da “escola em casa”: «Obrigou-me aos 60 anos a entrar no mundo da tecnologia. Aprendi enquanto profissional a desenrascar-me e descobri que ainda há muita coisa que não sei e continuo a querer aprender», refere. «Outra coisa interessante foi que fomos obrigados a trabalhar em equipas pedagógicas e eu sempre adorei trabalhar em conjunto. Programávamos a semana, foi uma mais-valia e ficámos com um repositório de materiais muito bom», frisa.
De positivo Filomena Carreira só conseguiu mesmo apontar estes dois aspetos. «Em relação às crianças foi muito difícil e também para os pais que achavam que eram muitas plataformas diferentes, estavam super aflitos. Depois tivemos pais e alunos extremamente empenhados e outros nem tanto», recorda. É verdade que os pais começaram a acompanhar mais os filhos na escola, o que poderia ser positivo, mas que os levou à exaustão. «Estavam desejosos que os filhos voltassem à escola porque estava a ser demais», lembra a professora.
Não é fácil ensinar a pesar ou a medir em aulas online
A docente afirma que «uma semana de trabalho presencial valia quase um mês de trabalho online» em termos de aprendizagem: «Acho que não estou a exagerar. Pelo menos para os miúdos com mais dificuldade, era mesmo difícil. Eu pedia aos pais que me dessem feedback sobre a matéria na qual os filhos sentiam que não estavam tão bem, mas era complicado chegar lá». Filomena Carreira dá alguns exemplos de aprendizagens em que o contacto era fundamental. «Ensinar as crianças a pesar, a medir os comprimentos é muito difícil através de um ecrã. São precisos pauzinhos, fitas métricas. Os alunos precisam dessa parte de agarrar, sentir, ouvir», salienta.
A falta de rotina era outra das problemáticas e que teve de ser bem gerida. «As crianças precisam de rotina e ao início foi complicado. Alguns saíam, via-os aos saltos no sofá, iam de pijama para a aula. Eu enviei um e-mail a dizer que tínhamos de encarar a chamada como uma sala de aula virtual, que queria tudo arranjadinho e com pequeno almoço tomado para entrar às 9 horas em ponto. A primeira coisa que fazia era a chamada e quem chegasse atrasado tinha que justificar», explica. Estas regras ajudavam a que os alunos percebessem «que «estavam a ter aulas, iam ser avaliados, algo que foi difícil que eles captassem».
Socialização das crianças foi também penalizada
A socialização com os colegas ficou também para segundo plano. A professora considera de «extrema importância» este contacto e por isso tentou arranjar formas de atenuar esta distância. «No primeiro confinamento criei salas virtuais onde no final da aula [à sexta-feira, quando o horário era compatível] os miúdos podiam ficar 10 minutos a conversar com os amigos que quisessem. Eles saberem que a seguir iam ter um encontro com os amigos era espetacular», frisa. Durante este processo, a professora deu aulas ao terceiro ano, mas não tem dúvidas que os alunos mais afetados foram os do primeiro e segundo ano, porque ainda estavam a começar «a aprender as bases». «Duvido que consigam recuperar. Aqueles que foram muito bem acompanhados, quiçá isso aconteça. Agora os que não foram, vão ficar sempre “mancos”. Ou são crianças extremamente inteligentes e superam ou se tiverem mais dificuldade vai ser difícil», refere. A professora diz até que este ano, quando se iniciar um novo ano-letivo, a sua aposta, para a turma do 4.º ano, é mesmo sistematizar a matéria: «Trabalhar muito a ortografia e o cálculo mental para irem minimamente preparados para o 5.º ano».