Porto de Mós: Tempo, Espaço e Memória que deu o mote a um ciclo de conferências históricas que, em 2019, trouxe a Porto de Mós, 13 académicos e estudiosos de diferentes áreas, com conhecimento produzido sobre o concelho, é agora título de um livro que reúne os textos das comunicações aí apresentadas. Sete dos 13 especialistas aceitaram o desafio de cederem as suas comunicações para publicação e foi essa compilação de quase 200 páginas que, a 5 de novembro último, foi alvo de apresentação pública na Central das Artes, em Porto de Mós.
A apresentação da obra coube ao presidente do Centro do Património da Estremadura (CEPAE), Adélio Amaro, que, depois de passar em revista os sete textos, disse que, com este livro, «continuamos a fazer história da História». O responsável elogiou a qualidade do trabalho e deu os parabéns ao jovem historiador portomosense, Kevin Carreira Soares, o grande impulsionador do ciclo de conferências, por esta iniciativa, extensivos ao Município, a entidade promotora, e aos académicos e investigadores participantes.
Kevin Carreira Soares, por sua vez, explicou que este ciclo surgiu numa altura em que o concelho vivia «um ambiente de renovação do espaço patrimonial» e, após duas décadas, em que «investigações sólidas» em diversos campos «fizeram avançar conhecimento». Havia, portanto, matéria para partilhar com o público e, ao mesmo tempo, interessava juntar os académicos. Assim, «fazia sentido reunir uma parte do melhor que se produz no meio académico e trazê-lo a Porto de Mós».
O livro foi pensado «num contexto historiográfico», portanto pode ser «um pouco árido» para um público leigo, reconheceu, mas mesmo assim «vale a pena lê-lo». «É um livro bonito embora não seja de grande aparato e a razão para isso é simples: Se fizermos o trabalho que nos compete, se a história de Porto de Mós não ficar congelada, daqui a 20 anos estes textos estarão desatualizados e é isso que queremos. Este livro não é para estar na estante, mas para ter a lombada cansada», vincou, acrescentando que «é a obra mais académica que já saiu sobre Porto de Mós, nos últimos tempos».
O jovem investigador defende que «a Academia tem de encontrar formas de o conhecimento chegar aos cidadãos» e, para este projeto, encontrou na Rádio Dom Fuas e em O Portomosense os parceiros certos: «Todos os conferencistas foram entrevistados na rádio sobre o tema que iriam apresentar e um resumo de cada uma dessas entrevistas foi publicado no jornal». «Hoje, quando alguém me pergunta como pode saber mais sobre o castelo, recomendo-lhe a entrevista que juntou os três grandes especialistas mundiais nesta matéria», exemplificou.
Ciclo de conferências premiado pela academia
Os contornos pouco comuns do projeto com o envolvimento de parceiros locais valeram-lhe o prémio em Extensão em Ciências Sociais, do Instituto de Ciências Sociais, da Universidade de Lisboa, o que levou o historiador a confessar que gostou de ver Porto de Mós «associado àquilo que é a melhor ciência que se faz no país» e que «isto é a prova de que aquilo que fazemos aqui pode gerar valor, ser reconhecido lá fora e ser um capital para promover o concelho». Numa altura em que quem recebe apoios públicos «é fortemente incentivado a nunca publicar em português e jamais em Portugal» e a não participar em projetos de âmbito mais local, a forma que Kevin Carreira Soares encontra de captar a atenção dos investigadores será o de «associar Porto de Mós àquilo que de melhor acontece a nível internacional e no mundo historiográfico e, para isso, é necessário criar atividades de elevado valor de forma a que as pessoas quando recebem um convite saibam que vão a um concelho onde as atividades geram valor e têm consequências», defendeu.
“Precisamos de uma obra sobre o castelo”
A terminar a intervenção deixou desafios e sugeriu caminhos de investigação. O primeiro passa pela organização regular de jornadas históricas, que juntem «aqueles que entram na academia e precisam de aprender e têm gosto em participar, os que já têm algum trabalho feito e os que contam com carreiras sólidas a este nível». «Seria bom pôr gente da terra a trabalhar assuntos da terra», considerou. O segundo, para a Câmara e para Alexandra Barradas, que apresentou como «a grande especialista do Castelo de Porto de Mós». «Nós precisamos de uma obra sobre o castelo», disse, mostrando-se convicto de que é a pessoa certa para a produzir. «Não sei se a Alexandra aceitaria, se o executivo estaria interessado, mas espero dentro de dois anos estar no seu lançamento», sublinhou.
O terceiro desafio foi o de que o concelho saiba aproveitar e valorizar o trabalho de José Manuel Brandão sobre a antiga central termoelétrica, «a pessoa que nos últimos 50 anos foi responsável pela renovação historiográfica mais importante de Porto de Mós». Pegando nos trabalhos e nas propostas de outros conferencistas, sugeriu que se faça alguma investigação, «a partir de Porto de Mós, mas com abrangência regional», que se aprofunde a história do escutismo no concelho e que se encontre um espaço museológico de qualidade «onde os portomosenses possam saber a sua história».
Antes da mesa redonda, em que intervieram os autores presentes, o presidente da Câmara, Jorge Vala, expressou a Kevin Carreira Soares «a enorme gratidão do Município pelo trabalho que tem sido desenvolvido de forma voluntária, abnegada e muitas vezes condicionando a sua disponibilidade profissional e académica, entregando-a a bem do património e do conhecimento de Porto de Mós», mostrando-se igualmente grato, «enquanto portomosense e presidente da Câmara», por tudo o que fez no âmbito do ciclo de conferências, nomeadamente, pela capacidade demonstrada em trazer «aqueles que melhor e mais têm estudado o concelho de Porto de Mós». Relativamente às considerações feitas e aos desafios lançados, o autarca disse concordar em absoluto e mostrou-se de braços abertos para os acolher.
Fotos | Isidro Bento