De um universo de 3 525 alunos, 557 são estrangeiros. É esta a realidade atual vivida no concelho de Porto de Mós, com escolas onde a multiculturalidade impera. Um retrato feito pelo presidente da Câmara, Jorge Vala, no passado dia 7, durante a Receção ao Professor, na qual deu a conhecer que «estão inscritos no Agrupamento de Escolas de Porto de Mós (AEPMOS) e no Instituto Educativo do Juncal (IEJ) 557 alunos estrangeiros de 25 nacionalidades».
Num discurso de mais de 20 minutos, no qual começou por enaltecer a importância daquele momento que descreveu como «solene» e «relevante», o autarca fez uma viagem no tempo até 2018, ano em que se realizou esta iniciativa pela primeira vez. «Nessa altura, todos os anos perdíamos alunos para os concelhos vizinhos e confesso que me atormentava o facto de os executivos que nos antecederam apoiarem nos transportes esses alunos para irem estudar para outros concelhos, apoiarem essa perda de futuro», referiu, fazendo uma comparação com os últimos anos, em que, segundo garante, se tem verificado o oposto. «Com alteração de alguma regras e também com o contributo dos docentes, fomos invertendo esta tendência e é com orgulho que hoje volto a afirmar que nos últimos anos temos ganho futuro», disse. «Ganhar futuro é ter a frequentar as escolas do nosso concelho, a quase totalidade dos jovens que cá residem, um crescimento efetivo superior a 15% desde o ano letivo 2021-2022, com aumentos superiores a 100 alunos/ano que significa iniciarmos este ano letivo com 3 525 alunos (mais 420 alunos do que ano letivo 2021-2022)», revelou, acrescentando aquela que considera ser “a fórmula” para o sucesso no ensino: «Não basta termos os melhores professores, é também necessário que estejamos todos do mesmo lado».
Embora se mostre satisfeito com o aumento do número de alunos, Jorge Vala está ciente de que esta realidade representa um «enorme desafio à comunidade escolar», sobretudo aos professores, «pela multiculturalidade decorrente do aumento de jovens migrantes com filhos em idade escolar e complementarmente a dificuldade da sua integração social e cultural, tantas vezes dificultada pelas barreiras linguísticas». Ainda assim, defende que é «fundamental» que, tal como outros, também o «desafio das escolas cheias» seja «superado com sucesso». Para isso, anunciou, o Município aderiu ao FAMI 2030 (Fundo para o Asilo, a Migração e a Integração), «um projeto intermunicipal que tem como objetivo a integração social, cultural e económica dos migrantes legais que residem na nossa região» e nesse sentido está já a «desenvolver o Plano Municipal para Integração de Migrantes com vista à recolha de indicadores para a melhoria de acesso a serviços essenciais».
Por outro lado, o autarca deu a conhecer alguns dos números em redor da Educação. «Falamos, no caso da Educação de forma direta, num investimento anual superior a 1,5 milhões de euros, ao qual acrescem 3,7 milhões de euros para recursos humanos», disse, ressalvando que, destes, «800 mil euros são suportados pelo Município». Um investimento que, lembra, «excede em muito os rácios definidos pelo Ministério da Educação» mas que, ainda assim, recorda, não inclui «as requalificações e manutenções anuais dos edifícios escolares».
Durante a ocasião, Jorge Vala aproveitou para fazer o “ponto de situação” da requalificação e ampliação da Escola Secundária de Porto de Mós. Um projeto, cujo contrato, «já está assinado com o consórcio que irá concretizar nos próximos 20 meses a obra». «Se tudo correr como esperado as obras terão o seu início já no mês de outubro», anunciou, antecipando que «os próximos tempos não vão ser nada fáceis».
“Precisamos que a escola aceite toda esta diversidade”
Numa sessão de boas-vindas que incluiu uma ação de curta formação cujo o tema era precisamente Alunos migrantes: Das orientações nacionais às realidades regionais e locais, o diretor do AEPMOS, Pedro Gil Vala, traçou aquele que é o cenário vivido no Agrupamento do qual é responsável, onde assume se está «perante um fenómeno que tem origem no elevado número de famílias que escolhem o concelho para se estabelecerem». «O AEPMOS tem crescido paulatinamente e este ano não é exceção. Principalmente, em números, em diversidade com alunos de mais de 20 nacionalidades, e a crescer em complexidade e problemáticas que exigem respostas robustas e eficazes», defendeu. Apesar de se mostrar feliz com este crescimento, Pedro Gil Vala é comedido no entusiasmo porque reconhece que esta é uma «grande responsabilidade para todos». «Este é um dos grandes desafios que temos enfrentado com reconhecida eficácia. Temo-lo conseguido, em conjunto, com espírito de entreajuda, de colaboração, convocando a nossa melhor versão, um esforço, por vezes, feito de boa vontade mas essencialmente de capacitação que se tem traduzido em resultados de elevada qualidade», garante, assumindo ser com este espírito que o APEMOS irá «continuar a dar resposta aos desafios que já se afiguram no horizonte».
Por sua vez, a diretora pedagógica do IEJ, Tânia Galeão, lembrou que a integração de alunos migrantes é um dos desafios que marca o arranque deste novo ano letivo: «Mais do que nunca, precisamos que a escola aceite toda esta diversidade e celebre, valorize, como sendo uma força essencial para o desenvolvimento das realidades do dia a dia de uma escola». Tânia Galeão frisou que a inclusão «é um dos pilares da missão educativa» do IEJ, mas esclareceu que «não se trata apenas de garantirmos que todos os alunos têm acesso a uma oportunidade de aprendizagem mas criar um espaço em que cada criança e cada jovem se sente valorizado e é aceite tal como ele é». Por fim, recordou o impacto e a influência que os professores podem ter na vida de cada estudante: «Quando somos positivos e inspiradores, motivamos também os alunos a serem agentes dessa mudança positiva na família, na vida, na sociedade. Lembremo-nos de que somos modelos a seguir, não apenas no que ensinamos mas também na forma como vivemos os nossos valores».
Foto | Jéssica Silva